Encetar analise sobre a produção intelectual de um determinado autor exige adentrar na sua compreensão de mundo, para reconhecer as construções mentais próprias e as influencias externas sofridas, em qualquer campo do conhecimento. E isso exige preparação anterior (leituras e analises) e um tratamento qualitativo adequado para com o material encontrado, para que não caia em mero resumo bibliográfico, em nada desejado por leitores exigentes.
Ao
mesmo tempo, ao contrario do exposto, os escritos de pequena envergadura analítica
e intelectual, destituídos do rigor cientifico exigido, são importantes como instrumentos
de referencia ou fontes de informação, por vezes, privilegiadas. Servem de
elemento introdutor para pesquisa e montagem de um estudo adequadamente
estruturado e profundo nas suas ideias. Para uma biografia robusta revestida de
inserções múltiplas e prosopográficas.
Desse
modo, dificilmente pode se esperar de trabalhos dessa natureza uma isenção de
quem escreve sobre um autor especifico, a não serem considerações pessoais de
cunho ensaístico a iluminar proposições e hipóteses, originarias de
pressupostos obtidos por leituras iniciais e superficiais. Terá subjetividade inerente aos aspectos
restritivos de um estudo inédito.
E,
nesse sentido, o presente texto circunscreve-se a uma tentativa de demonstrar
alguns aspectos biobibliográficos do escritor e historiador Paulo Pereira dos
Reis, destacando da sua produção intelectual algumas ideias e perspectivas para
a historiografia valeparaibana atual. Percebendo especificamente a operação de construção
de uma de suas obras: “Lorena nos séculos XVII e XVIII”. Juntamente com outras publicações
similares que expressam a preocupação do autor em estabelecer uma linha temática
de pesquisa no Vale do Paraíba, a partir de fontes documentais inéditas, com
fulcro no povoamento. Especificamente na região denominada pela geografia da época
como “Lés-Nordeste”, cujo território pertenceu administrativamente, em tempos
distintos, para as Capitanias de São Vicente e Santo Amaro, e vilas de Guaratinguetá
e Lorena. Hoje conhecido como Vale Histórico, Serra da Mantiqueira e parte do
vale fluminense (Rezende e adjacências).
A trajetória
intelectual de Paulo Pereira dos Reis nos quadros da historiografia regional e emblemática
do escritor valeparaibano. Uníssona, em primeira instancia, com os aportes metodológicos
e analíticos largamente empregados no Brasil em quase todo o decorrer do século
XX. A ciência positivista, cuja orientação objetiva e o farto uso de documentos
eram balizas suficientes para reconstituir amplos cenários históricos. Sob a
forma de uma escrita exaustiva, cronológica e descritiva.
Com
apenas a diferenciação no aspecto relativo a pesquisa empírica, enquanto cautela
no levantamento, seleção e processamento dos dados. Sobretudo na busca de
fontes inéditas, cujo objetivo centrava-se na inserção totalizante dos dados num
quadro mais amplo da historia de São Paulo e do Brasil. O que nem sempre foi
uma pratica corrente entre os profissionais que escreveram sobre a região,
notadamente se adentrar ao aspecto memorialístico encontrado em grande parte das
obras desse gênero.
Além
disso, uma trajetória previa similar a de outros profissionais das letras e da
educação, cuja formação não residia propriamente na historia. O que faz pensar
na origem dos interesses compartilhados por outros tantos intelectuais da região,
cujo encontro residiu originalmente em registrar a historia da cidade, mas que
no caso de Paulo Pereira dos Reis, transformou-se num sentido diretivo e
cientifico de entender a formação do território e da população do Vale do Paraíba
ao longo da historia.
Tendo
como mote definir, ou pelo menos tentar, uma identidade própria do homem
regional, ligado na perspectiva antropológica da formação identitária,
organizada no espaço-tempo da historia desde os primórdios da Colônia,
culminado, com isso, no registro social e econômico da ocupação da região e da
sua atuação nesse meio (uma sociologia por assim dizer). Em melhor se
referindo, na busca do sentido da colonização valeparaibana, de influencia Pradiana e Freyriana, em voga entre as décadas de 1930 e 1960.
Roteiro Biográfico
Nascido
em Piquete a 25 de abril de 1919 e falecido em Lorena a 30 de marco de 1997, filho
de Francisco Pereira dos Reis e de Emilia Costa Pereira dos Reis, de ascendência
familiar originaria de varias cidades da região e de Paraty. Residindo, durante
a infância na Vila Militar da Estrela, casa numero 45, próxima à Estação Ferroviária
da Serrinha, a poucos metros do Hospital da Fabrica, dirigido pelos médicos Capitão
Francisco Rodrigues de Oliveira e Tenente Alberto Antonio Marie Vaisse.
Seu
pai era segundo químico da fábrica e desempenhou diversas funções na fabricação
de ácidos sulfúricos, clorídricos e pólvoras de base simples.
Segundo
Wanderley Gomes Sardinha[1], foi por esse tempo que
teve vida leve e simples, registrados no livro de memórias do escritor[2]. Momentos que conviveu com
seus colegas de escola do grupo escolar de Piquete, seus professores, Dona
Maria Antonieta e o diretor Frederico Ramos, entre os anos de 1927 e 1931.
Posteriormente
cursou o ginasial no Colégio São Joaquim, na mesma cidade, onde revelou sua inclinação
para os estudos de maior envergadura e profundidade. No período coincidente com
a Revolução Constitucionalista de 1932, que trouxe grandes dificuldades para a família.
No São Joaquim foi aluno dos mestres Padre João Ravizza, um dos maiores
latinistas que passaram pelo Colégio e Padre João Renaudim. Que grande
influencia tiveram na formação clássica do autor. Levando-o a juntar-se, em
anos posteriores, com outros estudantes, para publicar o jornal “O Acadêmico”.
Que lhe proporcionou o gosto pelos estudos e pela publicação de artigos.
Entrou,
em seguida, para o curso de magistério na Escola Normal Patrocínio São Jose, em
1938, em Lorena, onde terminou em 1940. E posteriormente diplomado em Ciências Jurídicas
e Sociais e em Administração de Empresas, em 1967, na Universidade de Taubaté.
Seguindo
carreira, exerceu concomitante, durante toda a vida, cargos docentes e administrativos
burocráticos, conseguindo êxito em ambos.
Na área
administrativa fez carreira na Caixa Econômica Estadual, onde ingressou como escriturário
a 15 de outubro de 1940, chegando, por merecimento, ao cargo Maximo de
superintendente, aposentando-se a 31 de maio de 1976.
No magistério
teve eficiente vida profissional, tendo se destacado, primeiramente como
professor normalista (1939-1940) e professor secundário de sociologia e de
historia geral e do Brasil (1941-1962). Alem de ter ocupado a cadeira de Historia
e Economia Política na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena.
Pertenceu
a Academia Paulista de Historia (cadeira nº 20), Instituto Histórico e Geográfico
de São Paulo, Academia Cristã de Letras (cadeira nº 31), Academia Paulista de
Letras, Sociedade de Estudos Históricos de São Paulo e da Sociedade Brasileira
de Heráldica e Medalhística, Rotary Club de Lorena (fundador e presidente),
Centro de Estudos Gustavo Barroso (FFCL – Lorena), Conselho Federal de Técnicos
em Administração de São Paulo e PEN Centre de São Paulo. Foi um dos fundadores
do Instituto de Estudos Valeparaibanos, em 1973, e presidente dessa entidade no
período de 1978 a 1980.
E
recebeu os títulos de Cidadão Honorário de Lorena e de Intelectual do Ano
(1978), Troféu Piraquara, do Rotary Club.
Participou,
ainda, de diversos cursos, entre eles: curso de extensão universitária sobre a
“Formação da Personalidade”, curso da ADESG, curso de dinâmica de grupos para
professores universitários, curso de Historia Regional do Vale do Paraíba e
curso Sesquicentenário de Direito Tributário. E foi Assistente Técnico de Gabinete
do Governo do Estado de São Paulo (1977-1979) e presidente da Comissão Estadual
de Literatura do Conselho Estadual de Cultura.
Deixou vários artigos e obras
publicadas: Algumas Considerações sobre a Imigração no Brasil. Separata da
Revista Sociologia. São Paulo, vol. XXIII, nº 1, março de 1961; A miscigenação
e a Etnia Brasileira, Revista de Historia, n 48, São Paulo, 1961; O
Colonialismo Português e a Conjuração Mineira. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1964; Os Puris de Guaipacaré e Algumas Achegas à Historia de Queluz.
Revista de Historia, 61. São Paulo, 1965; Guaipacaré, região e porto do Vale do
Paraíba. Revista de Historia, 69. São Paulo, 1967; O Caminho Novo da Piedade no
Nordeste da Capitania de São Paulo. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura,
1971; Introdução e Notas. In: RENDON, Jose Arouche de Toledo. Obras. São Paulo:
Governo do Estado de S. Paulo, 1978 (Coleção Paulística, III); O Indígena do
Vale do Paraíba. São Paulo: Governo do Estado de S. Paulo, 1978 (Coleção Paulística,
XVI); As divisas Municipais entre Guaratinguetá e Lorena. Taubaté: Universidade
de Taubaté, 1980 (Coleção Ensaios); O Vale do Paraíba nas Rotas das Expedições
Vicentinas. Revista da Academia Paulista de Historia, 1, 1981; O Território
Oriental da Vila de Lorena. Anais do Museu Paulista, tomo XXX, São Paulo,
1980-1981; Os Povoamentos de Taubaté, Núcleo Pioneiro, de Guaratinguetá e do
seu Porto de Guaipacaré. Revista da Academia Paulista de Historia, 2, 1982;
Lorena nos Séculos XVII e XVIII. São Paulo: Fundação Nacional do Tropeirismo
(Cadernos Culturais do Vale do Paraíba).
Em busca da historia da cidade e da região
Logo
após a Segunda Guerra Mundial, Paulo Pereira dos Reis começa a pesquisar sobre
os primeiros dias de Piquete. A partir de não aceitar o fato de que a passagem
de um piquete de cavalaria, em 1842, por Lorena, durante a Revolução Liberal de
1842, tenha dado origem à cidade de Piquete.
Descobre
que Miguel Garcia Velho, bandeirante natural de Taubaté, em 1701, adentrando os
sertões do Capivari alcança as alturas da Mantiqueira, junto ao Pico dos
Marins, e chega ao rio Santo Antonio, no lado norte da elevação, onde encontra
ouro. São as minas de Itajubá, cuja exploração demoraria um século. Estas
recebem escravos oriundos do golfo da Guine e brancos portugueses e paulistas
que, mais tarde, migram, principalmente para o sul, para as terras que daria
origem à Piquete. Entre eles a família Pereira de Castro, Bicudo Leme e tantas
outras, juntamente com os negros mineradores, que também contribuíram para o
povoamento da futura vila. Era o local da saída do ouro do rio Santo Antonio
para o Vale do Paraíba, através da garganta denominada do Embaú.
Na seqüência
das pesquisas sobre sua terra natal descobre, também, que no ano de 1741 o
lorenense Lazaro Fernandes, residente no bairro do Campinho, abre um caminho
para as minas, subindo o rio que passa pela vila do Embaú, até alcançar sua nascente na Serra da Mantiqueira. O caminho
curto, mas por onde grande parte do ouro era contrabandeada para outros locais,
desviando-se do caminho oficial para Paraty. E por ele, onde o capitão das
ordenanças Vilas Boas Pereira envia um piquete de cavalaria, sob o comando do
alferes Manuel Domingues Salgueiro para estabelecer um registro na Serra da
Mantiqueira e coibir o contrabando do metal, no de 1764. Quando inicia, segundo
as pesquisas do escritor, o povoamento da vila de Piquete. Provando que a
teoria sobre ter surgido durante a Revolução Liberal de 1842 era apenas especulação
ou uma memória sem origem definida.
Dai
por diante, destaca-se como pesquisador serio e comprometido em buscar a
verdade sobre os fatos da sua cidade. Interesse do particular que o orientou
rumo ao macro, delineando a ideia de estudar o povoamento e a formação do território
valeparaibano, tendo como referencial a documentação inédita existente em
arquivos espalhados pela região, por São Paulo e Rio de Janeiro. E auxiliado
por suas observações acerca em demarcar o modo que se deu a constituição das
vilas e suas relações com o Rio de Janeiro e com as leituras a respeito da
identidade dos povoadores. Sua marca registrada de historiador que segue o fio
de Ariadne com o objetivo de entender o homem valeparaibano, pela via da
antropologia e da sociologia, com fulcro no Brasil Colônia. Cujo período era pouquíssimo
estudado por aquela época, por falta de conhecimento documental e desinteresse.
O que o levou a escrever obras e artigos de caráter e interesse regional e
nacional. A exemplo da obra sobre o colonialismo português e a conjuração
mineira, fatos amplamente imbricados e refletidos na região. Confirmando a tendência
do particular para o geral, procurando entender os laços estruturais formadores
de uma historia registrada na escrita do homem valeparaibano.
Construção dos escritos
O
perfil de historiador do Professor Paulo Pereira dos Reis indentifica-se em vários
aspectos com a de inúmeros homens das letras de sua época, notadamente das áreas
do jornalismo, do direito e das letras. Mas diferencia-se por não compartilhar
totalmente com o caráter memorialístico presentes em inúmeras obras existentes
no Vale do Paraíba. Houve, desde cedo, a preocupação com uma temática única a
ser construída e compreendida, ao contrario de eleger varias frentes de
pesquisa estanques entre si. O que resultou na construção de uma linha de
pesquisa cujo objetivo central foi a busca e o aprofundamento sobre as
primeiras raízes coloniais, o seu desenvolvimento e movimento pela região, sem
parecer meramente positivista. Embora se mostre, em certo tom, exaustiva, dado
o grande numero de fontes de pesquisa utilizadas. O que não tira em nenhum
momento o mérito dos seus estudos, mesmo quando se trata de observar uma implícita
ideia de progresso, nos moldes positivistas, com evolução cronológica.
As contribuições
de Paulo Pereira dos Reis pela escrita têm inicio, plenamente, na década de
1950, quando são impressas separatas de dois discursos (1953-1954) contendo depoimentos
apresentados, respectivamente, na sessão cultural promovida pelo Grêmio Olavo
Bilac, do Ginásio Estadual Arnolfo de Azevedo, e no Centro Cultural Odila
Rodrigues, em comemoração à Proclamação da Republica. Mostrando suas primeiras preocupações,
marcadamente filosóficas, acerca do progresso cientifico diante da felicidade
humana e sobre os atos de governar em beneficio da comunidade (filosofia
social)[3]. Anteriormente, em 1947,
escreveu apenas o artigo “Non scholae sed vitae docendum” sobre educação.
Voltando ao mesmo tema em 1956 com a tese “O ginásio e a realidade brasileira”,
apresentada durante o Encontro de Educadores do Vale do Paraíba.
Mas é
a partir da década de 1960 que se percebe uma linha direcionada para as questões
de etnia, miscigenação e imigração no Brasil e na região, com viés sociológico,
refletidas, sobretudo em dois escritos publicados nos periódicos: Revista
Sociologia e Revista de Historia, respectivamente os artigos: “Algumas Considerações
sobre a Imigração no Brasil” e “A Miscigenação e a Etnia Brasileira”. Textos
que, por assim dizer, inauguram sua maturidade como escritor e pensador.
Posteriormente refletores de uma fase de maior caráter histórico, revelando as
etnias dos povoadores da região.
No
primeiro artigo faz um panorama da imigração no Brasil, tratando sobre o
ajustamento do imigrante em terras brasílicas, o crescimento demográfico em
face da imigração no decorrer do tempo (com a utilização de estatísticas), as
principais correntes a partir do período colonial, as imigrações internas em
São Paulo, dando ênfase ao elemento japonês.
No
seguinte a forte miscigenação ocorrida no país, com base em trabalho de Nina
Rodrigues, destacando a indígena e a africana com a raça branca, fazendo
estrita ligação com os diversos períodos econômicos no Brasil e sua influencia
sobre o tema.
Doravante
não mais publicaria temas dessa natureza, ficando um hiato de escritos entre
1962 e 1963, e a partir do ano seguinte ter como interesse geral a área histórica,
com a publicação alentada e profunda sobre a conjuração mineira e a ação do
colonialismo português, publicado na famosa serie “Brasiliana”, famosa por
temas brasileiros centrados em folclore e historia. A obra parece denotar o
interesse do escritor sobre um episodio estreitamente ligado ao Vale do Paraíba,
por seus personagens envolvidos de origem na região. Procurando entender o
processo da conjura em face da forte atuação de Portugal na economia aurífera
brasileira.
E
definitivamente volta a historia do Vale do Paraíba, de 1965 a 1971[4], quando inicia estudos
acerca do povoamento da região de Lorena e os caminhos que dali seguiu para o
Rio de Janeiro originando o povoamento e a criação de outras vilas que
permaneceram sob o crivo administrativo daquela durante vários anos. Com exceção
do artigo sobre os índios puri, que mais tarde seria alvo de estudos do autor,
que em nenhum momento descuidou de tratar do elemento natural das terras
brasileiras. O que acontece em 1979, com a publicação da obra “O Indígena do Vale
do Paraíba”, publicada pelo Governo do Estado de São Paulo na clássica coleção
Paulística, sob a direção de Péricles Eugenio da Silva Ramos, outro escritor
nascido no Vale do Paraíba que proporcionou ao autor e a outro lorenense,
Professor Jose Geraldo Evangelista, a divulgar publicamente seus escritos.
A
obra, uma das suas mais importantes, é até hoje
pioneira na região, em se tratando de estabelecer e estudar o elemento indígena
residente na região nos primeiros tempos da colonização, notadamente os Puris,
os Mandus e os Pirais.
Mas
a sua maior contribuição foi “Lorena nos Séculos XVII e XVIII”, por ser uma
obra de fôlego e que serve tanto como referencial de estudo histórico na região,
como modelo de pesquisa historiográfica para as gerações posteriores.
Tal
escrito pode ser definido como uma síntese profunda dos estudos realizados pelo
autor em quatro décadas de pesquisa por arquivos de todo o Brasil. A aclamação
e a continuidade de outros textos e publicações anteriores. O triunfo de uma
linha de pesquisa fundamental para compreender a ocupação territorial e
populacional do Vale do Paraíba. Fundamental para o entendimento da historia do
Brasil, sobretudo as dinâmicas sociais instauradas a partir da colonização por
Portugal.
Uma linha de pesquisa: o povoamento do Vale Paraíba
Os
primeiros passos em direção ao interesse em desenvolver uma temática única e
extensiva, que resultou na sua ultima obra, citada acima, dá-se no momento da
tomada de consciência do autor acerca da inexistência de estudos genéricos e
profundos sobre o povoamento do Vale do Paraíba, partindo do particular em direção
ao geral. Isso na década de 1940, por conta do interesse em esclarecer as informações
desencontradas incluídas em algumas obras de cunho histórico e geográfico, de
teor enciclopédico e base memorialística. Notadamente nos relatos de viajantes
estrangeiros e nos dicionários publicados no final do século XIX. Principalmente
sobre o povoamento da região de Lorena em direção ao Rio de Janeiro.
Aliado
ao fato do seu gostar pelo manuseio de velhos papeis e velhas crônicas e fazê-los
falar. Arrancar-lhes capítulos de vidas e de esforços, para sentir o pulsar dos
sentimentos que a poeira do tempo cobria. Deixando-se levar pelo tempo, como um
historiador de gabinete na solidão dos arquivos e no silencio das bibliotecas[5]. Lendo e fichando inúmeras
fontes primárias inéditas; comparando datas e analisando a coerência das informações.
O autentico historiador e pesquisador “que tornava publica sua vivencia com os
documentos”[6].
A
primeira baliza foi estudar a vila de Lorena, na qual se integrava sua cidade
natal, a vila de Piquete, tentando elucidar os primeiros sinais de povoamento.
O que se dá com as primeiras pesquisas inéditas a respeito do Porto de Guaipacaré
(Lorena) e sobre o elemento indígena na região. E posteriormente do elemento
branco e português em suas correntes migratórias, que resultou na publicação de
dois artigos específicos: “Os Puri de Guaipacaré e
Algumas Achegas à Historia de Queluz” (1965) e “Guaipacaré, região e porto do
Vale do Paraíba” (1967). E concluída, num primeiro momento, com a publicação da
obra “O Caminho Novo da Piedade no Nordeste da Capitania de São Paulo” (1971). Complementado
pela outra obra publicada bem posteriormente: “O Indígena do Vale do Paraíba”
(1979). Obras que receberam ótima recepção nos meios acadêmicos pelo tratamento
dado ao tema e as fontes. Aliado ao fato ressaltado pelo historiador Brasil
Bandecchi, citando palavras de Odilon Nogueira de Matos, na apresentação de uma
das obras de Paulo Pereira dos Reis, de que o objeto de estudo do historiador,
os caminhos e o povoamento do Vale do Paraíba, era imprescindível para entender
a dinâmica social, política e econômica, pois o “aludido caminho foi ‘via de acesso possível à colonização da área que
servia e, assim, à possibilidade de nela estruturar-se, posteriormente, um tipo
de civilização agrária estável’”[7] (REIS, 1980:11).
E ao
enfrentamento encetado pelo autor ao procurar, pela primeira vez, para esclarecer
o emaranhado das tribos indígenas existentes no período colonial, sem outros
estudos, sobretudo arqueológicos. Ou seja, “de
compor o ‘quadro etnográfico’ da Capitania de São Vicente”, problema esse que
resultava da “confusão de etnômios, à notória mobilidade social dos grupos
nativos, às lacunas e incongruências nas informações registradas e outros
tantos empecilhos”[8]
(REIS, 1980:11-12).
Obras
e artigos teceram um primeiro panorama colonial no Vale do Paraíba, perceptível
no plano geral elaborado pelo autor a partir de uma linha didática sucessória
de acontecimentos e embates. E que, grosso
modo, estão divididos em: As incursões quinhentistas às terras vicentinas;
os caminhos do mar no litoral de São Vicente; as primeiras vilas vicentinas e o
povoamento de Minas Gerais; a trilha dos Guianas de quinhentos e o Caminho
Velho seiscentista; o caminho velho de São Paulo para as Minas e alternativas
valeparaibanas; caminhos de Taubaté para o litoral; outros caminhos; caminhos
abertos na extremidade oriental do Vale do Paraíba paulista; o caminho de Goiás;
o caminho fluvial do Tietê para oeste; as penetrações para o sul[9].
E possibilitaram
dar um perfil do povoamento das Capitanias de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e
do sul do país, a partir dos caminhos que irradiaram povoamento. Contribuindo
para entender como paulistas e os portugueses direcionaram suas conquistas
tendo em vista a busca de uma economia favorável. Portanto, estudo inédito
baseado em fontes documentais antes não utilizadas como as sesmarias e a serie
“Documentos Interessantes”, publicada pelo Arquivo Público do Estado de São
Paulo.
Após
essa incursão geral e pontual, despontou uma segunda baliza localizada e
pontual, pelo farto material levantado em arquivos diversos. Os estudos
privilegiando um setor territorial específico, qual foi a região nordeste da
Capitania de São Paulo, onde se assentava a vila de Lorena, que por caminho
aberto por apoio da Coroa Portuguesa deu origem à outras futuras vilas, ligando
a região paulista com a fluminense. E o resultado foi a obra “O Caminho Novo da
Piedade no Nordeste da Capitania de São Paulo”, publicada em 1971, “destacando pormenores históricos sobre a construção,
no século XVIII, de um ‘caminho novo’ destinado a ligar o Vale do Paraíba, em
terras paulistas, ao litoral fluminense”[10].
Um dos mais movimentados. E vital para a economia da região no século seguinte[11].
O
autor busca, nessa obra de fôlego, informações preciosas e concretas, não se
perdendo em comentários inúteis. Revela os acontecimentos na seqüência em que
se desenrolam. Exposto em sentido claro e objetivo, com fortes subsídios a
Historia de São Paulo. Destacando a ação dos governadores da capitania em
promover o progresso da região[12].
Contribuições para a construção a História e para o
ensino na Região
Paulo
Pereira dos Reis foi o intelectual que leu a escrita do homem colonial,
adentrando na sua complexidade adversa ao tempo presente. Buscando
pacientemente os seus rastros e fios, com o objetivo de traçar os discursos
deles emanados. Resgatando os mais diversos perfis da historia paulista e
valeparaibana.
Tal
postura foi preponderante para atingir o objetivo que estabeleceu, priorizando
uma linha de pesquisa única, sem perder o foco mais amplo da historia. Cujo
resultado é paradigmático nos dias atuais, em múltiplos sentidos. Não apenas intrínsecos
aos seus objetos em si. Assemelhando-se aos grandes historiadores do Brasil, como
Rocha Pombo, Southey, Taunay, Varnhagen, Oliveira Lima, Joaquim Nabuco, Sergio
Buarque de Holanda, Capistrano de Abreu, Raimundo Faoro, e tantos outros,
guardadas as devidas proporções no que tange ao período e aos métodos
utilizados.
O legado
de suas obras, portanto, é constituída na atualidade não apenas por uma
referencia de conhecimento da historia do Vale do Paraíba, mas por servir de instrumento
amplo para discutir a pesquisa regional. Tendo em vista ser o conjunto de sua
escrita, sob vários aspectos, pioneira e ousada, com ênfase prioritária nas inesgotáveis
fontes documentais existentes nos arquivos brasileiros; embora possa ser dito
que os seus escritos contenham densidade de informações transcritivas e descritivas.
Pelo contrario, é uma escrita densa e prioritária, ensejando a necessidade de
um retorno aos velhos alfarrábios. Podendo proporcionar olhar diferenciado e analítico
sobre fontes demasiadamente conhecidas e inéditas, além do descritivo. Sem,
embora, escravizar-se pela objetividade das palavras. Situação que o autor
reconheceu alguns anos antes do salto qualitativo das novas metodologias. Bem
anterior ao ciclo iniciado na década de 1970, quando as obras e os escritos
acadêmicos afastaram-se das narrações e memórias locais, buscando novas
releituras acerca do passado.
Nesse
sentido, uma viagem pelas obras de Reis é reiterar suas atitudes e posturas em
face da construção do conhecimento histórico. Sobretudo para as gerações acadêmicas
no tempo presente. Onde inexiste formação adequada e conhecimento profundo.
Notadamente se comparada aos grandes centros universitários.
Portanto,
modelo de estudo histórico-regional para as universidades regionais.
Principalmente na utilização dos documentos no campo da pesquisa. Levando os atuais
acadêmicos a repensar o modus operandi.
Bem como na necessidade de uma literatura própria, de largo alcance, cunho
educacional, e de inúmeras possibilidades de temas de pesquisas preponderantes.
Algo
que possa descortinar algumas situações implícitas na formação e na pratica da
historia. Seja no campo docente ou no exercício do bacharelado. Embora sem
pretender exaustão e total amplitude.
Ou
seja, uma pequena exposição de ideias e preposto para alargar os horizontes de
atuação dos novos profissionais da área, mesmo que em escala sectária. Na qual
existe a imposição de recortes pontuais relevantes além texto histórico em si.
Procurando perceber o universo mental do historiador que lê, pensa e analisa
acerca de sua própria escrita.
A
historiografia valeparaibana produzida nos últimos cinquenta anos é profícua e
abrangente, o que é inegável. Porque todo estudo, obra ou escrito possui sua importância
vital ao mostrar faces diversificadas de uma realidade. E negar isso seria como
desconsiderar a multiplicidade e complexidade do ser humano agindo e
interagindo no mundo a cada momento.
O avanço
proporcionado por numerosos autores valeparaibanos é uma realidade e um
incentivo para a continuidade da pesquisa no Vale do Paraíba. Pois, traz uma contribuição
considerável, que estruturou um passado bem analisado e pensado,
constituindo-se numa grande biblioteca especializada.
Mas
na atualidade, o avanço da ciência histórica pede que seja repensado e
redirecionado o trabalho de produção historiográfica na região. Que ainda esta
longe de ser a ideal diante de novas possibilidades de pesquisa e de fontes
ainda inéditas. E Paulo Pereira dos Reis contribui nesse sentido, porque o fez
com conhecimento e eficácia. Périplo desconhecido pela maioria das pessoas e
dos acadêmicos.
As variáveis
ali presentes em seu trabalho desembocam em três grandes eixos de discussão, a
saber: o retorno para as fontes documentais e a execução da pesquisa cientifica;
o ensino da historia nos cursos superiores; o binômio professor/historiador; os
resultados e a disseminação da produção historiográfica regional, com foco no trinômio
universidade/escola/comunidade. Cada eixo interligado entre si, direcionado ao
único fim de colocar em evidência e discussão as demandas do setor.
O
Vale do Paraíba foi desbravado a partir da primeira metade do século XVII, com
a mudança de paulistas e a chegada de portugueses buscando novas terras e
jazidas preciosas. Tornando-a um misto de região de passagem e de fronteira agrícola
aberta. Propícia para o estabelecimento de famílias em busca de sedentarismo para
viver dos mínimos vitais que a terra poderia lhe oferecer.
Com
o deslocamento constante de homens e mulheres (direção São Paulo – Minas
Gerais) e maior aumento de indivíduos circulantes, cresceu a necessidade de
estruturar núcleos organizacionais capazes de oferecer uma rede administrativa
adequada para atender as demandas crescentes dos serviços sociais e de justiça.
O que, por uma serie de regras, se fez a partir do momento em que foram criadas
oficialmente algumas vilas, como as de Taubaté, Pindamonhangaba e Guaratinguetá.
Essa
realidade transportou todo o complexo aparato burocrático, jurídico e
administrativo português para as vilas da região. Sendo a justiça e a administração
tuteladas pelos edis das câmaras municipais, pelos juízes nomeados e por outros
funcionários designados pela Coroa. Com a tarefa de registrar queixas, discutir
problemas e conduzir processos das mais diversas naturezas: crimes, inventários,
testamentos, etc.
E tais
registros, por sua vez, devidamente guardados, transformaram-se em testemunhas
escritas do cotidiano do valeparaibano colonial. No qual os protagonistas deram
o seu demonstrativo de vida perante a história. Marcando conflitos, embates e
pensamentos que hoje são constituintes de um reflexo do real.
A
escrita feita pela pena dos alfabetizados e letrados configurada em acervos importantíssimos
para o resgate do pensamento passado, a partir do crivo analítico do
historiador que queira, através de pressupostos teóricos e metodológicos
adequados, construir e reconstruir a realidade valeparaibana.
Por
esta razão, e por outros motivos, é que a importância das fontes primárias acaba
por se constituir num pressuposto importante para a pesquisa. Para que com elas
se possa realizar leitura, releitura e interpretação do passado. Revendo
conceitos, verdades, descobrindo novos temas, recortes e outras fontes de
pesquisa inéditas. Daí, também, a necessidade de preservação e divulgação.
Paulo
Pereira dos Reis percebeu essa premissa e demonstrou em suas obras uma efetiva atuação
diretiva nesse sentido. E com isso pode trazer à tona o ineditismo nas informações
e nas fontes, cujo exemplo a historiografia regional ainda na absorveu na
totalidade. Mesmo porque, o numero de arquivos e documentos são imensos de
possibilidades de pesquisa. Embora tenhamos muitas falhas físicas e cronológicas
nos mais variados acervos de origem administrativa e judiciária.
Nesse
ponto o autor contribui, mesmo que inconsciente, para alicerçar uma discussão
em torno da necessidade de conhecer e reconhecer as fontes. Nos seus aspectos intrínsecos
e extrínsecos[13].
Pouquíssimo
realizou-se nessa área no Vale do Paraíba, com a exceção de algumas atuações pontuais[14], mas não correspondente
ao ideal de conservação do patrimônio material. Diferentemente da realidade
européia, onde existe um riquíssimo acervo conservado, disponível e
constantemente utilizado; microfilmados, digitalizados e replicados em diversos
suportes de mídia e pela internet.
Reis
observou e aprendeu, através da prática cotidiana da pesquisa, essa realidade,
ao percorrer arquivos citadinos e estaduais. Aprendendo a paleografia e a
tipologia das fontes. Onde e como foram produzidas, quais foram os seus agentes.
Sabendo corretamente onde buscar a informação adequada para o seu objetivo. E
correlacionar e reconhecer as relações hierárquicas entre elas, sobretudo a
respeito da administração portuguesa no Brasil. Possibilitando estruturar
eficientemente seus estudos e suas obras. Que deveria ser o mote integrante da
formação e da pratica efetiva do historiador.
Mas
que mostra, na atualidade, deficiência lacunar que impede o desenvolvimento
profundo das letras históricas da região. Notadamente entre os que já possuem currículo
na área de pesquisa e nos cursos superiores. Que por sua vez, desprezam, por
uma série de motivos, o ensino adequado para o bacharelado. Obrigando opção pelo
autodidatismo, ou pelo amadorismo, destituídos de previa preparação e conhecimento.
Embora já existam a décadas profissionais empenhados nessa mentalidade de
reconhecer tais ideias.
E o
Vale do Paraíba é um celeiro para a produção historiográfica, como demonstra as
obras de Paulo Pereira dos Reis, principalmente no lacunar período colonial. O
que faz incoerente manter-se alheio a este estado de coisas. Ideia complementada
pelos exemplos das universidades de grande porte do Brasil, por seus cursos de pós-graduação.
Nelas
percebe-se haver salto qualitativo na utilização das fontes de pesquisa e nos
temas tratados, mesmo que com ressalvas. Temas diversificados amparados em
pesquisas realizadas no Arquivo Nacional, na Biblioteca Nacional e em arquivos
estaduais. Como no Arquivo Publico do Estado de São Paulo, que viu o seu número
de consulentes duplicarem no decorrer dos últimos vinte anos.
O
que seria notório se fosse reconhecido e aplicado no Vale do Paraíba, mediante
uma mudança de mentalidade e por projetos de envergadura diretiva e objetiva,
cujo escopo seria subsidiar pesquisas, criar arquivos, salvar e conservar
documentos, disponibilizar e socializar o patrimônio material e imaterial.
E
Reis, novamente, tinha consciência dessas demandas, que em certa medida, esta refletida
na introdução da obra Lorena nos Séculos
XVII e XVIII: “Na investigação e
estudo para o conhecimento dos fatos deste livro, alem de aproveitar os seus
[leia-se: meus] conhecimentos de Historia regional, procurei a documentação
existente com pertinácia e paixão pela pesquisa. Entretanto, apesar do trabalho
persistente, do empenho e dedicação de tantos anos na coleta e organização dos
dados e informes diversos, ocorreram, alem de minhas limitações, os naturais percalços
das pesquisas realizadas em registros escritos muitas vezes esparsos e
incompletos” (REIS, 1980:17).
Portanto,
demandas essas a serem evitadas pelas futuras gerações, procurando todos os
meios para saná-las. Aproveitando os instrumentos disponíveis (aprendizado e capacitação
– presencial/online), para melhor
preparar os profissionais da região, formados ou não. Dando-lhes a oportunidade
de conhecer as fontes, os arquivos, a paleografia e as novas tendências de
pesquisa. Como sempre fizeram, esporadicamente, o autor dessas linhas[15] e Paulo Pereira dos Reis[16].
Desse
modo, seria irreversível o retorno para as fontes documentais, como fator primordial
para a construção de novos conceitos e ideias acerca das histórias locais. Permitindo,
pela releitura, refutar verdades solidificadas e não correspondentes com a representação
do passado[17].
Ou que pelo menos se aproxime de um status requerido na atualidade pela ciência
histórica; e que não seja nos moldes anteriores, do discurso pelo discurso sem
o crivo de uma critica consistente. Isso porque a escrita do passado possui
armadilhas ao escamotear ou velar as reais intenções do desenrolar dos fatos.
Cabendo metodologias próprias, suportes teóricos adequados e conhecimento de
fontes diversas.
Como
por exemplo, o cuidado que se deve ter com as falas do viver em colônia. Abundantemente
encontradas nos processo judiciais: o depoimento das testemunhas, dos envolvidos
e das autoridades. Manancial rico de informações para interpretar e construir o
mundo mental dos séculos XVII a XIX. E que Reis teve contato em documentos de
outra natureza, entre eles os ofícios dos Governadores da Capitania de São
Paulo[18].
Por
outro lado, estendendo essa realidade, sobressai outro aspecto emblemático dos
problemas existentes. Especificamente no ensino acadêmico, e particularmente nos
cursos de historia da região.
A
grade curricular não contempla matérias essenciais para a pesquisa histórica,
priorizando a formação do professor em detrimento do bacharel. Duas realidades
estanques que dissocia a intrínseca ligação entre ambas.
Ter a
formação de pesquisador e professor, ao mesmo tempo, significa, entre tantos
outros valores, a contínua produção, reprodução e critica do conhecimento. Nos
arquivos ou em campo, pode-se construir a historia e na sala de aula pode-se
constituir um laboratório de discussão e crítica dessa construção. O professor
pesquisador atualiza-se produzindo e, ao mesmo tempo, dialoga com alunos e
parceiros sobre as chances de revigoração dos resultados. Não fica reproduzindo
discursos ultrapassados. E o ensino deixa de possuir caráter sectário e assume
uma postura cientifica e critica diante dos desafios do século XXI.
Estimulando
a reversão de outra face do mesmo tema, que está baseada no trinômio articulado
universidade/escola/comunidade. Por onde deve circular ciclicamente todo o
conhecimento produzido.
Isso
se vale principalmente, e que é tão obvio, pela desarticulação notória entre os
itens, pois o que se ensina e se produz na universidade fica restrito a um
pequeno âmbito de detentores do saber, encerrado numa linguagem culta. E muito
menos repassado para os livros didáticos e nem para o professor, afetando
indiscutivelmente a formação de indivíduos comuns e os destinos da comunidade
em todos os seus setores primordiais. Impedindo, sobretudo, o ressonar dessa
realidade em outras esferas profissionais, o qual seja, onde o historiador pode
trabalhar: museus, arquivos, organizações sociais de cultura e domínios
abrangentes da economia criativa. Fundamentais para a socialização do
conhecimento.
Nesse
sentido, chega-se a conclusão de que o conjunto das obras de Paulo Pereira dos
Reis e de muitos outros historiadores, que tentaram entender o mundo dos
antepassados, pode oferecer interpretações diversas, sugerindo análises sobre
tudo o quanto cerca a produção do conhecimento histórico. É preciso pensar, mas
importante mesmo é mudar para as próximas gerações, pois à história cabe também
realizar transformações.
Referências
Fontes
SARDINHA, Wanderley
Gomes. Paulo Pereira dos Reis – breve
perfil histórico. Pasta Paulo Pereira dos Reis. Arquivo do Instituto de
Estudos Valeparaibanos (IEV). Lorena-SP: Centro Universitário Salesiano, s.d.
Bibliografia
CARDOSO, Ciro
Flamarion Santana. Uma Introdução à
Historia. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.
EVANGELISTA, Jose
Geraldo. Paulo Pereira dos Reis. In: Lorena
Cultura, out. 2000. Pasta Paulo Pereira dos Reis. Arquivo do Instituto de
Estudos Valeparaibanos (IEV). Lorena-SP: Centro Universitário Salesiano.
HERRMANN, Lucila. Evolução da Estrutura Social de Guaratinguetá
num Período de Trezentos Anos. São Paulo: IPE/USP, 1986. (ed.
fac-similada).
REIS, Paulo Pereira
dos. Algumas Considerações sobre a Imigração no Brasil. Separata da Revista Sociologia. São Paulo, vol. XXIII, nº 1, março
de 1961.
_____________________.
A miscigenação e a Etnia Brasileira. Revista
de Historia, nº 48, São Paulo, 1961.
_____________________.
O Caminho Novo da Piedade no Nordeste da
Capitania de São Paulo. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1971.
_____________________.
O Colonialismo Português e a Conjuração
Mineira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1964.
_____________________.
Guaipacaré, região e porto do Vale do Paraíba. Revista de Historia, nº 69. São Paulo, 1967.
_____________________.
O Indígena do Vale do Paraíba. São
Paulo: Governo do Estado de S. Paulo, 1978 (Coleção Paulística, XVI).
_____________________.
Lorena nos Séculos
XVII e XVIII. São Paulo: Fundação Educacional Objetivo/Fundação Nacional do
Tropeirismo, 1980.
[1] SARDINHA, Wanderley
Gomes. Paulo Pereira dos Reis – breve perfil histórico. Pasta Paulo Pereira dos
Reis. Arquivo do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV). Lorena-SP: Centro
Universitário Salesiano, s.d.
[2] REIS, Paulo
Pereira dos. Reminiscências Piquetenses. In: SARDINHA, Wanderley Gomes. Paulo
Pereira dos Reis – breve perfil histórico. Pasta Paulo Pereira dos Reis.
Arquivo do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV). Lorena-SP: Centro
Universitário Salesiano, s.d.
[3] O presente
artigo não dá ênfase aos dois textos inaugurais do autor (1953-1954) por ser extrínseco
ao objetivo da analise, qual seja, revelar os seus escritos de cunho histórico.
[4] Entre os
escritos, a obra “O Caminho Novo da Piedade no Nordeste da Capitania de São
Paulo”, que recebeu elogios da critica especializada, pelo ineditismo da documentação
utilizada e que representou importante contribuição a historia das comunicações
na região e fez com que pudesse ser estruturada uma agricultura estável. Entre
elas a cultura do café em Bananal, região que outrora pertenceu aos quadros
administrativos da vila de Lorena.
[5] EVANGELISTA,
Jose Geraldo. Paulo Pereira dos Reis. In: Lorena Cultura, out. 2000. Pasta
Paulo Pereira dos Reis. Arquivo do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV).
Lorena-SP: Centro Universitário Salesiano.
[6] Ibd., p. 3.
[7] REIS, Paulo
Pereira dos. Lorena nos Séculos XVII e XVIII. São Paulo: Fundação Educacional
Objetivo/Fundação Nacional do Tropeirismo, 1980.
[8] Palavras do
professor Egon Schaden na apresentação da obra: O Caminho Novo da Piedade no
Nordeste da Capitania de São Paulo. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura,
1971.
[9] A estrutura esquemática
apresentada consta do artigo do autor: Caminhos de Penetração da Capitania de São
Paulo. Separata dos Anais do Museu Paulista, tomo XXXI, 1982. Instituto de
Estudos Valeparaibanos. Pasta Paulo Pereira dos Reis. Centro Universitário
Salesiano de Lorena.
[10] BOVO, Luiz
Sartorelli. Evocando Fatos e Homens. Pasta Paulo Pereira Pasta Paulo Pereira
dos Reis. Arquivo do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV). Lorena-SP:
Centro Universitário Salesiano, s.d.
[11] O Caminho
Novo teve sua construção iniciada na primeira metade do século XVIII,
contrapondo o Caminho Velho, utilizado desde o final do período quinhentista,
ligando Minas Gerais a Paraty, para escoamento do ouro. Todos os caminhos construídos
a partir de picadas indígenas.
[12] BOVO, Luiz
Sartorelli. Evocando Fatos e Homens. Pasta Paulo Pereira Pasta Paulo Pereira
dos Reis. Arquivo do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV). Lorena-SP:
Centro Universitário Salesiano, s.d.
[13] Aqui não se
trata de falar dos métodos de pesquisa nos moldes hermenêuticos propostos pela
historia positivista de critica interna e externa, que são pressupostos
diferentes. Diz respeito ao conhecimento da tipologia das fontes e de suas divisões
e subdivisões internas, para reconhecer as informações nelas registradas.
[14] Para citar
algumas cidades com algum desenvolvimento nesse item existem arquivos
organizados nas cidades de Jacareí, Taubaté, Guaratinguetá, Cruzeiro e Queluz.
Embora ainda não tenham alcançado patamares de excelência, restando muito por fazer.
[15] Alguns
estudos dirigidos e cursos de curta duração foram ministrados no Centro Universitário
Salesiano (UNISAL-Lorena) nos anos de 2011-2012, para os alunos do curso de graduação
em Historia, tendo como fulcro algumas noções de paleografia e de fontes
primarias, etc.
[16] Paulo Pereira
dos Reis publicou nesse sentido o artigo “Pesquisa Histórica no Vale do Paraíba:
metodologia, enfoque e fontes”. Boletim do Instituto de Estudos Valeparaibanos,
1986. In: Pasta Paulo Pereira dos Reis. Instituto de Estudos Valeparaibanos
(IEV). Lorena: Centro Universitário Salesiano. Fruto da aula ministrada pelo
escritor em 09 de agosto de 1986 no Curso de Historia do Vale do Paraíba.
[17] Como exemplo
robusto vale citar a obra de Lucila Herrmann “Evolução da Estrutura Social de Guaratinguetá
num período de Trezentos anos”. Considerada pioneira e obra-prima dos estudos
sócio-históricos no Vale do Paraíba (1948), possui varias incoerências
informacionais e redundâncias generativas conclusivas sobre certos aspectos
relacionados com a estruturação e partilha das propriedades fundiárias na região.
A autora afirma que o sistema de partilha adotado no Brasil correspondia ao
mesmo existente em Portugal, qual era o Morgadio. Um estudo seriado nos inventários
de varias localidades aponta para outra realidade, que foi a partilha igualitária,
sendo 50% da viúva e outros percentuais restantes para os herdeiros
descendentes ou nomeados. Diferente do regime do morgadio que contemplava o
filho primogênito, principalmente no tocante as propriedades fundiárias e
capelas. Vê-se nesse sentido uma lógica para o retorno aos documentos. Sem
citar inúmeros outros casos não cabíveis no presente artigo.
[18] Documentos
publicados pelo Arquivo Publico do Estado de São Paulo, denominado “Documentos
Interessantes para a Historia e Costumes de São Paulo”.
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