sexta-feira, 30 de julho de 2010

Série Brasiliana Digitalizada

A Série Brasiliana, que temos destacado em nosso blog, na parte inferior da coluna direita, está sendo digitalizada e encontra-se disponível para consulta no Portal "Brasiliana Eletrônica".
Trata-se de um trabalho em conjunto envolvendo a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Ministério da Educação (MEC), através da Secretaria de Ensino a Distância, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e a Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB). Em sua primeira etapa, logrou-se disponibilizar na rede os textos completos de 20 obras selecionadas entre as 415 que compõem a antológica coleção. No início deste segundo semestre de 2010, o número de obras disponibilizadas já chega a 70. São livros que podem ser acessados na íntegra de maneira fácil e didática.
No portal, é possível realizar buscas no conteúdo através de palavras-chave e visualizar a segmentação da coleção, segundo áreas do conhecimento. A seção de história é a que possui mais títulos, um total de 23 obras. Segundo os organizadores, a idéia é que o portal se constitua "numa poderosa ferramenta de difusão e democratização de conhecimentos sobre o Brasil, fazendo chegar a amplas camadas da população um portentoso volume de informação e reflexão, até aqui restrito às paredes das bibliotecas."
Para acessar o Portal e conferir as obras: http://www.brasiliana.com.br/brasiliana/

Fonte da informação: http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/arquivo-cafe-historia-uma-1. (Acessado em 30/07/2010).

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Fazenda Conceição - Guaratinguetá-SP

A fazenda de café foi símbolo de grandeza, riqueza e decadência na economia rural brasileira. Ela expressou, guardadas as devidas proporções, o sentido social, econômico e político do período áureo do café na região do Vale do Paraíba e fluminense. O entendimento de sua dinâmica ainda tem muito para ser estudada e a micro história pode contribuir muito ao conhecer os aspectos primários de cada uma das unidades agrícolas de determinada região ou cidade.
Em Guaratinguetá, onde o café teve uma expressão muito forte, embora não tenha sido a principal produtora, diversas fazendas surgiram e tomaram corpo a partir da segunda metade do século XIX, a exemplo do bairro dos Motas onde a invasão daquele foi mais intensa, segundo constatou Lucila Herrmann. Neste formaram-se diversos núcleos de plantio da rubiácea, distribuídos em pequenos e médios sítios e, também, em fazendas de pequeno e médio porte, originados principalmente dos inúmeros desdobramentos das sesmarias concedidas no século XVIII e das várias e posteriores aquisições e anexações realizadas por herdeiros ou potenciais compradores e investidores oriundos de outras áreas do município.
A fazenda denominada Conceição foi uma dessas unidades produtoras localizada naquele bairro, nas encostas da Serra do Quebra Cangalha, no lugar denominado Bonfim, hoje município de Aparecida.
A sua origem remonta ao século XVIII, no que se refere à posse e utilização para fins de exploração agrícola comercial, período em que a documentação permitiu a identificação da área onde está localizada1. Foi ela parte integrante de uma sesmaria concedida em 1765 ao Sargento-Mór Luiz Dias de Almeida, que a solicitou por requerimento, justificando ser necessário estabelecer com sua família, escravos e animais nas terras por ele adquirida no districto da Villa de Guaratinguetá, na parte superior do ribeirão, acima da ponte da Villa em a paragem chamada cachoeira do Matto Dentro, compradas a Miguel de Góes, João Siqueira, Salvador Duarte, Rita Paes e Manuel Rodrigues da Fonseca, confrontando para a parte do norte com terras de Thomaz Pereira e para a do sul constesta na serra chamada o Quebra Cangalhas, para o poente com terras de Mathias Pires e para o Nascente com terras de Miguel de Góes (Livro 17, Fls. 33v.)2 Foi conhecida como “Sesmaria do Patrimônio”3, com légua e meia de terras de testada e o sertão que lhe pertencesse4.
O Sargento-mór Luiz Dias de Almeida, seguindo o estabelecido nas normas de concessão de Sesmaria5, efetuou a demarcação de suas terras em 1767, e ali estabeleceu um sítio em que cultivava arroz, milho e feijão (subsistência) e também a cana de açúcar6. Era ele natural de São João Del Rey, filho do Sargento-mór Pedro de Almeida de Oliveira e de Maria da Conceição e casado com Luzia da Palma de Jesus, filha do Capitão Pedro Rebouças da Palma e de sua mulher Maria do Rêgo Barbosa7. Em 1793, com sua morte, a sesmaria sofreu a primeira fragmentação, na partilha realizada entre a viúva e os filhos, e daí por diante, com a tendência de formação de pequenas propriedades, outras partes foram vendidas para alguns moradores da região e de outros bairros da Vila de Guaratinguetá, no decorrer do século XIX.
Na primeira metade do século XIX, as terras da sesmaria já estavam transformadas em pequenas e médias propriedades agrícolas8, e em 18569, a Fazenda da Conceição era parte integrante das antigas Fazendas Santa Cecília e Sertão, de propriedade de José Simões da Cunha e de sua mulher Dona Lúcia Francisca de Assis; casados em 1830 em Guaratinguetá. Ele natural de Paratí, filho de pai homônimo e de Maria Tereza do Nascimento; ela, natural de Mariana – MG, filha de Lúcio José Monteiro de Noronha (membro da Guarda de Honra do Príncipe Dom Pedro) e de Ana Felícia dos Prazeres, mineiros migrados para a região no começo do século oriundos de Itajubá10. Na propriedade o café era largamente produzido e por esta época o Bairro dos Motas tornou-se a principal localidade da Vila de Guaratinguetá em termos de produção agrícola e em transações imobiliárias, chegando mesmo a formar um pequeno núcleo de vida social instalado no local hoje denominado Bonfim, com igreja11 e pequeno comércio ao seu redor.
Em 07.05.1877, por escritura pública de partilha, José Simões da Cunha fez divisão amigável das terras com seus filhos (Livro de Notas, nº 28, Fls. 129): Capitão Joaquim Simões da Cunha, c.c. Gabriela Diniz Junqueira Simões (moradores na Vila de Areias); Maria Madalena Simões Bitencourt, c.c. José Severino de França Bitencourt (donos de terras no Bairro dos Motas, oriundas também da “Sesmaria do Patrimônio”); Antônio José Simões da Cunha e Benjamim José Simões da Cunha, c.c. Cecília de Andrade Junqueira Simões12. A cada um coube uma parte das terras assim distribuídas: a Joaquim Simões, no valor de 17:000$000; a Antônio Simões, no valor de 18:000$000; a José Severino de França Bitencourt, no valor de 11:900$000; a Benjamin José Simões da Cunha, no valor de 33:100$000, totalizando o preço de 80:000$000 (oitenta contos de réis) que representava o valor total da fazenda. Nesse período a fazenda tinha casas de vivenda, senzala, paióis para estocagem do café e terreiros de secagem.
Em seguida, um dia após a escritura de partilha, os mesmos herdeiros resolveram entre si venderem suas respectivas partes ao herdeiro Benjamin José Simões da Cunha no valor de 46:900$000 (quarenta e seis contos e novecentos mil réis), negociante de loja de fazendas (artigos de panos e outros) na vila de Guaratinguetá e comerciante matriculado no Tribunal do Comércio do Rio de Janeiro, mantendo, também, em sociedade com o sogro, Capitão Luiz Antônio Garcia, estabelecido na cidade do Piraí, província do Rio de Janeiro, uma Casa Comercial na cidade do Rio de Janeiro, a Rua da Prainha13.
A partir de então, na posse de Benjamin José Simões da Cunha, as terras herdadas e compradas dos irmãos transforma-se na Fazenda da Conceição, como é hoje conhecida. A sede luxuosa, com porão alto e assoalho artisticamente trabalhado, foi obra daquele proprietário, que pelas atividades exercidas pode construí-la ainda no auge do período do café e do comércio local (as iniciais no assoalho indicam a veracidade do fato – BJSC – Benjamin José Simões da Cunha).
Segundo a Professora Catarina Aparecida Vieira Vilela, a fazenda da Conceição possui estilo mais luxuoso que a Fazenda do Barbosa, localizada no bairro das Pedrinhas, não só pela arquitetura, mas também pelos móveis que nela existiram e que anos mais tarde foram vendidos por outra proprietária14. No inventário da esposa do proprietário (de família tradicional do Sul de Minas e oeste de São Paulo), vemos alguns desses móveis que, com certeza, no decorrer dos anos aumentou. Foram arrolados, entre outros bens, dois pianos, uma mobília de jacarandá, duas camas francesas, um lavatório grande de mármore, um espelho de oito palmos e dois pares de castiçais de prata. De uso doméstico aparece também, um aparelho de jantar de porcelana, dois aparelhos para chá e café, três pares de jarras finas e dois jogos de bandejas finas.
Entre 1877 e 1886 a fazenda e as terras pertencentes ao negociante Benjamin foi vendida a Thimóteo José Cesário de Campos, fazendeiro residente em Pindamonhangaba (falecido em 1895 e c.c. Ana Domingues de Castro, irmã do Barão de Paraitinga) e natural da Vila de Cunha, onde seu pai, Thomé Cesário de Campos, foi grande senhor de terras.
Neste período passando por alguma crise não muito bem definida, a unidade agrícola foi hipotecada para endosso de dívidas contraídas possivelmente pela decadência do café. O responsável pelo empréstimo de dinheiro foi o Comendador Luiz José da Silva Guimarães, fazendeiro abastado residente no Rio de Janeiro e casado na família do Barão de Taubaté. Segundo informações de outra escritura, somente a metade da fazenda foi colocada em garantia do valor de 60:000$000 (sessenta conto de réis)15. Possuía a totalidade de 181 alqueires e meio de “mata de milho”, com cafezais e várias outras plantações; casa de vivenda, chalet, outras edificações, paióis, máquinas de beneficiar café e outros aparelhos e instrumentos de lavoura. Ela confrontava com os seguintes fazendeiros: Barão de Romeiro, Francisco Chagas Santos, José Pereira Barbosa, Cândido Freire de Almeida, Barão de Taubaté, Francisco Joaquim Pereira, Vitoriano Moreira César, Basílio Pires de Souza, Francisco Manuel dos Santos, Dr. Manuel Domingues de Castro e Manuel Joaquim Pereira.
Em 1890, nova escritura de hipoteca é realizada e ao que consta não foi satisfeita, passando a fazenda para as mãos do referido fazendeiro, Comendador Luiz José da Silva Guimarães.
No início do século XX, em poder desse proprietário, falecido em 1913, a fazenda continuou a produzir exclusivamente café, escapando da crise do produto na região. Por ocasião do seu inventário, processado na cidade de Taubaté16, a unidade produtora possuía 114.760 pés de café plantados (avaliados no total em 21:886$500, juntamente com a terra onde estava)17, como também maquinários para beneficiar, terreiros para secagem, uma casa para negócio, casas para camaradas, tulhas etc. Além disso, uma pequena parcela da área existente eram utilizadas para a criação de animais (porcos, cavalos, capados e leitões) e uma outra parte com capoeiras destinadas ao posterior replantio de café.
Nesse tempo ainda as terras faziam divisa com os seguintes proprietários: Tenente Coronel Antônio Marques dos Santos, Manuel Marcondes Rangel, Francisco de Cerqueira Ramos, Francisco Marcondes Rangel, herdeiros do Barão de Taubaté (Fazenda Santa Leopoldina), Antônio Motta e Cia., Nicolau Leoni (Fazenda Sertãozinho), Alfredo de Paula Santos, Manuel Pereira da Silva, Marcolino dos Santos e outros.
Em 04.06.1918 a propriedade foi vendida, pelos herdeiros do Comendador, para Daniel Muller, residente em Taubaté, por escritura lavrada na cidade de Taubaté. O proprietário a manteve por pouco tempo e em 25 de outubro de 1921 celebrou uma escritura de compromisso de venda da propriedade, em toda a sua organização18, aos imigrantes russos Júlio e Jacob Drebtchinsky pela quantia de 100:000$000 (cem contos de réis), ficando a última parcela para ser paga até dezembro de 1922, quando seria transferindo o domínio e a posse aos compradores. Nesse ínterim seriam apenas administradores e depositários dos bens. Nesse intervalo, continuando a produzir café, o resultado da produção foi colocado à venda para um fazendeiro vizinho, o coronel Antônio Marques dos Santos, mas uma ação de protesto foi interposta pelo proprietário legal da fazenda, Daniel Muller, haja vista que, segundo ele, não havia possibilidade jurídica para tal, pois a venda previa apenas a venda do resultado do café colhido em 1921 que já se encontrava estocado e não os frutos pendentes para colher. O contrato ainda previa hipoteca da fazenda, mas não se sabe o certo o que aconteceu.
Em 1924, a fazenda estava hipotecada para Henry William Turner, sendo adquirida pelo dentista paulista Alberto Bresser Monteiro, casado Dona Elizabeth Ludovig Bresser Monteiro.

NOTAS

1- A tradição oral dá conta que as terras localizadas entre a Serra do Quebra Cangalha e o maciço do Jaburu foram de propriedade de um antigo ramo genealógico estabelecido em Guaratinguetá no início do século XVII, a família Mota Pais, daí o nome do bairro e do afluente que deságua no Rio Paraíba. Nenhuma referência documental foi encontrada a respeito, mas é possível a veracidade da notícia, haja vista que, neste caso, a primeira sesmaria conhecida na região tenha sido adquirida de outros, como acontecia em alguns casos conhecidos dentro do precário sistema de distribuição de terras nos séculos anteriores ao XIX.
2- Divisão de Arquivo do Estado Repertório de Sesmarias. S. Paulo, 1994 (Ed. fac-smilar), p.p. 348-349. Ao citar a compra realizada, o requerente citou a compra realizada dos antigos proprietários que, segundo foi constatado em trabalho genealógico (SILVA LEME, Luiz Gonzaga da. Genealogia Paulistana), eram descendentes da família Mota Pais, referida na nota 1. Isso corrobora que a tradição pode estar certa.
3- Em vários documentos foram encontradas esta denominação. Embora não explique a origem do nome, acredita-se que esteja ligado ao Padre Antônio Ramos Barbas que, para se ordenar, recebeu partes de terras vizinhas como patrimônio necessário para a formação eclesiástica.
4- Era muito comum naquele período doações de terras que tinham os seus limites estabelecidos dessa maneira, já que muitas delas, seja pela testada ou pelo sertão, não tinham vizinhos confrontantes ou iam até onde os olhos enxergasse. Neste caso específico, as medidas pela testada tinham vizinhos confrontantes, mas os limites do sertão atingiam os contrafortes de uma parte da Serra do Quebra Cangalha.
5- Uma das premissas para validar a posse do sesmeiro era que ele demarcasse as suas terras num prazo de dois anos a contar da data da concessão e que o Rei de Portugal a confirmasse, caso contrário perderia a titularidade, sendo, em ocasião propícia, passada a outro que cumprisse as normas estabelecidas. Embora sendo regra, muitas das vezes não era demarcada e nem confirmada, o que acarretava, em alguns casos, processos judiciais anos mais tarde, entre os descendentes ou seus sucessores.
6- Arquivo Público do Estado de São Paulo. Recenseamento das Ordenanças de Guaratinguetá para o ano de 1776 – SP. Trata-se de uma série documental única no Brasil e no mundo, abrangendo o período de 1765-1836, largamente utilizada pelos historiadores, trazendo informações fundamentais sobre a sociedade e economia da época em se considerando o seu conjunto para cada vila.
7- Instituto Genealógico Brasileiro Anuário Genealógico Latino, Vol. 4 – 1952.
8- Entre os anos de 1871-1877, segundo os Livros de Distribuição de Escrituras de Guaratinguetá (Museu Frei Galvão/Arquivo Memória de Guaratinguetá), foram lavradas 88 escrituras envolvendo propriedades agrícolas no bairro dos Motas, perdendo tão somente para os negócios realizados com bens imóveis na cidade.
9- Arquivo Público do Estado de São Paulo Registro Paroquial de Terras – 1856.
10- MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. Os Galvão de França no Povoamento de Santo Antônio de Guaratinguetá 3 ed., São Paulo, Editôra da Universidade de São Paulo, 1993. p. 296 e 342.
11- A igreja do Bonfim foi construída entre os anos de 1870-1880, quando o proprietário e fazendeiro José Pereira Barbosa, português, e sua mulher, Dona Maria Marcolina de Araújo, fizeram doação de uma parte de terras para o patrimônio da capela.
12- Museu Frei Galvão/Arquivo Memória de Guaratinguetá – Inventários e Testamento do 2º Ofício – Maço 14.
13- Estar matriculado regularmente como Comerciante no Tribunal do Comércio do Rio de Janeiro era sinônimo de prosperidade e de posição consolidada entre os demais. Nesse período, o comércio é um forte setor da economia local, e uma parte do lucro auferido, por vezes, financiava a agricultura comercial do café. Segundo o inventário de Dona Maria Luiza Garcia Simões da Cunha, a Casa Comercial do Rio de Janeiro havia dado lucro de 4:549$407 e da Vila de Guaratinguetá 4:500$000 (Museu Frei Galvão/Arquivo Memória de Guaratinguetá – Inventários e Testamentos – 2º Ofício.)
14- Museu Frei Galvão/Arquivo Memória de Guaratinguetá – Pasta Fazenda – Arquitetura Rural.
15- Tabelião do 1º Ofício de Guaratinguetá – Livro 56 – fls. 27.
16- No Museu Frei Galvão encontra-se uma Precatória expedida do Juízo da Comarca de Taubaté para Guaratinguetá pedindo a avaliação dos bens existentes no Bairro dos Motas e em Roseira. Era uma premissa jurídica, já que os bens estavam em território de outra comarca. Arquivo Memória de Guaratinguetá – Maço 180 – 1º Ofício.
17- É interessante observar que naquela época o proprietário distinguia cada cafezal com um nome que lhe fosse do agrado ou que estivesse ligado a algum fato ou nome de antigos donos ou de agregados. Na Fazenda da Conceição alguns deles eram conhecidos como: Lage, Queimada, Limeira, Gervásio, Fazendinha etc.
18- A fazenda estava sendo vendida como se diz até hoje com “porteira fechada”, ou seja, incluindo todos os bens.

Imagem: Vista Lateral da fazenda antes da reforma atual. Fotografia de Catarina Aparecida Vieira Vilela. In: Pastas Fazendas – Museu Frei Galvão/Arquivo Memória de Guaratinguetá.

domingo, 25 de julho de 2010

Leitura Recomendada

A história e a literatura têm relações intrínsecas, principalmente por proporcionarem aspectos de verdades que buscamos.
O ambiente em que a literatura se forja advém do resultado da relação do autor com o seu meio, enquanto valores culturais, sociais, políticos e econômicos (história), que por sua vez reflete na criação ficcional, tendo como base principal a vivência in loco do cotidiano.
Tendo a literatura como suporte, a história sai do lugar comum do cientificismo, dando vez para lembranças amiúdes e memórias difusas, que são preteridas pelo exagerado apego e fetichismo ao documento escrito. Torna-se um importante instrumento de compreensão do mundo.
No livro de contos “No Mundo das Sinhás”, do literato Tom Maia (Ed. Santuário, 2003. 221 p.), constatamos as assertivas acima. O autor, com sensibilidade e sabedoria, mostra-nos um passado diluído e diferente dos conceituais livros de história. Sabendo ensinar, com divertimento, os valores e as crenças de uma sociedade interiorana ainda pouco conhecida em suas marcas e experiências indeléveis.
O resultado é a negação das grandes estruturas e processos históricos, colocando-nos diante da história do cotidiano e da micro-história para a compreensão do passado, embasada em rica literatura narrativa, a exemplo de alguns grandes contos clássicos da literatura francesa muito bem utilizados pelo historiador Robert Darnton para o resgate da história cultural da França.
“No Mundo das Sinhás” o leitor leigo, o profissional da história e os críticos podem seguir vidas e compará-las, tecendo, assim, o pano de fundo de determinadas realidades. Cada atitude dos seus personagens traz consigo a experiência e a linguagem de um mundo que, ao mesmo tempo, é incompreensível, mas não diferente do nosso.
Como privilegiado espectador e ouvinte dos acontecimentos de outrora, utiliza o seu hábil senso literário para narrar particularidades que tem raízes profundas na história brasileira. Usa a ficção para despertar nos leitores a argúcia e a perspicácia necessárias para o conhecimento do passado, assim como num jogo de xadrez, onde é preciso estar atento aos pequenos e insignificantes movimentos.
Um livro saboroso, sério e inteligente, que poucos ousaram fazer, mostrando o quanto a literatura é importante para a história do Vale do Paraíba.

Lançamento - História e Genealogia

Foi lançada no último dia 28 de maio, na Câmara Municipal de Taubaté, a obra “Os Oliveira Costa de Taubaté”, e autoria de Carmo de Chagas. A obra teve o apoio da Empresa das Artes, Vila Criativa, Instituto de Estudos Valeparaibanos, Academia Taubateana de Letras e da Câmara Municipal de Taubaté.
Vale à pena conferir a saga de uma família valeparaibana que deixou sua marca na construção da sociedade taubateana.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Obra em três volumes sobre a História de Aparecida

Tudo tem um começo. E não seria estranho afirmar que a história poderia ter um inicio quando referida como obra publicada, principalmente aquelas que possuem caráter regional ou retrata uma comunidade definida.
Penso que obras regionais, muitas delas memorialistas ou de caráter positivista , devem obter, por parte do público especializado, um tratamento qualificado, porque representam intróito fundamental para a grande massa leiga que desconhece a história da sua própria comunidade.
É através do elementar e factual que nasce a curiosidade e, posteriormente, o aprofundamento. Mesmo para o público intelectual, que tem nessas obras informação que possibilita a descoberta de indícios que pode representar a base de uma teoria.
Tenho lembranças das inúmeras publicações históricas, regionais ou não, colocadas no mercado editorial durante as décadas de 1960 e 1970, que serviram de estímulo para gostar cada vez mais da pesquisa histórica. Foi delas que obtive subsídios para formar um pensamento mais apurado acerca da minha cidade e região.
E foi com informação e formação que a partir delas é que atualmente considero fundamental divulgar e valorizar obras iniciativas da história de um município, dentre ela, particularmente a obra, em três volumes, sobre a história de Aparecida, de autoria do Professor Benedito Lourenço Barbosa, intitulada “Nossas Origens – Três Séculos de História de Aparecida-SP”. Que pode ser considerada obra pioneira, por trazer informações inéditas sobre a formação e o desenvolvimento da cidade através do tempo. Isto, porque, anteriormente as publicações sobre a cidade sempre estiveram atreladas ao aspecto religioso, contando a história do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 1717, e o conseqüente desenvolvimento das atividades oriundas daquele achado. Portanto, uma obra geral e didática, que serve como estímulo para historiadores e pesquisadores, mas, sobretudo, para a rede pública de ensino, como parte integrante de um projeto que valorizasse o conhecimento da terra.
O primeiro volume traz a história do município a partir de 1645, quando teve inicio o povoamento de Guaratinguetá, chegando a 1745, ano da construção da primitiva capela de Aparecida em terreno doado por Margarida Nunes Rangel e outros moradores no entorno do morro dos Coqueiros; além de trazer informações genealógicas e transcrição de documentos.
No segundo volume, o leitor pode conhecer a história a partir de 1745, até a criação do Distrito, em 1891, destacando a história da antiga capela, vigários e capelães no período, a estação ferroviária, a economia e a educação no município de Guaratinguetá, os primeiros movimentos para a emancipação e as principais famílias.
E, no terceiro e último volume, fatos e pessoas desde a criação do Distrito até o Bicentenário da capela, ocorrido em 1945, destacando aspectos dos efeitos da urbanização na localidade, a política e o processo de emancipação administrativa, em 1928.
Um trabalho de esforço hercúleo durante mais de três anos em arquivos públicos, entrevistando e identificando fatos e pessoas, valendo o resultado.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Literatura Regionalista – Waldomiro da Silveira

O documento oficial produzido por inúmeras instâncias jurídicas e administrativas ao longo da história do Brasil não reflete a realidade ampla da sociedade. Mesmo porque, tanto o documento, como o historiador que o manipula, não consegue chegar ao real vivido. E, portanto, existem aproximações, olhares e conclusões sobre a realidade.
Mas, a história pode contar com alternativas, como a literatura, que reflete aspectos intimistas da realidade, embora contenha os mesmos perigos dos documentos oficiais. Um exemplo pontual e interessante é a produção literária regional, pela sua importância intimista de conhecer e entender a realidade mais próxima do cotidiano humano, e como resultado da experiência e da interação mais direta do autor com o meio social, econômico, político e mental.
Existem centenas de obras esquecidas ou mesmo perdidas na área regionalista, principalmente as produzidas na primeira metade do século XX. Obras que, mesmo de conhecimento restrito, são raramente lidas ou utilizadas. Como a produção cabocla do escritor valeparaibano Waldomiro da Silveira retratando o mundo rural da região sob outra perspectiva e diferenciada de outras obras, como as do escritor Monteiro Lobato.
Em suas obras o protagonista é o caboclo, com linguagem peculiar e mentalidade ao contrário do fausto do café e das grandes fazendas. Para a história, um olhar diferente e amplo, que expressa o que a linguagem oficial do documento não consegue transmitir. A cultura letrada suplantada como meio de captar o pensamento do homem rural sobre os acontecimentos diários da sobrevivência pessoal e da família, longe dos círculos de poder e riqueza.
Segundo Alfredo Bosi, o escritor traz quadros de paixões elementares, tendência para o patético e para o trágico e, “onipresente, a preocupação com o registro exato dos costumes interioranos” (BOSI, p. 237), como a história de um sitiante que, contraindo lepra, deve abandonar a própria família afundando-se no mato como um réprobo, na obra “Os Caboclos”. Assim, para o Vale do Paraíba ressuscitar e incitar a leitura de um homem que era caipira de coração é resgatar um patrimônio imaterial importante para entender costumes que até hoje sobrevivem, embora diante de um mundo renovado. Museus, escolas e projetos culturais espalhados pela região deveriam olhar com maior carinho para suas obras, a ponto de desenvolver atividades lúdicas de compreensão da herança deixada pelo homem da roça e que ainda afeta a vida nos dias atuais.

Referências
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1970.

Imagens: http//www.sebodomessias.com.br (acessado em 15/07/2010)
educacao.uol.com.br/.../valdomiro-silveira.jhtm (acessado em 15/07/2010)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Relação das Pessoas que Costumam Andar na Governança da Vila de Guaratinguetá - 1823-1829

Logo após a Independência do Brasil, foi solicitada pelo governo independente a relação de pessoas que costumavam andar na governança das vilas, exercendo os mais diversos cargos nas câmaras municipais e no poder judiciário.
Tal relação, enviada por diversas vilas para a Mesa do Desembargo do Paço, no Rio de Janeiro, traz informações interessantes para analisar a composição política e social dos governos locais, estruturada basicamente por homens que ocupavam o topo da pirâmide social, os chamados “Homens Bons”. Cidadãos que viviam da agricultura, com renda superior igual ou superior a 400$000 e eleitores, segundo as regras políticas da época. E, na maioria, representavam o arcabouço militar e administrativo de Portugal, presente na segunda metade do século XVIII na Capitania de São Paulo.
Constavam do referido rol: nome, naturalidade, local de moradia, idade, estado civil e profissão ou atividade, a patente nas milícias da Capitania, além do parentesco que cada um, porventura, tinha uns com os outros.
Para Guaratinguetá, encontramos relacionados sessenta indivíduos aparentados entre si, com as referidas patentes militares. Alguns naturais da vila, outros de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Portugal, vivendo como agricultores e comerciantes.

1. Cap. Mor Jerônimo Francisco Guimarães, natural e morador desta vila, de idade de mais de sessenta anos. Vive de negócios. Casado. (Pai do nº 22, avô do nº 50, sogro do nº 15 e cunhado do nº 31).
2. Cap. Manuel José de Melo, natural da Europa, morador do termo desta vila. Casado, de idade maior de 50 anos. Vive de lavouras (pai do nº 46).
3. Cap. Manuel José da Costa, natural de Parati, morador desta vila. Vive de negócio, maior de 50 anos, viúvo.
4. Sargento Mor Máximo dos Santos Souza, casado, natural da vila de Cunha, morador do termo desta vila. Maior de 40 anos, vive de lavoura. (Pai do nº 27 e sogro do nº 48).
5. Sargento Mor Antônio dos Santos Silva, natural da Província de Minas, morador desta vila. Casado, maior de 50 anos, vive de lavoura. (Pai do nº 56, genro do nº 13 e cunhado do nº 6).
6. Sargento Mor Bartolomeu de Moura Fialho, natural de morador desta vila. Casado, maior de 60 anos. Vive de lavoura. (Pai dos nº 8 e 17, cunhado do nº 5).
7. Sargento Mor Francisco Vieira Novais, natural da Europa, morador desta vila. Casado, maior de 50 anos, vive de lavoura. (Pai do nº 9 e sogro do nº 32).
8. Cap. Bartolomeu de Moura Fialho, natural e morador desta vila. Maior de 30 anos, casado, vive de lavoura. (Filho do nº 6, genro do nº 13, irmão do nº 17 e cunhado do nº 39).
9. Capitão João Francisco Vieira, natural e morador desta vila. Maior de 30 anos, solteiro, vive de lavoura. (Filho do nº 7 e cunhado do nº 32).
10. Cap. João de Meireles Freire, natural e morador desta vila. Casado, maior de 50 anos, vive de seu negócio. (Cunhado do nº 20, primo dos nº 32 e 51).
11. Capitão José Luiz de Brito, natural da Europa, morador desta vila. Casado, maior de 40 anos, vive de lavoura. (Cunhados dos nº 19 e 36, sogro do nº 34).
12. Capitão Inácio Correia Leite Galvão Freire, natural e morador desta vila. Casado, maior de 40 anos, vive de lavoura.
13. Cap. Tomaz Marcondes da Silva, natural da vila de Pindamonhangaba e morador desta vila. Viúvo, maior de 50 anos, vive de lavoura (Tio do nº 29, sogro do nº 5, 8 e 54).
14. Cap. Domingos Correia Leite, natural da vila de Pindamonhangaba, morador desta vila. Solteiro, maior de 40 anos, vive de negócio.
15. Cap. Antônio José dos Santos, vive de lavoura, natural e morador desta vila, casado, maior de 50 anos. (Genro do nº 1 e pai do nº 50).
16. Capitão João Damasceno Ferraz, natural e morador desta vila. Solteiro, maior de 50 anos, vive de lavoura.
17. Cap. Francisco dos Santos Moura, natural e morador desta vila. Casado, maior de 30 anos, vive de lavoura. (filho do nº 6, irmão do nº 8, genro do nº 21 e cunhado do nº 39).
18. Capitão Manuel Gonçalves de Carvalho, natural da Província de Minas e morador desta vila. Casado, maior de 60 anos, vive de lavoura. (Cunhado dos nº 1 e 58)
19. Tenente Francisco José Nogueira, natural e morador desta vila. Casado, maior de 40 anos, vive de lavoura. (cunhado dos nº 11 e 37, irmão do nº 36 e tio do nº 54).
20. Tenente Agostinho Leite de Almeida, natural da vila de Jacareí e morador desta vila. Casado, maior de 40 anos, vive de negócio. (Pai do nº 42 e cunhado do nº 10).
21. Tenente Francisco Antunes de Vasconcelos, natural e morador desta vila. Casado, maior de 50 anos, vive de lavoura. (Sogro dos nº 17, 29 e 30).
22. Ajudante Francisco das Chagas Guimarães, natural e morador desta vila, maior de 30 anos, casado. Vive de lavoura. (filho do nº 1, tio do nº 50, sobrinho do nº 48).
23. Alferes Salvador Fernandes Viana, natural da vila de Parati, morador desta vila. Casado, 54 anos, vive de negócio.
24. Alferes Lúcio José Monteiro, natural da Província de Minas, morador desta vila. Viúvo, vive de lavoura. (sogro do nº 40).
25. Alferes José dos Reis dos Santos, natural da vila de Cunha, morador desta vila. Casado, maior de 40 anos, vive de lavoura.
26. Alferes José Monteiro Silva, natural da vila de Cunha, morador desta vila. Viúvo, maior de 50 anos, vive de negócio.
27. Alferes Vitoriano dos Santos Souza, natural e morador desta vila. Solteiro, 28 anos, vive de lavoura. (Filho do nº 4 e cunhado do nº 48).
28. Alferes José Joaquim da Mota, natural do termo de Lorena, morador desta vila. Casado, vive de lavoura. (Cunhado do nº 35).
29. Alferes Antônio Bicudo de Siqueira, natural da vila de Pindamonhangaba, morador desta vila. Casado, maior de 40 anos. (sobrinho do nº 13 e genro do nº 21).
30. Alferes Máximo Xavier Romeiro, natural e morador desta vila. Casado, de 30 anos, vive de lavoura. (Genro do nº 21 e cunhado do nº 55).
31. Alferes José Rodrigues Coura, natural e morador desta vila, casado, maior de 50 anos. Vive de lavoura. (Cunhado dos nº 1 e 49).
32. Alferes Antônio Gonçalves de Oliveira, natural e morador desta vila. Maior de 30 anos, casado, vive de seu negócio. (Primo dos nº 10 e 42, genro do nº 7, cunhado do nº 9).
33. Alferes Manuel da Silva Reis, natural e morador desta vila. Casado, maior de 30 anos, vive de lavouras.
34. Alferes Antônio de Paula e Silva, natural da Província de Minas e morador desta vila. Casado, maior de 30 anos. Vive de negócio e lavoura. (Genro do nº 11).
35. Alferes José de Rezende, natural e morador desta vila. Casado, maior de 40 anos, vive de lavoura. (Cunhado do nº 28).
36. Guarda Mor José Martins Nogueira, natural e morador desta vila. Solteiro, maior de 50 anos. (Cunhado dos nº 11 e 37, irmão do nº 19).
37. Guarda Mor Manuel José de Castro, natural da Europa, morador desta vila. Casado, maior de 50 anos, vive de lavoura. (Cunhado dos nº 19 e 36, pai do nº 54).
38. Guarda Mor Manuel Teixeira Guimarães, natural da Europa, morador desta vila. Casado, maior de 60 anos.
39. Manuel José Bitencourt, natural da Europa, morador desta vila. Casado, maior de 40 anos, vive de lavoura. (Genro do nº 6 e cunhado dos nº 8 e 17).
40. Nuno da Silva Reis, natural e morador desta vila. Casado, maior de 30 anos, vive de lavoura. (Filho do nº 25, genro do nº 24, neto do nº 6 e sobrinho dos nº 8 e 17).
41. Francisco de Moura Ávila, natural e morador desta vila. Casado, maior de 50 anos, vive de lavoura. (Tio do nº 40, primo dos nº 8 e 17, sobrinho do nº 6).
42. João de Meireles Leite, natural e morador desta vila. Solteiro, maior de 30 anos, vive de negócio. (Filho do nº 20, sobrinho do nº 10 e primo do nº 42).
43. Luiz Martins de Carvalho, natural da Europa, morador desta vila. Casado, vive de lavoura, maior de 60 anos.
44. Antônio José Teixeira, natural da Europa, morador desta vila. Casado, maior de 50 anos, vive de negócio.
45. Antônio Lobo de Oliveira Pompeu, natural de Taubaté, morador desta vila. Viúvo, maior de 40 anos, vive de negócio.
46. João Francisco Junqueira Silva e Melo, natural e morador desta vila, solteiro, 17 anos. Vive sob pátrio poder. (Filho do nº 2).
47. José da Costa Pinto, natural da Europa, morador desta vila. Viúvo, maior de 30 anos. Vive em companhia de seu irmão o Reverendo Vigário desta Vila.
48. Alferes Mariano Xavier de Castro, natural da vila de Cunha e morador desta vila. Casado, maior de 40 anos. Vive de contratos com a Fazenda Nacional. (Genro do nº 4 e cunhado do nº 27).
49. Antônio Gonçalves Cordeiro, natural e morador desta vila. Casado, maior de 40 anos. Vive de lavoura. (Cunhado do nº 31).
50. Antônio Clemente dos Santos, natural e morador desta vila, solteiro, maior de 25 anos. Vive de negócio. (filho do nº 15, neto do nº 1 e sobrinhos dos nº 22 e 58).
51. Manuel Rebelo Leite, natural e morador desta vila. Casado, maior de 40 anos, vive de lavoura. (Cunhado do nº 10).
52. Francisco de Paula Ferreira, natural da Província de Minas, morador desta vila. Casado, vive da cadeira de gramática latina. (Cunhado do nº 53).
53. Francisco José da Costa, natural e morador desta vila. Solteiro, maior de 30 anos, vive de negócio. (Cunhado do nº 52).
54. Manuel José de Castro, natural e morador desta vila. Casado, maior de 30 anos, vive de lavoura. (Filho do nº 37, sobrinho dos nº 19 e 36 e genro do nº 13).
55. Luiz Antônio de Camargo, natural da cidade de São Paulo e morador desta vila. Casado, maior de 40 anos, vive de sua botica. (cunhado do nº 30).
56. Antônio dos Santos Silva, natural e morador desta vila. Casado, maior de 30 anos, vive de lavoura. (Filho do nº 5).
57. Manuel Lescura Banher, natural e morador desta vila. Maior de 30 anos, vive de lavoura.
58. José Francisco Guimarães, natural e morador desta vila, maior de 50 anos. Viúvo, vive de lavoura. (irmão do nº 1, tio dos nº 22 e 50).
59. Capitão Manuel Galvão de França, natural e morador desta vila. Casado, vive de lavoura, maior de 40 anos.
60. Alferes Inácio Joaquim Monteiro, natural da cidade de São Paulo, morador desta vila, maior de 50 anos.

Nota: documento localizado no Arquivo Nacional (1990), quando pesquisava a biografia do Comendador José Francisco da Silva Guerra, natural de Guaratinguetá e político influente da região na segunda metade do século XIX. Arquivo Nacional – Mesa do Desembargo do Paço.
Imagem: Uniformes militares - Álbum de aquarelas sobre uniformes militares do período colonial brasileiro, provavelmente do século XVIII, de várias regiões do país. Foto: Rômulo Fialdini/Livro MHN/Banco Safra.
In: http://www.museuhistoriconacional.com.br/images/galeria22/mh-g22a025.htm. Acessado em 18/07/2010.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Usina Sodré – Patrimônio Sem Acesso

A área onde está situada a usina Sodré, no bairro dos Pilões, em Guaratinguetá, originou-se da antiga fazenda ou sítio denominado Sodré, com extensa superfície, segundo testemunhas de época, Benjamin Teixeira Guimarães e José Benedito Alves. O primeiro proprietário foi Antônio Clemente dos Santos (primeiro prefeito de Guaratinguetá no período da regência), segundo os embargos inclusos no processo de divisão das terras movido pela Companhia Luz e Força de Guaratinguetá contra Manuel Jacinto Pereira e outros, considerados condôminos da unidade agrícola, entre elas, a Companhia Imobiliária Brasileira, com sede na cidade de São Paulo.
Chamados ao processo, vários interessados apresentaram escrituras provando posse legítima das terras, sendo contestados pela companhia responsável pela usina, em 1921 (Museu Frei Galvão/Arquivo Memória de Guaratinguetá – Maço 122 – 1º Ofício).
Pelos documentos apresentados, a filha de Antônio Clemente dos Santos, Dona Pórcia Francisca dos Santos recebeu parte das terras em herança e vendeu-as à Companhia Imobiliária Brasileira (em 1927, entrou em demanda com a Companhia de Força e Luz pelas mesmas terras).
Outros proprietários, na segunda metade do século XIX, foram Manuel Jacinto Pereira, Jacinto Feliciano Martins, Barão da Bocaína, Manuel Inocêncio de Moura Marcondes, Comendador Manuel Jorge Gonçalves Campos e, por ocasião do processo, mais de 30 proprietários.
Atualmente pertence a uma autarquia do governo e o acesso é restrito, sendo necessária autorização e agendamento.
Parece mais um patrimônio fadado ao destino de desaparecer.

Imagens: Fotografias da Antiga Usina Sodré. Acervo do Museu H.P. Conselheiro Rodrigues Alves.

sábado, 17 de julho de 2010

Socialização da História e do Patrimônio Cultural

Para escrever a nossa história utilizamo-nos dos mais variados procedimentos e fontes disponíveis, mas a premissa não é unanimidade ao considerarmos o universo de produção cultural do homem em sua ampla diversidade. É uma temática complexa e discutível, sempre cogitada e pouco esclarecedora. A unanimidade na pesquisa histórica fica muito restrita ao universo das fontes escritas, o que relacionado com o universo patrimonial do homem é apenas um grão de areia.
O que deve ser observado é que necessitamos acelerar e dinamizar, na prática, o que costumamos apenas dizer em livros, palestras e congressos. Não há mais espaço para frases e chavões que evoquem a importância do nosso patrimônio, se não houver explícita concretização de ideias. Apenas pelo pensamento os resultados serão ínfimos como tem acontecido na maioria das vezes. Ações isoladas, esporádicas e precariamente estruturadas não estão produzindo efeito para a socialização da história. A consciência histórica parte necessariamente de um prévio conhecimento, mas sem o exercício lúdico da produção e de suas razões de existir não há mudança no olhar e na postura. Desemboca-se, assim, na realidade do enfrentamento dos desafios de formar futuras gerações com base em práticas constantes e muito mais participativas para conhecer o passado e o presente.
O mesmo deve acontecer com a discussão sobre a educação patrimonial, como uma forma específica de preservação da história, especialmente no Vale do Paraíba, onde a minoria fala muito, faz pouco e, ainda, dorme em falso berço esplêndido.
Percebe-se enfaticamente que alguns grupos se constituem como detentores de um patrimônio que é universal. Conhecem e defendem-no sem a preocupação de envolver outros grupos diversificados da sociedade. Principalmente na esfera que comanda a educação no país, nas escolas e em outras instituições culturais.
Imagem: Escultura encimada em túmulo no Cemitério dos Passos - Guaratinguetá - Joaquim Roberto Fagundes - junho 2010.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Série Imagens para Pensar

Na história é fundamental o exercício de observação e, portanto, é interessante praticar vendo e fazendo a leitura de imagens de homens e mulheres do passado valeparaibano. Pela fotografia de pessoas que pertenceram ao mundo que não foi o nosso, produzidas na segunda metade do século XIX, pode-se inferir expressões do rosto e do corpo, as roupas, a postura e o ambiente retratado e, com isso, aprender um pouco de como viviam os nossos antepassados. Portanto, observe e tire as suas conclusões. Sempre que possível colocaremos algumas imagens do passado para pensar.


























O primeiro, da esquerda para direita, é o Coronel Antônio Pires Barbosa, nascido em Guaratinguetá e que se tornou chefe do Partido Conservador após a morte do Visconde de Guaratinguetá, em 1879. Era fazendeiro de café no bairro da Jararaca, e como era o costume da época, exerceu inúmeros cargos no poder judiciário local, como juiz de paz, juiz municipal e de órfãos, vereador e presidente da Câmara.

O segundo, é atribuído como o menino João Bapstista de Andrade, um dos inúmeros membros da família Andrade Almada, natural do município de Cunha, que teve este nome. Não ocupou cargo algum pelo que sabe. Parece ter vivido em Guaratinguetá. No momento da foto devia ter entre 13 e 15 anos, período em que o menino passava para a fase adulta e, portanto, já teria que se portar como um homem, com roupas sóbrias de acordo com a moda do final do século XIX.

Imagens: Acervo do Museu Frei Galvão/Arquivo Memória de Guaratinguetá.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Doação de Terras para a Capela de Areias

A doação de terras para o patrimônio de capelas foi ato consolidado durante o período colonial brasileiro, sendo, muitas das vezes, a gênese de um núcleo urbano ou de um bairro.
O costume teve origem, entre outros motivos, na reafirmação da fé e no credo católico da população a um santo de sua preferência. Um demonstrativo da religiosidade popular como um dos elementos principais da configuração social do país. A necessidade para o homem colonial de erigir publicamente prédio para assistência de missa e expressão de angústias terrenas ao santo de sua guarda, em cuja morte ele vivia e deixava parte de seus bens.
Partia, então, dos moradores da localidade, a iniciativa de fazer a doação de parte de suas terras para a edificação de uma capela ou para a constituição de um determinado patrimônio religioso, ajudando, até mesmo, no material e na mão-de-obra, ou na doação de alfaias e imagens. Tudo de comum acordo com as autoridades eclesiásticas, que aprovava, ou a não, a iniciativa.
E, para o Vale do Paraíba, as escrituras de doação de terras para a constituição do patrimônio das capelas são encontradas nos livros tombos existentes nas dioceses e arquidioceses de alguns municípios, assim como, nas prestações de contas de capelas que integra a documentação do Juízo da Provedoria existente no Arquivo Público do Estado de São Paulo.

Neste sentido, para ilustrar com pequenas observações e breves comentários uma pesquisa sobre o tema, disponibilizamos, em linguagem atual, parte de uma escritura de doação de terras para a capela da vila de Areias em 1798.

Escritura: Traslado da Escritura de Doação que fazem Ângelo José Bittencourt, viúvo, Claro Francisco Rodovalho, e sua mulher Ana Bueno de Siqueira a Fábrica desta Matriz de Santana das Areias.

“Saibam quantos este público instrumento de doação virem, que sendo no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos noventa e oito [1798] aos trinta dias do mês de julho do dito ano nesta Freguesia das Areias, termo da Vila de Lorena, em casas de morada do Reverendo Vigário José Rebouças da Palma, onde eu Tabelião ao diante nomeado fui vindo, sendo aí achei presentes partes concertadas e doantes a saber: Claro Francisco Rodovalho, e sua mulher, Ana Bueno de Siqueira, e bem assim, Ângelo José Bittencourt, homem viúvo, todos moradores nesta freguesia e reconhecidas de mim Tabelião pelos próprios de que faço menção e dou fé; e logo pelos ditos doadores todos juntos, uniformemente me foi dito em presenças das testemunhas ao diante nomeadas e no fim deste instrumento assinadas, que eles são legítimos senhores e possuidores de todo o restante dos chãos do dote da Igreja Matriz desta Freguesia, cujo dote sabem é de sessenta e cinco braças em quadra, fazendo peão na mesma igreja, e por isso pertencem a eles doadores todo o mais restante de chãos que se acharem entre os dois córregos, da parte de uma o que serve de aguada a casa do Reverendo Joaquim José da Silva, e da parte de baixo o córrego denominado Lavapés, que faz barra no Ribeirão das Areias; e nos lados assim para baixo, como para cima, até o Ribeirão dito das Areias, e até a beira do Mato Virgem, que se acha para cima da Igreja; por já estar dado por legítimas pessoas, e que isto houveram pela maneira seguinte, eles doadores Claro Francisco Rodovalho e sua mulher por herança do seu falecido Pai e Sogro o Tenente João de Toledo Piza, e o doador Ângelo José Bittencourt por compra que fez ao seu irmão o Padre Manuel José Bittencourt – e por serem senhores na forma dita doavam de suas livres vontades a Fábrica da Igreja Matriz desta Freguesia, observando-se as condições abaixo declaradas quais são: que ele doador Bittencourt reservava desta doação para si, e se os posteriores os chãos em que se acha morando a viúva Maria de Freitas Maciel com os fundos respectivos até o Córrego chamado Lavapés, que serve de divisa; e os outros doadores reservam chãos, que comodamente chega para seis lanços de casas com os respectivos fundos, ainda que os ditos lanços de casas não sejam mistos, por que há de ainda para alugar para plantar as ditas casas por si ou por outras pessoas, ainda por seus descendentes, ficando para isso já marcado e assinalado, aliás marcado, e assinalado, e assim mais disse ele doador Bittencourt que reservava na beira do Córrego, que divisa da parte de uma na frente das casas do Padre Joaquim, os chãos chegam para três lanços de casas com seus fundos...”

Comentários: A escritura mostra, primeiramente, uma linguagem arcaica e com termos em desuso, o que por vezes, pode atrapalhar a interpretação por pessoas leigas. Indica, também, que a ereção de uma primitiva capela foi realizada anterior a 1798, pois a escritura cita a existência de uma matriz e que as terras doadas eram remanescentes das terras que já pertenciam para a mesma igreja.
Faz descobrir, em segundo lugar, por pesquisas em outros documentos, que a freguesia de Areias surgiu como parte administrativa da vila de Lorena na segunda metade do século XVIII, mas que o povoamento vem desde a época da abertura do Caminho Novo para o Rio de Janeiro, na primeira metade do século XVIII. Como local de passagem e pouso nos ranchos de beira de estrada e zona de fronteira agrícola aberta que possibilitou a fixação do homem, principalmente por posse ou pelo regime de doação de sesmaria.
E que, em 1798, já existia adiantada como freguesia, com algumas casas e diversos outros moradores além dos mencionados na escritura, como se pode constatar nos maços de população da Vila de Lorena daquele ano. Já existindo, também, pequenos sítios com agricultura de subsistência e comércio de beira de estrada. Tudo formado por pessoas, em sua maioria, oriundas das vilas de Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Lorena e Cunha, a exemplo dos doadores que aparecem na sobredita escritura.
Claro Francisco Rodovalho, nascido em Guaratinguetá por 1768, era filho do João de Toledo Piza, falecido em Guaratinguetá, e de sua mulher Leonor Correia Leme, nascida na mesma localidade. Sua esposa, Ana Bueno de Siqueira, era filha de José do Rêgo de Siqueira e de Maria Bueno de Lima, naturais de Pindamonhangaba. Ângelo José Bittencourt, nascido, também, em Guaratinguetá, era filho de Manoel José de Bittencourt e de sua mulher Maria do Rego Barbosa. E foi casado em 1765, na referida vila, com Helena Soares Leite, filha de Sebastião Machado de Lima e de Quitéria Soares Leite, naturais e falecidos no bairro da Capela (Aparecida).

Vocabulário Base

Aguada: divisa
Alferes: oficial da Companhia militar das Ordenanças responsável por levar a bandeira do regimento e substituía o capitão em suas ausências.
Braça: medida de comprimento equivalente a 2,2 m.
Caminho Novo: estrada entre a região de Lorena e o Rio de Janeiro, onde atualmente situam-se as cidades do Vale Histórico.
Capitania: Unidade territorial administrativa no Brasil Colonial.
Capitão: oficial da Companhia das Ordenanças responsável por um regimento militar.
Chãos: terra para prédios e edifícios. Comumente utilizado, no século XVIII, como terreno situado próximo ou na área urbana.
Comércio de beira de estrada: pequenas tendas, ranchos ou casas que serviam como ponto de comercialização de produtos e prestação de serviços.
Dote: bem em espécie ou em escravos que se dava ao casal para sustentar financeiramente o casamento; bens doados para Igreja para que pudesse desfrutar economicamente ou como local para edificação religiosa.
Fábrica: Rendas aplicadas na sacristia das igrejas para a sua manutenção financeira. O necessário para a construção de um edifício.
Freguesia: unidade territorial religiosa, composta por uma igreja e seus fregueses (moradores).
Lanço: cômodos ou cubículos.
Maços de População: Série documental que traz o recenseamento da população na Capitania de São Paulo, entre os anos de 1765 e 1836.
Peão: encontro de determinada terra com outra limítrofe.
Quadra: distância entre uma esquina e outra do mesmo lado de uma rua.
Ranchos de beira de estrada: locais estratégicos ao longo dos caminhos onde os viajantes paravam para pernoite e alimentação e a dos animais. Alguns possuíam toda a sorte de serviços, como pousada rústica ao ar livre, cuidados com os cavalos, selaria, ferraria e carpintaria.
Sesmaria: porção de terra de medida variável que eram doadas pelo governo portugues , entre os séculos XVI e XIX, para o assentamento de famílias.
Subsistência: termo que designa, no presente texto, a agricultura não comercial, trabalhada para sustento da própria família.
Zona de Fronteira Agrícola Aberta: região com terras desocupadas que oferecia potencial para estabelecimento da agricultura.

Referências de Consulta

Fontes Primárias

ARQUIVO DA CÚRIA DIOCESANA DE LORENA. Livro Tombo da Igreja Matriz de Areias. fls. 11v.
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Maços de População de Lorena, 1798.
BLUTEAU, Rafael (Padre). Diccionario da Lingua Portugueza. Lisboa: Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1789.
LEME, Luiz Gonzaga da Silva. Genealogia Paulistana. São Paulo: Duprat e Cia, 1903-1905. 9 volumes.
SILVA, Antônio de Moraes. Diccionario da Lingua Portugeza. 4 ed. Lisboa: Imprensa Régia, 1831.

Bibliografia

FAGUNDES, Joaquim Roberto. Genealogia Guaratinguetaense – Título Machado de Lima. Inédito datilografado, 2006.
SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA. Registro de Terras de São Paulo: São Miguel de Areias, volume 3. São Paulo: Divisão de Arquivo do Estado, 1994.
Imagem: Antiga Capela da Vila de Areias. Thomaz Ender, 1817.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pagu – Uma Escritora Valeparaibana e uma Socialista Engajada

Uma personagem não reconhecida pelas gerações passadas. Uma mulher esquecida pela atual geração.
Patrícia Rehder Galvão – conhecida como Pagu (1910-1962), - foi esposa de um dos maiores expoentes da Semana de Arte Moderna de 1922, o escritor Oswald de Andrade, autor de obras como “Macunaíma”.
Não por ser a companheira de Oswald de Andrade, mas por ter sido uma artista refinada, conectada com o seu tempo e revolucionária como mulher inserida numa época em que o preconceito de gênero ainda era forte.
Foi jornalista em Paris, escritora, pintora, ilustradora e mãe. Uma autodidata de mente aberta que não participou dos atos de 1922, mas que empunhou com fervor e lucidez as armas para defender a vanguarda cultural paulista.
Na política foi uma socialista exemplar, tendo criado, em 1945, a “Vanguarda Socialista”. Esteve no Leste Europeu e na Alemanha, oportunidade em que foi tutelada pela Gestapo, e na França, onde lutou pela Frente Popular.
Publicou, em 1933, o romance “Parque Industrial”, sob o pseudônimo de “Mara Lobo” e, em 1945, em parceria com o segundo marido, escreveu a obra “A Famosa Revista”
E, no centenário do seu nascimento, ocorrido em junho passado, lembramos que, embora tenha nascido na cidade paulista de São João da Boa Vista, a artista tem raízes valeparaibanas. Especificamente por seu progenitor, descendente da família Galvão de França, estabelecida em Guaratinguetá e no município de Cunha, respectivamente na primeira metade do século XVIII e inicio do século XIX.
Pelo lado de seus avós paternos, descende do Capitão mor Antônio Galvão de França e de sua mulher Isabel Leite de Barros, que tiveram a filha Francisca Xavier de França (irmã de Frei Galvão) casada com o Alferes Francisco Nabo Freire e destes nascera Antônio Galvão Freire que teve alguns filhos. Dentre eles, Francisca Xavier de França, moradora na vila de Cunha e casada, naquela localidade, com Manuel Gomes de Oliveira, que são os avós de Thiers Galvão de França, que se casou em São João da Boa Vista com Adélia Rehder, de onde nasceu Patrícia Galvão.
Neste sentido, tomando como motivo a sua origem e a valorização da nossa terra, da nossa gente e da nossa documentação, é necessário dirigir o olhar para uma mulher que desafiou a sociedade através da política e da arte, deixando importante legado sobre a mulher no segundo quartel do século XX. Vale recuperar sua literatura e promover debates no Vale do Paraíba.
Imagem: Patrícia Galvão (Pagu) In: margarethf.blogspot.com/2010/04/natureza-morta-patricia-galvao-pagu-os.html (acessado em 12/07/2010).

domingo, 11 de julho de 2010

Cidadania Estrangeira e Antepassados nos Processos de Casamentos

Obter a cidadania tornou-se uma prática comum nos últimos anos no Brasil, principalmente por descendentes das famílias ou de indivíduos solteiros que vieram no período da grande imigração no final do século XIX ou posteriormente. E uma das mais solicitadas é de netos e bisnetos de italianos.
Neste aspecto, o processo de casamento do Registro Civil é uma fonte preciosa para conseguir as informações exigidas, pois traz, em alguns casos, documentos do país de origem ou o passaporte.
O processo de casamento do Registro Civil, como até hoje, é um dossiê completo sobre os noivos e foi introduzido no Brasil a partir de 1890, logo após a Proclamação da República.
Com o passar dos anos, com as novas exigências que passaram a vigorar, principalmente a partir de 1930, o processo ficou sofisticado, trazendo dados mais completos dos pais e dos avós. Mas no período da República Velha (1889) trazia apenas dados sucintos dos nubentes, como o local do nascimento, a idade, o local de residência, certidão de batismo (nem sempre constante) e autorização dos pais ou responsáveis para a realização do casamento.
Para os imigrantes ou filhos destes, a regra era a mesma e as informações variavam entre completa ou nula, dependendo das dificuldades de mandar buscar documentos probatórios. Muitos apresentavam o passaporte de entrada no Brasil e destes encontra-se, a maioria de italianos, contendo as informações do local de nascimento e idade, entre outras informações.
Portanto, um elemento documental importante para quem se interessa em tirar a cidadania em outro país ou somente para continuar a ascendência a partir da origem estrangeira, não sendo, porém, o único.
E para ilustrar e divulgar informações a respeito estará disponível em breve, no blog, o índice de casamentos de imigrantes em Guaratinguetá no período de 1890 a 1930, como forma de ajudar as pessoas a localizar os seus antepassados e tirar a cidadania almejada. Como também inserir a discussão sobre utilizar a documentação cartorial nas escolas públicas.
Imagem: Processo de Casamento do Registro Civil, 1923. Museu Frei Galvão-Arquivo Memória de Guaratinguetá.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Dissertação de Mestrado - Débora Corbage

Por fim, a Escola Normal de Guaratinguetá ganhou um estudo mais profundo, analisando e discutindo a memória produzida por ela ao longo dos anos, e que culminou no aparecimento de uma forte tradição cultural e educacional na região do Vale do Paraíba, principalmente para aqueles que, de uma forma ou outra, e ao seu tempo, foram os protagonistas de uma vivência escolar que se manteve, em parte, até os dias atuais. Uma instituição educacional formadora de homens e mulheres que exerceram o magistério em diversas locais do Estado de São Paulo e que tiveram seus nomes perpetuados em nomes de escolas ou nas atividades que desempenharam em outras áreas. Educadores, por excelência, que testemunharam um período de mudanças na sociedade brasileira.
A autora, Professora Débora Maria Nogueira Corbage, Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC, com a sua dissertação recém defendida, sob o título “História e Memória da Escola Complementar de Guaratinguetá (1906-1913)” mostra com habilidade para o público, tendo como referenciais teóricos o estudo da memória e a micro-história, o processo da instalação da escola no município e as primeiras turmas formadas pela instituição (1906-1913), desvendando suas origens sociais e econômicas. Professores que, no percurso da carreira, fizeram da instituição um santuário de exemplo educacional durante todo o decorrer do século XX, sob os auspícios de um corpo docente “mitológico” e de um prédio vestuto e republicano.
O resultado é de um trabalho com bases sólidas e de verdades que nos faz compreender melhor a cidade naqueles primeiros anos do século XX, principalmente em sua verve econômica. Por deixar nas entrelinhas que nem tudo girava pela fazenda de café ou pela florescente agropecuária leiteira. Que existiram brechas de ascensão social para os filhos de comerciantes ou empregados públicos através do exercício do magistério. E, também, nas diferenças entre a educação daquele tempo e a atual, sem cair em juízo de valor algum. Apenas para verificar que algo pode estar errado nos dias de hoje, pois não temos mais uma escola, homens e mulheres que deram para Guaratinguetá o epíteto de “Atenas do Vale”.
Somente uma leitura do trabalho para conferir o quanto ainda não sabemos de nossa própria história e sobre as maneiras de pesquisar e escrever a história no Vale do Paraíba.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Guichê Filatélico em Guaratinguetá

História e Filatelia são paixões amigas. Companheiras inseparáveis pela multiplicidade de temas que desperta a curiosidade e ensina pela observação e pela estética. Pode-se dizer que a filatelia é por excelência na divulgação dos acontecimentos do passado e do presente e, ousadamente, uma fonte primária muito específica da história por servir de mote para buscar informações mais de talhadas acerca da temática impressa nos selos. Além disto, remete indiretamente ao mundo das missivas, consideradas fontes históricas privilegiadas na historiografia e literatura atuais.
E, felizemente, foi inaugurado no dia 06 de julho de 2010, na Agência dos Correios de Guaratinguetá, um Guichê Filatélico para atender os amantes da filatelia e a todos que tenham curiosidade em conhecer e entrar no mundo maravilhoso dos selos. Já está em funcionamento, com variados produtos e com atendimento de qualidade.
Todo pesquisador, historiador e interessados tem acesso privilegiado, bastando pegar a senha específica na entrada da agência.
Em destaque selos e blocos dos duzentos da vinda da Família Real em 2008, a Presença Holandesa no Brasil e o Centenário do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Além de cartões postais alusivos aos selos, kit para colecionadores e classificadores com todos os selos lançados durante o ano.
Uma boa hora para estimular crianças e jovens na arte de colecionar selos, servindo como instrumento lúdico e didático nas escolas do município. Cada unidade escolar deveria ter sua coleção própria; todo professor poderia levar seus alunos para conhecer o trabalho de filatelia nas agências de sua cidade, e o governo deveria incentivar e subsidiar tal prática.
Imagem: Selo Comemorativo da Presença Holandesa no Brasil, 2009. In: www.correios.com.br/selos/selos_postais/selos_2009/selos2009_18.cfm (acessado em 07/07/2010).

terça-feira, 6 de julho de 2010

Para Conhecer a Ascensão Política de Rodrigues Alves

Escrever sobre a vida de Rodrigues Alves pode parecer fato consumado por não despertar nenhum interesse ao público ou por não contribuir para um debate profundo acerca da República nos primeiros trinta anos do século XX, principalmente após a publicação, em 1973, da obra “Rodrigues Alves – Apogeu e Declínio do Presidencialismo”, de autoria de Afonso Arinos de Mello Franco.
Mas é relevante lembrar que o construir da história é dinâmico e que, enquanto ciência, ela possibilita novas abordagens, análises e interpretações acerca de fatos irrelevantes e, neste sentido, o que parece óbvio pode revestir-se de significados profundos mediante a releitura dos fatos, na medida em que o historiador infere e dialoga com questões próprias e subjetivas do seu objeto.
Portanto, a abordagem histórica de um mesmo tema não é necessariamente fato consumado, principalmente quando variáveis externas exigem um posicionamento didático em linhas simples e com foco na disseminação do conhecimento a um público leigo.
Na busca por um ordenamento objetivo, de linguagem acessível e positivista, surgem premissas de percepção irrelevante e, consequentemente, questionamentos que desatentamente perderam a racionalidade diante do domínio das grandes estruturas e categorias analíticas da história. Deste modo, o que antes era imperceptível pode suscitar novas comparações e análises, abrindo perspectivas amplas para a produção historiográfica de caráter reiterado e dinâmico. Do contrário, a história seria estática e desvinculada dos preceitos sociais de atender uma demanda coletiva pelo conhecimento.
E, Francisco de Paula Rodrigues Alves, no bojo destas perspectivas, faz perceber, durante o processo de retorno aos dados biográficos, uma indagação fugida, simplista e fundamental para entender o processo social, econômico e político de dois períodos importantes da História do Brasil, seja por quesitos acadêmicos ou escolares: Império e República. A gênese e a metamorfose na ascensão política do personagem enquanto resultado do meio.
Além de tudo, em se considerando a abrangência coletiva do tema, traria a possibilidade do micro olhar acadêmico, numa extremidade, e a disseminação do conhecimento amplo em outra, enquanto mote de retomada da biografia e da história em linguagem simples para o público escolar dentro de um viés de caráter mais profundo.
No caso da vida e obra de Rodrigues Alves, a assertiva encaixa perfeitamente; por conhecer o que possibilitou a ascensão política entrelaçada com a própria história da época. E a releitura para observar outras variáveis possíveis ainda não objetos de abordagem no seio acadêmico.
A ascensão no meio político brasileiro tem o seu porque e a sua explicação, e torna-se interessante quando nos lembramos de uma frase dita por político da época: que “Rodrigues Alves se parecia muito mais com um presidente de câmara municipal do que com um presidente da República”. Surgindo, então, outra indagação: como um homem de uma pequena vila paulista tornou-se um estadista, um político privilegiado dentro do partido e na nação? Um homem a quem muitos recorreram na casa de Guaratinguetá.
A razão está em inúmeras variáveis, muitas anteriores ao seu nascimento, em fatos e costumes sedimentados em séculos de história.
Será necessário, portanto, para entender a colocação de Rodrigues Alves no mais alto patamar da política, demonstrar a situação social, econômica e política do século XIX, tendo como pertinência uma estrutura positivista: 1848 – 1873 - Nascimento e origens familiares, a educação de uma época (1850-1860) – Primeiras Letras, Escolas e Bacharelado em Letras (Colégio Pedro II) – Largo de São Francisco e o bacharelado em Direito na política (1861-1865); 1865-1872 - O Retorno para a vila – advocacia e relacionamento social e político em Guaratinguetá; 1873-1875 – A aventura política por herança, o casamento e a experiência provincial; 1875-1902 – Ideais e experiência adquirida.
Imagem: Francisco de Paula Rodrigues Alves. Acervo do Museu H.P. Conselheiro Rodrigues Alves.

domingo, 4 de julho de 2010

Major Novais em Ruínas

Pasmem! O Museu Histórico Pedagógico Major Novaes está em ruínas, caindo parte a parte todos os dias. Um exemplo monstruoso do descaso público pela memória e a história do Vale do Paraíba. Um desrespeito ao ser humano, um exemplo de que o país não tem futuro.

O Museu Major Novaes localizado, em Cruzeiro-SP, está na iminência de cair totalmente, mesmo com as autoridades municipais passando todos os dias ao seu lado.
Considerável parte já não existe mais e agora está ruindo a parte central, sem que alguém tome providências a respeito. Os funcionários que lá trabalham nada podem fazer, a não ser rezar para não ter suas vidas em risco. São subalternos, não tem autoridade pública para manipular os milhões que a cidade não aplica todos os anos em obras necessárias ou que são desviados para não sabemos o que.
A história de Cruzeiro tem naquela construção um de seus marcos de civilização e urbanização e é um patrimônio que poderia ser desfrutado por toda a população, seja como veículo de entretenimento em sua ampla área verde ou como pólo de difusão cultural e educacional. Assim como um pólo de pesquisa regional ligando todas as cidades do Vale Histórico, pois em seu interior existe um importantíssimo acervo judiciário de documentos do final do século XVIII e inicio do XIX, abrangendo cidades como Silveiras, Cachoeira Paulista, Areias, Queluz, São José do Barreiro e Bananal.
É um museu que foi municipalizado pelo Governo do Estado e que hoje é de responsabilidade da Prefeitura Municipal, e que tem o dever de elaborar projetos para salvar o prédio e toda a documentação existente, bem como, a partir daí, buscar recursos na iniciativa privada ou no Governo Federal para elucidar o assunto, já que recursos próprios dizem não ter!
Mas nada, por enquanto, aconteceu! Vozes solitárias bradam por uma solução e nem os interesses escusos dos tempos eleitoreiros estão na espreita por não dar voto. O que é burrice, pois com imaginação poderia render votos. Onde estão as classes políticas, os educadores, as universidades? Estão em berço esplêndido ensinando teorias que na prática pouco vale? Nas ruas abraçando criancinhas e distribuindo beijinhos como esmola?
É um absurdo num país que se diz moderno, que a história esteja no chão, igualmente ao povo que continua ao rés-do-chão.
Imagem: Museu H.P. Major Novaes - Cruzeiro. In: academiadobode.blogspot.com - acessado em 04/07/2010.

Lição de História na Copa 2010

Mais uma vez repete-se a cena de desalento e choro pela derrota e saída da seleção brasileira da Copa do Mundo.
Como em outros anos, vemos patente a falsa realidade do conjunto do esporte brasileiro. E, mais uma vez, ela reforça e grita aos brados que algo está errado; algo precisa ser pensado e modificado. Não somente no esporte, mas em toda a estrutura social brasileira. O futebol é o mote que possibilita refletir no conjunto da atualidade
Entre tantas consequências da derrota, a lágrima do torcedor é fruto do quanto o brasileiro acredita no seu país e não é correspondido como deveria. E, por sua vez, é o reflexo dos vícios entranhados culturalmente na história brasileira.
Embora demonstre alguma consciência da realidade, criticando posicionamentos, escalações e métodos, o torcedor acredita no futebol brasileiro e na política. E o esporte acaba por representar as esperanças de um país que vive os infortúnios de uma sociedade injusta. Como se ele fosse a tábua de salvação dos problemas diários.
E, em momento algum, os representantes esportivos e políticos correspondem ao senso de justiça e igualdade que o povo brasileiro demonstra durante a torcida pela vitória ou no sentimento de derrota estampada no olho molhado e incrédulo. Rostos atordoados e sentimentos de perda e destruição que são continuamente desconsiderados.
Se pensarmos profundamente, vamos concluir que a derrota da seleção é parte de uma triste realidade que não conseguimos discordar, discutir e mudar. Não é dada a chance de participar e opinar. Da economia a política, do futebol a cultura, nada nos é delegado. Apenas se finge fazer, cabendo-nos acreditar que tudo está melhorando e que tudo vai renascer melhor.
No futebol vêem-se propagandas infames, que esconde a verdadeira intenção por detrás de projetos e interesses milionários. Prepotência e desmandos alijando o verdadeiro espírito esportivo.
Na política, imagens de projetos sociais paternalistas, que são verdadeiros engodos, travando o desenvolvimento sustentável e igualitário. Migalhas que procuram calar a boca e mostrar que o país será no futuro uma potência.
Mas, na verdade, continua apenas perpetuar o tom pessoal e as vaidades veladas das ações humanas que desrespeitam a consideração que o povo empresta aos dirigentes políticos e esportivos. Porque o alvo não é o brasileiro coletivo e sim as grandes corporações de homens e mulheres que se rendem ao império das fortunas.
Estamos derrotados e continuaremos assistindo a política, a economia, a CBF e a Fifa fazendo e desfazendo no jogo do mando, ganhando dinheiro e fazendo o pior no futebol e na sociedade.
Tomemos o futebol como exemplo para pensar. Será um começo para a mudança de atitude.
Por enquanto, nada está mudando, apenas diversificando-se a maneira de como enganar.

sábado, 3 de julho de 2010

O Museu e o Historiador

O presente texto é parte integrante de uma palestra proferida no Centro Universitário Salesiano em 2008, em Lorena.
E apresentado aqui com formato sucinto para que os leitores possam raciocinar sobre alguns aspectos e conceitos pensados e aplicados atualmente nas instituições museais.
Assim, quando o leitor visitar grandes ou pequenos museus poderá identificar, de forma ampliada, a realidade dos museus, principalmente no interior do Estado. Além de poder conhecer melhor toda a estrutura de funcionamento e o quadro de funcionários.

Histórico-Museu

Até a década de 1990

-museus de caráter específico – guardar coisas velhas;
-enaltecimento das elites – sem vínculo passado-presente;
-incapacidade de resposta aos interesses comuns;
-falta de vínculo com a realidade;
-sentido pejorativo – confusão de conceitos;
-passado e memória;
-falso sentido da história;
-inexistência da noção e do valor do patrimônio; e
-confusão do público e privado – extensão doméstica.

Pós-década de 1990

Novo Conceito para Museu
-instituição multidisciplinar;
-local de encontro de culturas;
-local para ações e reflexões;
-aprendizado informal – prática, criatividade e interação;
-criação de novos conceitos e conhecimentos;
-despertar consciência – interação com a história, memória e com o patrimônio; e
-local de atuação de diversos profissionais.

O Museu e os Profissionais

-Local privilegiado de ações envolvendo diversas visões de mundo a partir das experiências dos profissionais

-museólogo;
-administrador;
-arquivista;
-bibliotecário;
-restaurador;
-artista plástico e outras categorias;
-educador;
-técnicos da área de informática;
-psicólogos;
-assistentes sociais;
-profissionais do turismo;
-voluntários;
-historiador e
-outros profissionais da ciência e tecnologia.

Áreas e Departamentos

O museu deve ser um conjunto de departamentos bem definidos e estruturados de acordo com a realidade da instituição

-setor administrativo;
-setor educacional;
-setor técnico;
- serviço de assessoria de comunicação e
-setores diversos de atendimento – educacional e comercial e de manutenção.

Estrutura Física

A instituição museal tem áreas específicas para atendimento dos diversos serviços oferecidos ao público e a manutenção da mesma.

-área expositiva;
-área expositiva temporária;
-reserva técnica;
-parte administrativa;
-área técnica – laboratórios diversos e
-setores diversos de atendimento ao público.

Museus – Tipologias

Existem inúmeras categorias de museus, classificados de acordo com o acervo ou categoria do conhecimento, comportando ou não mais de uma modalidade:

-iconográficos;
-etnológicos;
-históricos;
-biográficos;
-sem acervos materiais (cultura imaterial ou tecnológico e virtual);
-mobiliários;
-arte Sacra;
-artes em geral e
- outros.

Problemas e Deficiências Atuais

O museu padece de sérios problemas de origens diferentes:
-falta de mão-de-obra qualificada;
-baixos salários e instabilidade profissional;
-falta de verbas;
-falta de uma política pública;
-ausência de ações culturais programadas a longo prazo ;
-ausência de comunicação e interação com a comunidade e meios de comunicação e
-falta de comprometimento com a realidade: ensino.

Projetos Educacionais e Culturais no Museu

Como instituição multidisciplinar, o museu pode desenvolver infinitos projetos educacionais e culturais, baseados principalmente na feitura de programas a curto e longo prazo, preenchendo vazios deixados por setores similares, independentes do acervo que possuam
Para valorizar o patrimônio material e Imaterial de uma região e de uma comunidade o museu realiza:

-teatro;
-música;
-literatura;
-pesquisa escolar e acadêmica;
-lançamento de livros
-cursos;
-workshops;
-monitoria e
-programas para públicos especiais.

O Historiador no Contexto Museal

O historiador e o professor de história têm exercido um papel fundamental dentro da instituição, tendo como base de seu trabalho a formação de consciência das novas gerações de indivíduos dentro da sociedade, através de meios e suportes diversificados de ação, buscando informações que façam conhecer ou esclarecer os laços que possam intermediar um diálogo de passado, presente e futuro, valorizando a cultura como um meio de democratizar o ser humano vivendo em comunidade.

Setores de Atuação do Historiador
O historiador faz um passeio por todos os setores que compõe a instituição, desenvolvendo a criatividade:

-na Pesquisa sobre o acervo do museu;
-na classificação de acervos documentais, tendo como base a disponibilidade dos mesmos;
-na Monitoria qualificada;
-no Desenvolvimento de projetos culturais;
-no apoio teórico na restauração e conservação;
-no Auxílio de Pesquisa Acadêmica;
-na elaboração de guias do acervo;
-na avaliação das peças adquiridas pela instituição;
-construção de uma identidade do museu;
-no serviço de interação com os meios de comunicação;
-na aquisição de obras de referência para biblioteca;
-no entrosamento com a escola pública e
-no programa de digitalização de fotografias e documentos

Atitudes do Historiador no Museu

-o historiador deve assumir algumas posturas críticas quanto aos programas desenvolvidos na instituição;
-estar em constante trabalho de reciclagem do conhecimento e aperfeiçoamento das formas de atuação;
-não ter medo de conhecer o seu ofício, colocando a mão na massa. Conhecer arquivos, instituições similares, documentos e revistas especializadas;
-constante contato com outros profissionais para troca de idéias, procurando evitar que a sua instituição seja estanque;
-ter amor e tomar uma atitude consciente do trabalho quer realizar;
-treinar e não ter medo da criatividade e
-acreditar no que faz. Errar é humano.

Imagem: Vista áerea do Museu Paulista - São Paulo-SP. In:www.usp.br/cpc/cpcinfo/cpcinfo-0402.html (acessado em 03/07/2010)


Joaquim Roberto Fagundes