Em 2010 a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro comemora dois centenários. Em 29 de outubro de 1810, Dom João VI assina decreto criando a biblioteca régia, com acervo que trouxera de Portugal em 1808. Na mesma data, em 1910, o Presidente Nilo Peçanha inaugura o prédio atual, que teve a pedra fundamental lançada pelo Conselheiro Presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves, em 1905.
Para os freqüentadores assíduos, pesquisadores e historiadores, é uma data feliz por lembrar a sua importância para a história do Brasil e por ser um local que inala sabedoria e aconchego.
Para quem já teve o sabor de pesquisar em suas dependências sabe que é uma experiência única e que retornar é um dever.
Minha experiência pessoal remete, em momentos distintos, ao aprendizado sempre presente em todas as vezes que lá estive. Seja enquanto buscava fontes sobre o Vale do Paraíba ou nas visitas técnicas que realizei durante a participação de congressos na cidade do Rio de Janeiro. Deste modo, tenho a honra de fazer parte daqueles que sentem prazer renovado quando adentra as suas dependências para visitar e, principalmente, para pesquisar.
Por estes motivos, tenho comigo que a melhor forma de lembrar os dois centenários da instituição é discorrer algumas linhas da experiência e conhecimento que obtive nos vários setores da biblioteca, encontrando informações ou tomando café junto a amigos, sob a cúpula ladeada por livros. Experiências de conhecer um pouco das fontes históricas do Vale do Paraíba.
Frequento a Biblioteca Nacional desde 1990, quando, pela primeira vez, fui buscar informações sobre jornais antigos de Guaratinguetá, disponíveis, então, no setor de referências, no primeiro andar. E que pude consultar em microfilme alguns dos seus exemplares do inicio do século XX e, posteriormente, os jornais do Rio de Janeiro no período em que o Conselheiro Rodrigues Alves foi presidente da República (1902-1906). Oportunidade em que aprendi apreciar as caricaturas e os desenhos como formas de expressão e de análise da história. Neles descobri que as imagens mostram um mundo diverso da documentação escrita, onde a crítica permeava cada traço do desenho, desencavando opiniões diferenciadas e mentalidades diversas sobre o conturbado inicio do período republicano. Críticas sobre a política financeira, a revolta da vacina, a remodelação do Rio de Janeiro e os embates da classe política sobre as diretrizes do governo.
Em outras ocasiões pesquisei no que considero o principal setor da Biblioteca Nacional, a Seção de Manuscritos Raros, localizado no segundo andar. A sala ampla, rodeada de fichários com referências documentais de todo o país e suas mesas sóbrias era um convite para o deleite de descobrir e informações e, ao mesmo tempo, uma terapia sem precedente. Horas de prazer indescritível ao deparar, por exemplo, com um documento original da fundação da cidade de São Luiz do Paraitinga; com homens e mulheres valeparaibanos mencionados no precioso acervo do Morgado de Mateus, Governador e Capitão-General da Capitania de São Paulo, principalmente Frei Galvão e suas cartas falando do Convento da Luz.
No setor de referências bibliográficas, que consultei poucas vezes, encontrei exemplares não tão antigos, mas raros no Vale do Paraíba e que numa oportunidade propícia escrevei sobre.
E tecnicamente, como profissional que atua em museu, conheci os bastidores da instituição, onde anônimos profissionais preservam e disseminam conhecimento ali acumulado. Ocasião em que constatei o contínuo trabalho de restauro de livros e documentos antiqüíssimos, anteriores ao descobrimento do Brasil. Os produtos utilizados e as técnicas sofisticadas e pacienciosas utilizadas por homens e mulheres de máscara e luvas. O acondicionamento em caixas próprias, desenvolvidas e montadas em oficinas próprias, e a limpeza e higienização de obras mais recentes.
Enfim, um mundo maravilhoso para pesquisar, conhecer, disseminar e conservar. Um mundo precioso do passado e do presente. Uma forma de comemorar cada ano, década e centenário.
Joaquim Roberto Fagundes
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