quarta-feira, 30 de junho de 2010

A Estátua do Conselheiro Rodrigues Alves

Na praça principal de Guaratinguetá existe o marco de um dos principais filhos da cidade, a estátua do Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves, Presidente da República entre 1902 e 1906.
A obra foi o resultado de uma campanha para dignificar e perpetuar a imagem do homem público que ocupou diversos cargos no Império e na República do Brasil, entre eles: Presidente da Província de São Paulo (1888), Ministro da Fazenda (1894-1896), Presidente do Estado de São Paulo (1900 e 1912-1916), entre outros.
A partir de 1921 foi constituída a Comissão Executiva do Monumento ao Conselheiro Rodrigues Alves, ficando como tesoureiro responsável Nero de Almeida Senna, titular do Cartório de Imóveis do município.
A inauguração ocorreu em 07 de julho de 1923 em solenidade festiva reunindo a sociedade local, alunos e autoridades.
Homero Sena (p. 242), no seu livro de memórias, “Um mineiro de Guaratinguetá”, transcreve a notícia publicada pelo jornal “Correio Paulistano” a respeito da obra e da solenidade de inauguração:
“Inaugurou-se ontem em Guaratinguetá, na principal praça desta cidade, a estátua do Conselheiro, mandada erigir em sua terra natal por subscrição pública entre os conterrâneos, amigos e admiradores do grande brasileiro. Todo o monumento, que é de bronze, sobre pedestal de granito, tem as seguintes dimensões: largura de meio fio, 4,60 m; largura da 1ª moldura, 3,80 m; altura, 4,60 m. O trabalho é da lavra do escultor Antônio Pinto de Matos... O ato inaugural revestiu-se de grande solenidade, precedendo a cerimônia missa campal rezada na própria praça, pela manhã, à qual assistiram as autoridades municipais e militares, a família do homenageado, corpos docentes e discentes dos estabelecimentos de ensino, além de grande multidão. A figura acha-se de pé, em atitude normal, apoiada a destra em uma coluna. A base assemelha-se a uma pirâmide de vértice truncado. Todo o vulto está envolto em riquíssima bandeira nacional, de seda e ouro, a mesma que lhe cobriu o esquife por ocasião do cortejo fúnebre, oferta do Governo do Estado”. Na face fronteira ao pedestal lê-se a seguinte inscrição ‘Ao seu grande filho, Conselheiro Rodrigues Alves, Guaratinguetá’. Na face oposta, os nomes de Rio Branco, Oswaldo Cruz e Pereira Passos, seus eficientes colaboradores no quadriênio em que exerceu a Presidência da República, circundados por uma coroa de loros”.
O Barão do Rio Branco foi Ministro das Relações Exteriores e um dos grandes nomes da diplomacia brasileira na questão das fronteiras do Brasil, juntamente com Joaquim Nabuco. Exerceu cargos consulares na Inglaterra e na Alemanha.
Oswaldo Cruz, médico sanitarista e cientista, nascido em São Luiz do Paraitinga-SP, foi o responsável pelo serviço de higienização da cidade do Rio de Janeiro durante a Revolta da Vacina, exterminando a febre amarela da capital Federal.
Pereira Passos foi nomeado Prefeito do Rio de Janeiro por Rodrigues Alves, e como engenheiro remodelou a cidade do Rio de Janeiro, abrindo vias de circulação no centro da cidade, como a Avenida Central (atual Av. Rio Branco). Sua gestão frente ao governo municipal trouxeram conflitos políticos e sociais, motivados por ações incisivas conhecidas como “bota abaixo”, ocasião em que mandou derrubar milhares de prédios coloniais considerados pardieiros e focos de doença e prostituição.

Joaquim Roberto Fagundes

Imagem: Inauguração da Estátua de Rodrigues Alves (1923) In: SENNA, Homero. Um Mineiro de Guaratinguetá”, p. 255.

Referência Bibliográfica

SENNA, Homero. Um Mineiro de Guaratinguetá. Rio de Janeiro, Edição do Autor, 1974.



segunda-feira, 28 de junho de 2010

Os Primeiros Povoadores de Potim

A história do município de Potim está intimamente ligada à história de Guaratinguetá, a qual pertenceu durante os últimos 200 anos e por este motivo, torna-se difícil levantar os dados necessários para uma história completa da cidade. Em documentos esparsos em diversos arquivos da região e de São Paulo e, em informações esparsas dentro dos documentos, encontramos alguns informes sobre o povoamento de Potim no período setecentista. Uma das principais fontes neste sentido são os inventários antigos de Guaratinguetá, onde aparecem referências sobre a localização das terras, sua extensão e valor.
Segundo a Profª Conceição Borges Ribeiro, em artigo publicado num jornal de Guaratinguetá, o povoamento inicial do município é essencialmente indígena. Acredita-se que os primeiros moradores, como em todo o Vale do Paraíba, foram os índios Puris. Nenhuma pesquisa arqueológica foi realizada ou mesmo nenhum sítio arqueológico com vestígios materiais foi encontrado, para que se pudesse dizer com certeza qual a nação indígena e qual era a sua localização exata. No Potim, segundo a tradição, eles estavam estabelecidos próximo às margens do Rio Paraíba e do Ribeirão dos Mateus, onde hoje se encontra o Lar Monsenhor Filippo.
No que diz respeito ao povoamento do elemento branco e negro, existem referências muito antes da data oficial considerada, no longínquo ano de 1772, ano da ereção da primeira capela. Essas mesmas dão uma vaga idéia da distribuição populacional na região, que na verdade era bem esparsa, com imensas áreas nas mãos de bem poucas pessoas. Essas imensas propriedades originaram-se das primeiras grandes sesmarias concedidas no final do século XVII e inicio do século XVIII aos interessados em povoar a região. Infelizmente não se pode esquematizar com segurança quais foram as primeiras propriedades concedidas, pois os livros de escrituras de Guaratinguetá do século XVIII e os livros de sesmarias da Casa do Conde de Monsanto não mais existem.
Esses povoadores vinham de diversas localidades do Vale do Paraíba, como Taubaté, Pindamonhangaba e, também, do Planalto Paulista (cidade de São Paulo e cercanias), que procuravam melhores locais para se estabelecerem com suas famílias, já que naquele período, segundo historiadores paulistas e valeparaibanos, houve um grande deslocamento de população em busca de riqueza e consequentemente de melhor forma de vida.
A mais antiga e maior sesmaria que se tem notícia, abrangendo o atual território do município, pertenceu a uma só pessoa e englobava toda a área que ia desde Lorena até as cercanias de Pindamonhangaba. Segundo informações do Prof. Helvécio de Vasconcelos Coelho essa sesmaria foi posteriormente vendida e desmembrada em menores extensões; talvez pertencentes àqueles em que os nomes só sabemos através de pequenas citações documentais.
Outra das mais antigas propriedades encontradas nos documentos se referem a Lucas Fernandes Pinto, natural de Taubaté e inventariado em Guaratinguetá em 1753. Neste documento encontramos a seguinte referência “um sítio na paragem chamada POTEIM, que parte de um lado com João de Mello [ outro morador que não encontramos nenhuma informação ] e de outra com Maria Leme, com casas de três lanços pequenos cobertas de telhas e mais alguns ranchinhos cobertos de palha e seus arredores de espinho ”, onde o mesmo plantava pequena quantidade de cana e cultivava um pequeno mandiocal.
Outra propriedade com existência anterior a 1772 pertenceu ao Alferes Domingos Rodrigues Sanches, natural da Vila de Castelo Branco, Portugal e que possuia meia légua de testada de terras, que iam desde uma parte de Potim até o Ribeirão de Guaratinguetá. Miguel Corrêa dos Ouros, provavelmente natural de São Paulo, da família do Zouro, foi outro proprietário de terras no Potim, mas nenhuma informação sobre as mesmas foi encontrada. Em suas terras surgiu a pequena capela de São Bom Jesus de Potim, dando inicio ao pequeno povoado que se formaria em torno dela.
Outra grande propriedade rural pertenceu ao Padre José Soares Leite, no local onde hoje se encontra o Bairro dos Soares ou “Soarada” como é conhecida. No ano de seu falecimento, em 1776, o referido padre possuía uma imensa área de terras, onde cultivava milho e mantimentos para sua sobrevivência e a de seus agregados e inúmeros escravos. Em seu testamento, o Padre José Soares Leite, deixou as ditas terras às irmãs e a alguns escravos que ele deixara liberto, que por conseguinte, adotaram o seu sobrenome.
Em 1765, embora ainda não existisse um núcleo urbano formado, verifica-se, através do Recenseamento das Ordenanças de Guaratinguetá, a existência de um pequeno grupo de famílias morando na região de Potim, que provavelmente não eram proprietárias de terras, mas simples agregados que viviam do plantio de milho, feijão e arroz para a subsistência. Entre essas primeiras famílias destacavam-se as famílias de Daniel Paes Soares (de onde se originam a família e o bairro dos Daniel), os Machado de Lima, os Monteiro Paes, Soares Leite, Gonçalves de Abreu, Galvão de França ( família de Frei Galvão), Nabo Freire, Meireles Freire, Dias da Costa, Dias Morgado, Rodrigues Leme, Borges de Souza, Bueno da Silva, Coelho da Silva, Abreu Leme, entre outras, todas com descendentes até os dias de hoje.
Nos anos posteriores, em finais do século XVIII e inicio do século XIX, a expansão populacional não foi muito grande, seja com relação ao elemento branco ou negro. O território potinense continuava extenso, com população esparsa e rarefeita. Somente na segunda metade deste século, houve a formação de um núcleo urbano mais denso e concentrado, com a invasão de famílias inteiras, vindas principalmente das Minas Gerais.

Joaquim Roberto Fagundes

Imagem: Antiga Capela do Senhor Bom Jesus de Potim. Desenho Bico de Pena de Tom Maia, 1989.

domingo, 27 de junho de 2010

Biblioteca Nacional

Em 2010 a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro comemora dois centenários. Em 29 de outubro de 1810, Dom João VI assina decreto criando a biblioteca régia, com acervo que trouxera de Portugal em 1808. Na mesma data, em 1910, o Presidente Nilo Peçanha inaugura o prédio atual, que teve a pedra fundamental lançada pelo Conselheiro Presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves, em 1905.
Para os freqüentadores assíduos, pesquisadores e historiadores, é uma data feliz por lembrar a sua importância para a história do Brasil e por ser um local que inala sabedoria e aconchego.
Para quem já teve o sabor de pesquisar em suas dependências sabe que é uma experiência única e que retornar é um dever.
Minha experiência pessoal remete, em momentos distintos, ao aprendizado sempre presente em todas as vezes que lá estive. Seja enquanto buscava fontes sobre o Vale do Paraíba ou nas visitas técnicas que realizei durante a participação de congressos na cidade do Rio de Janeiro. Deste modo, tenho a honra de fazer parte daqueles que sentem prazer renovado quando adentra as suas dependências para visitar e, principalmente, para pesquisar.
Por estes motivos, tenho comigo que a melhor forma de lembrar os dois centenários da instituição é discorrer algumas linhas da experiência e conhecimento que obtive nos vários setores da biblioteca, encontrando informações ou tomando café junto a amigos, sob a cúpula ladeada por livros. Experiências de conhecer um pouco das fontes históricas do Vale do Paraíba.
Frequento a Biblioteca Nacional desde 1990, quando, pela primeira vez, fui buscar informações sobre jornais antigos de Guaratinguetá, disponíveis, então, no setor de referências, no primeiro andar. E que pude consultar em microfilme alguns dos seus exemplares do inicio do século XX e, posteriormente, os jornais do Rio de Janeiro no período em que o Conselheiro Rodrigues Alves foi presidente da República (1902-1906). Oportunidade em que aprendi apreciar as caricaturas e os desenhos como formas de expressão e de análise da história. Neles descobri que as imagens mostram um mundo diverso da documentação escrita, onde a crítica permeava cada traço do desenho, desencavando opiniões diferenciadas e mentalidades diversas sobre o conturbado inicio do período republicano. Críticas sobre a política financeira, a revolta da vacina, a remodelação do Rio de Janeiro e os embates da classe política sobre as diretrizes do governo.
Em outras ocasiões pesquisei no que considero o principal setor da Biblioteca Nacional, a Seção de Manuscritos Raros, localizado no segundo andar. A sala ampla, rodeada de fichários com referências documentais de todo o país e suas mesas sóbrias era um convite para o deleite de descobrir e informações e, ao mesmo tempo, uma terapia sem precedente. Horas de prazer indescritível ao deparar, por exemplo, com um documento original da fundação da cidade de São Luiz do Paraitinga; com homens e mulheres valeparaibanos mencionados no precioso acervo do Morgado de Mateus, Governador e Capitão-General da Capitania de São Paulo, principalmente Frei Galvão e suas cartas falando do Convento da Luz.
No setor de referências bibliográficas, que consultei poucas vezes, encontrei exemplares não tão antigos, mas raros no Vale do Paraíba e que numa oportunidade propícia escrevei sobre.
E tecnicamente, como profissional que atua em museu, conheci os bastidores da instituição, onde anônimos profissionais preservam e disseminam conhecimento ali acumulado. Ocasião em que constatei o contínuo trabalho de restauro de livros e documentos antiqüíssimos, anteriores ao descobrimento do Brasil. Os produtos utilizados e as técnicas sofisticadas e pacienciosas utilizadas por homens e mulheres de máscara e luvas. O acondicionamento em caixas próprias, desenvolvidas e montadas em oficinas próprias, e a limpeza e higienização de obras mais recentes.
Enfim, um mundo maravilhoso para pesquisar, conhecer, disseminar e conservar. Um mundo precioso do passado e do presente. Uma forma de comemorar cada ano, década e centenário.

Joaquim Roberto Fagundes

sábado, 26 de junho de 2010

Notícias do II Encontro Paulista de Museus

Durante três dias, cerca de oitocentas pessoas participaram do II Encontro Paulista de Museus, realizado no Memorial da América Latina, na cidade de São Paulo.
No período foram mostrados e discutidos variados projetos desenvolvidos por inúmeros museus da capital e do interior, com destaque para os museus estrangeiros da Catalunha, na Espanha, e de Medelín, na Colômbia.
E falaremos aqui, nos próximos dias, sobre alguns aspectos do evento, que está cada vez mais solidificado no cenário museológico paulista, integrando profissionais de várias áreas na busca pelo aperfeiçoamento das ideias e das atividades junto ao público. Aguardem.
Foto: da esquera para a direita: José Nascimento, Presidente do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), Tamime, do Museu Índia Vanuire, da cidade de Tupã-SP, e Joaquim Roberto Fagundes, do Museu Conselheiro Rodrigues Alves, de Guaratinguetá-SP.

domingo, 20 de junho de 2010

II Encontro Paulista de Museus, o Sistema Estadual de Museus e o Vale do Paraíba

Com o objetivo de articular profissionais e dirigentes da área museológica para estabelecer estratégias de desenvolvimento social e econômico dos municípios e tratar das ações de aperfeiçoamento, qualificação e fortalecimento dos museus paulistas, a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo-SP, por meio do Sistema Estadual de Museus SISEM-SP, vai realizar, no período de 22 e 24 de junho, o 2º Encontro Paulista de Museus. Sediado no Memorial da América Latina, o encontro vai reunir 28 palestrantes, sob o tema "Ser Diferente: Fazer Diferença". Nesta edição, pela primeira vez, prefeitos e secretários municipais de Cultura terão uma programação paralela, para discutir a importância de políticas públicas para área da cultura, parcerias em investimentos e leis de incentivo.
Deste modo, os museus do interior paulista têm a chance histórica de transformar sua própria realidade, tendo como foco principal as ações e estratégias para socializar o espaço público do museu no sentido de promover, divulgar e valorizar a cultura regional dentro das novas diretrizes museológicas acenadas pelo Sistema Estadual e Museus – SISEM e pelo Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM. Bem como, de ter acesso a informações e formulações de propostas, projetos financeiros e cursos de qualificação de pessoal nas áreas técnicas, gestão administrativa, empreendimentos culturais, etc. E de ter resultados que demonstrem experiências inéditas que aproxime a instituição da comunidade onde está inserida, através de diálogos contínuos com o público, dentro de um espectro conceitual de valores sociais que denotem qualidade e crescimento humano.
Para o Vale do Paraíba, a possibilidade de resolver problemas crônicos e similares, como os identificados pelo Pólo Cinco do Sistema Estadual de Museus, implantado recentemente na região: restauro dos prédios, restauro dos acervos, capacitação profissional e técnica, adequação de espaços e instalação de novos equipamentos, identificação e disponibilização de informações de acervos, sustentabilidade dos museus, entre outros.
Portanto, a oportunidade horizontal de adquirir postura profissional, corporativa e colaboracional para que objetivos e metas possam ser alcançados na expectativa de eliminar a sólida e sórdida realidade figurativa dos museus do interior, colocando-os numa esfera dinâmica e agregadora dos valores coletivos, formacionais e multidisciplinares. Propondo e discutindo amplas demandas corporativas, identitárias, libertando-os das representações sociais que remontam o final do século XIX e que contribuem em boa parte para o esvaziamento das instituições por seu aspecto desvinculado da realidade histórica desse começo de século.
E, aos representantes e dirigentes dos museus da região a responsabilidade do engajamento e do comprometimento de destruir os interesses próprios e as ideias de verticalização das ações tutelares do Estado, como sempre aconteceu em todas as outras oportunidades que existiram, tanto por mérito dos órgãos dirigentes como dos agentes e dirigentes das unidades museais.
Joaquim Roberto Fagundes

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Reunião Preparatória para II Encontro Paulista de Museus


Como preparação para o II Encontro Paulista de Museus, reuniu-se hoje no Museu Monteiro Lobato, em Taubaté, o Pólo 5 do Sistema Estadual de Museus-SISEM (Vale do Paraíba) com o objetivo de discutir e estabelecer algumas diretrizes para o referido encontro. Estiveram presentes os representantes Vicente de Paulo Vale (Coordenador Geral do Consórcio do Vale Histórico - Bananal, Arapeí, São José do Barreiro, Areias, Queluz e Silveiras), Joaquim Roberto Fagundes (Museu Rodrigues Alves - Guaratinguetá), Maria Cristina Lopes, Coordenadora do Pólo (Museu Monteiro Lobato – Taubaté), Claudio Marquês e Francine Maia ( Museu Mazzaropi - Taubaté). E as propostas apresentadas foram:

1- Demandas do Vale do Paraíba
• restauro de prédios;
• restauro de acervos;
• capacitação profissional e técnica;
• adequação de Espaços e Equipamentos;
• identificação de acervos e disponibilização de suas informações (catálogos e outros meios);
• fomento para a instalação de reservas técnicas nos museus;
• preparação de Atividades de Incentivo a Cultura, de forma geral e em cada Município;
• apresentar a representabilidade do Vale do Paraíba;
• sustentabilidade dos Museus;
• apoio a proposta do Pré-Sal;
• aumento de verbas para o Estado e Municípios;
• criação de mecanismos que facilitem a forma Jurídica de Titularidade de Patrimônio Público;
• número maior de editais que contemplem museus com várias características;
• descentralização as grandes exposições das Capitais, de viabilizá-los;
• Promoção das manifestações culturais através de produtos culturais;
• incentivo e facilitação de intercambio de produções de artistas, mostra de museus de pólos diferentes, das grandes cidades para o interior do Estado; e
• fomento político do uso software livres no âmbitos dos museus, para organização de acervos, planejamentos e comunicação.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O Campo Santo na Catedral de Santo Antônio e o Cerimonial de Enterro dos Mortos


Até a segunda metade do século XIX era costume dar enterro aos falecidos dentro das igrejas e capelas ou em pequenos cemitérios situados na parte detrás das mesmas e conhecidos como adros, que ainda existe em capelas situadas em pequenos bairros rurais antigos.
Mas, em sua maior parte, eram sepultados no interior da igreja, nos mais diversos locais, de acordo com sua posição social. Os mais importantes ficavam nos arcos próximos ao altar, e outros nas laterais, no chão ou nas paredes, próximos aos degraus da entrada e do altar, e junto aos altares laterais.
Naquele tempo, os óbitos e o sepultamento eram registrados em livros próprios da igreja, que assinalavam estes locais, mas infelizmente não designava o nome e a data de falecimento. Em raros casos, eram identificados padres que serviram naquela paróquia.
Geralmente enterrava-se o branco, muito embora tenhamos registros de negros e mulatos sepultados em seu interior que, com certeza, eram escravos alforriados ou escravos de grande estima por parte de seus senhores. E, os escravos, muitos deles, foram sepultados na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que existia onde atualmente encontra-se a Padaria Nossa Senhora do Rosário, na esquina da Praça Conselheiro Rodrigues Alves com a Rua Monsenhor Filippo.
Existiam, também, no interior das igrejas, outros locais destinados a sepulturas pertencentes às inúmeras irmandades existentes daquele tempo.
Somente após 1850 é que surgiram os cemitérios públicos, como o caso do Cemitério do Senhor dos Passos, que ainda possui um tumulo datado de 1858, e o Cemitério do Alto das Almas, do mesmo período e que desapareceu a partir da construção da Rodovia Presidente Dutra, no bairro do mesmo nome. Tratava-se, portanto, naquele momento, de uma questão de saúde pública e do perigo e risco que os corpos ofereciam aos fiéis que todos os domingos dirigiam-se para a missa ou para uma oração.
Porém, antes do sepultamento, merece menção o cerimonial e a simbologia para dar baixa na sepultura.
No caso das pessoas com maior posse, todas as formalidades eram estabelecidas antes da morte do defunto, que designava em testamento o local onde gostaria de ter sepultura, se numa tumba própria de sua irmandade ou em outro local privilegiado. Designava a quantidade de missas que deveria ter com o corpo presente; para quais pessoas e santos se diriam as missas (de acordo com a devoção do testador), pagando para tanto um valor ao padre vigário apenas quando se processava o inventário dos bens do defunto. Indicava, também, missas em intenção de sua alma e das almas do purgatório, de amigos e parentes, e o valor das esmolas a serem distribuídas para os pobres em sufrágio de sua alma. E, mais, solicitava o acompanhamento do corpo por vários padres residentes na paróquia, das cruzes das fábricas (estandarte da administração da igreja) e determinava a quantidade de mementos (música) a serem cantados na rua durante o deslocamento do corpo e qual a mortalha que cobriria o corpo.
Deste modo, cumpria-se a vontade do morto e toda a simbologia que encerrava o espetáculo da morte, com base na crença religiosa que vinha desde os tempos da Idade Média, onde havia a preocupação com a vida pós-morte e a entrada do morto no reino do céu. Pedia-se perdão e clemência pelos rituais e atitudes de humildade para com os santos de devoção e para com os desafortunados através da distribuição de esmolas. Só não fazia testamento os pobres e aqueles que morriam de repente e, mesmo assim, os familiares providenciavam alguma coisa, mesmo que fosse apenas uma mortalha branca ou preta e uma rede para carregar o defunto.
Como diz o título do livro do historiador João José Reis: a morte é uma festa.
Joaquim Roberto Fagundes.
Imagens - à esquerda, antiga matriz de Guaratinguetá, em 1821, por Thomas Ender; à direita, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos no começo do século XX. In: MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. Visconde de Guaratinguetá - Um titular do café no Vale do Paraíba.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pequena Notícia de um Descaminho do Ouro em Guaratinguetá no Século XVIII

Na primeira metade do século XVIII, a riqueza de Portugal era o ouro brasileiro descoberto em Minas Gerais no final do século anterior. Mas parte dessa riqueza era contrabandeada e dividida entre os homens envolvidos nas atividades de extração e transporte do produto.
O desvio acontecia de diversas maneiras, sobretudo durante o transporte, por caminhos precários e não oficiais. O produto deveria seguir pela Estrada Real, cujo trajeto percorria parte das Minas Gerais, atravessava a serra da Mantiqueira, passava por Lorena e Guaratinguetá, subia a serra do Quebra-Cangalha, tomando a direção de Cunha e Paraty, mas muitas das vezes, seguia itinerários alternativos, construídos por iniciativa particular, sem controle e autorização da metrópole portuguesa.
Na região compreendida entre Taubaté e Lorena existiram, com certeza, inúmeros desses caminhos, que acompanhavam as antigas trilhas indígenas e a expansão do comércio voltado para as Minas Gerais. Pouco se sabe a respeito do seu tempo de vida e de sua utilização para o contrabando, porém, tem-se conhecimento de que as autoridades constituídas de algumas vilas denunciavam e pediam expresso fechamento desses caminhos. Caminhos, esses, que não possuíam barreiras de fiscalização, como a exemplo da Estrada Real que possuía duas - a primeira na serra da Mantiqueira (Itajubá) e a outra na freguesia do Facão (barreira do Taboão - vila de Cunha).
O estreito relacionamento dessas autoridades com alguns órgãos da administração portuguesa, principalmente com o Conselho Ultramarino (1), possibilitou, algumas vezes, o sucesso da denúncia.
A coroa, consequentemente, fazia a expedição de bandos e ofícios e contava com redes de poder e solidariedade para a aplicação das determinações, podendo, deste modo, coibir e fechar, com certa eficácia, novas rotas de transporte sem consentimento expresso (2).
E, foi o que aconteceu em Guaratinguetá em 1742, com o caminho aberto, por volta de 1738, por Antônio Gonçalves de Carvalho (3) e outros sócios (não mencionados) “... comtenção de sahirem no destrito do Rio de Janro e Costa do Mar” [Paraty]
Preocupada com a questão, a Câmara Municipal de Guaratinguetá (4) encaminhou uma carta ao Conselho Ultramarino em 31/08/1742, denunciando a ocorrência e solicitando o fechamento ou a proibição do trânsito de mercadorias e pessoas por aquele caminho, argumentando que tal empreendimento poderia acarretar em “alguma invasão de inimigos pelas cidades e Vilas das Marinhas” (5), e prejuízo para a Real Fazenda pelo não pagamento de passagem de pessoas e mercadorias. A denúncia foi assinada pelos vereadores Manoel Gomes Guimarães, Lázaro Fernandes (6), João Francisco (do meio), Domingos Alves Barroso (mais moço), José Ferreira de Sá (escrivão), Antônio Carvalho Marques (Procurador da Câmara) e José Gonçalves da Cruz (o juiz mais velho), chegando em Portugal algum tempo depois.
Ao receber a denúncia, o Conselho Ultramarino apurou os fatos e, em parecer datado de 11/05/1744, ao Rei D. João V, concluiu que o caminho fora autorizado pelo Governador das Minas de Goiás, Dom Luiz Mascarenhas, mas que não passava de um subterfúgio, por onde “ elle [Antônio Gonçalves de Carvalho] desencaminhava o ouro que não pagava quintos a V. Magestade....”, diferentemente daquilo que havia dito o responsável pela abertura do caminho: de “que hião à descubrimentos” e para tal era necessária a abertura de um outro caminho. Os conselheiros Raphael Pires Pardinho e Tomé Joaquim da Costa Corte Real diante do fato asseguraram ser útil a sua interdição, sem a necessidade de fazer transporte pelo mar (7). E daí, não se tem notícia das providências tomadas e por onde especificamente passava o referido caminho.

Joaquim Roberto Fagundes

NOTAS

1- Na coleção editada pelo Arquivo do Estado, intitulada “Documentos Interessantes”, encontramos diversas petições endereçadas por particulares ao Rei de Portugal, solicitando arbitramento ou soluções para fatos ocorridos na Colônia. Apesar da distância, que provocava morosidade, os pedidos eram encaminhados e resolvidos pelos órgãos competentes. Existia, portanto, mútua confiança, torça e oferecimento de favores na estrutura administrativa do Estado Português.
2- A partir da década de 1730, apogeu da produção aurífera, muitos dos caminhos eram autorizados e abertos por iniciativa própria, com finalidades diversas, entre eles o Caminho Novo, aberto por iniciativa de homens como Domingos Antunes Fialho e outros, com o intuito de expandir a fronteira agrícola e facilitar a comercialização e o transporte de produtos de abastecimento entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, sem passar por Paraty.
3- Família de origem portuguesa (freguesia de Zezerê), radicada no arraial de Itajubá e que na segunda metade do século XVIII estabeleceu-se em Guaratinguetá, casando-se com famílias guaratinguetaenses.
4- Em boa parte do século XVIII, a jurisdição administrativa de Guaratinguetá abrangia imenso território, que ia desde o sul de Minas até a barra do rio Piraí, no Rio Janeiro e, por isso, a causa em questão ter sido levantada pelas autoridades da referida vila.
5- No caso de inimigos podemos inferir, a título de hipótese ou mera especulação, que o medo das autoridades seria possível devido à proximidade do episódio da Guerra dos Emboabas ou por motivo do aparecimento de aventureiros de outras partes do Brasil, o que provocaria um maior descontrole na região das minas, fato que já ocorria desde a descoberta do ouro.
6- Lázaro Fernandes de Carvalho ou Rodrigues de Carvalho era o vereador mais velho, falecido em Guaratinguetá, em 1757. Foi o responsável pela abertura de um caminho na região entre Lorena e o alto da serra da Mantiqueira, em direção às Minas Gerais. Teve inventário realizado em Guaratinguetá em 1757 (Museu Frei Galvão/Arquivo Memória de Guaratinguetá - 1º Ofício).
7- Na mesma época estava sendo construído o Caminho Novo, por terra, direto para o Rio de Janeiro, passando pelo atual Vale Histórico.

REFERÊNCIAS

- Fontes Primárias

Carta dos Oficiais da Câmara da Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá ao Rei, solicitando medidas de segurança pela abertura de um caminho desta para o Rio de Janeiro. Arquivo do Conselheiro Ultramarino – Torre do Tombo – Portugal.

- Bibliografia

REIS, Paulo Pereira dos. O Caminho Novo da Piedade no Nordeste da Capitania de São Paulo. São Paulo: Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo, 1971.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Implantação do Pólo Regional 5 do Sistema Estadual de Museus – SISEM no Vale do Paraíba

Aconteceu no dia 10 de junho, no Museu Histórico, Folclórico e Pedagógico Monteiro Lobato (Sítio do Pica Pau Amarelo) a implantação do Pólo Regional 5 – Taubaté - do Sistema Estadual de Museus – SISEM no Vale do Paraíba.

A Coordenadora Cristina Lopes e a Professora
de História da Unitau Rachel Abdala


O Pólo abrange trinta e sete municípios que fazem parte das regiões de governo de Guaratinguetá, Cruzeiro, Taubaté e São José dos Campos, e terá a coordenação da Professora Maria Cristina Lopes, responsável pelo Museu Monteiro Lobato, em Taubaté. Tendo como finalidade facilitar a comunicação, a interação e a articulação dos museus da região entre si e com o Sistema Estadual de Museus. Com o ideal de agilizar e atender as demandas dessas instituições, principalmente cursos de capacitação de profissionais da área museológica, formas e formatação para a captação de recursos, criação de novos museus e formulação de políticas públicas; permitindo, dessa forma, o surgimento de interfaces entre museus e instituições variadas e a inserção efetiva das instituições no sistema estadual.

Participaram da reunião a anfitriã, Maria Cristina Lopes, a coordenadora do SISEM, Professora Cecília Machado, inúmeros convidados e representantes de instituições e museus da região: Museu de Antropologia do Vale do Paraíba; Secretaria Municipal de Educação de Jacareí, Centro Interdisciplinar de Ciências – ETEC Cruzeiro, Museu Histórico e Pedagógico Conselheiro Rodrigues Alves, Departamento Patrimônio Histórico de Pindamonhangaba, Universidade de Taubaté, Prefeitura de Tremembé, Museu Mazzaropi, Museu Histórico e Pedagógico Major Novaes, Fórum de Turismo VPS – Taubaté, Departamento de Meio Ambiente, Turismo e Cultura de Taubaté, Museu do Folclore e Centro de Estudos de Cultura Popular de São José dos Campos, Museu Casa da Xilogravura de Campos do Jordão, Museu de Esportes de São José dos Campos, Museu de Caçapava e Departamento de Cultura de Taubaté.
Fotos: Joaquim Roberto Fagundes

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Alunos do Curso de Turismo

É possível acreditar em mudanças. E os jovens alunos e professores do Curso de Turismo da Escola Alfredo de Barros Santos, em Guaratinguetá, são exemplos pelo interesse que demonstram ao conhecer o patrimônio do município.
E a constatação do fato veio através da visita que fizeram no último dia 8 de junho ao Solar Rangel de Camargo e a Casa de Frei Galvão.
Acompanhando de perto, pude ver o entusiasmo e a atenção para ouvir as palavras da Professora Thereza Regina de Camargo Maia. Como também, observar a consciência dos professores ao trazê-los ”in loco” para conhecer e interagir com aqueles bens culturais.
Foi uma visita importante para adquirir conhecimentos e valores que serão fundamentais para o exercício da profissão. Uma oportunidade de ajudá-los no crescimento intelectual e contribuir para que possam mostrar a cidade com maior desenvoltura e conhecimento. Do desempenho deles dependerá o sucesso de Guaratinguetá como centro de peregrinação e turismo.
O fruto, com certeza, será o estabelecimento de uma nova ordem de fatores culturais na cidade, onde o jovem será elemento ativo na busca da harmonia e da participação social. E uma nova responsabilidade: trabalhar e criar, em conjunto, oportunidades renovadas de crescimento do ser humano pelo exercício da cultura e da cidadania.
Professores e alunos merecem uma salva de palmas e toda nossa atenção. Parabéns.

terça-feira, 8 de junho de 2010

A Cidade de Bananal e a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1930 - Memória para ser Resgatada

O Vale do Paraíba Paulista foi o celeiro de personagens notáveis pelo exercício de suas profissões. E não são poucos. Não há espaço para elencar todos. Mas seria interessante pensar em resgatar e registrar muitos nomes que a lembrança diluiu com o passar dos anos. Até o momento não foi sistematizado nenhum projeto semelhante.
E, a justificativa parte da premissa que a memória pode ser breve e diluída, ou permanente sofrendo modificações ao longo do tempo. Não existe o esforço para a sistematização usual dos acontecimentos menores e insignificantes, seja do passado ou no presente.
A história oral tem-se preocupado, mas seu método ainda é limitado e um tanto parcial no que diz respeito ao sujeito que busca e manipula as informações, quanto ao objeto do trabalho ou pela seleção dos indivíduos entrevistados. O fato é que estamos aquém da realidade.

Dos personagens do Vale do Paraíba que a memória não registrou para as gerações futuras e que devemos resgatar está Píndaro Rodrigues de Carvalho, um legítimo bananalense que foi o técnico da Seleção Brasileira de Futebol durante a Copa do Mundo de 1930.
Foi médico reconhecido, futebolista e escritor. E, nessa última foi o autor do pequeno e pouco conhecido livro “O Caminho Novo: Povoadores do Bananal”. Sendo, um dos primeiros, senão o pioneiro, a elaborar, em estilo positivista, a obra que resgatou a história e a genealogia da sua cidade natal. Um homem que valorizou sua terra através da pesquisa histórica, do futebol e da medicina.



Por isso, por ocasião do inicio de mais uma Copa do Mundo, é necessário lembrar o homem que conciliou futebol e cultura com imenso talento e que precisa ser resgatado por sua história pessoal e por ter valorizado homens e fatos que a memória esqueceu.
Aos alunos de história e historiadores se deve reputar a missão de resgatá-lo, assim como a tantos outros, renovando, dessa forma.

sábado, 5 de junho de 2010

Campo Santo – Um Território Democrático


Por Tonho França - Escritor
Observando o Cemitério Senhor dos Passos é possível voltarmos às últimas décadas de 1800, entre sepulcros adornados com rica arte tumular da época a outros mais simples, onde uma única cruz em madeira e o latim “ORAE POR ELLE” bastavam.
Aliás, as lápides merecem um estudo, pois há principalmente, nas mais antigas, uma língua portuguesa que também jaz – “amor dos seus paes"; é um dos exemplos que nos chama a atenção. Vale reconhecer a nossa língua e retomar o contato com o latim.
As lápides ostentam um ar de poesia, talvez pela maneira como as palavras doridas eram incorporadas as pedras, formando um conjunto harmônico disposto a vencer o tempo, eternizando ali o último adeus ou prece.
Há logo na entrada, a esquerda, um túmulo antigo, sem sequer uma identificação, pequeno, sem nenhum adorno, parece, ele, falecido anônimo, o que nos deixa intrigado a saber qual a família lá estaria.

O cemitério é o retrato de uma sociedade local, daí sua riqueza e o título desse artigo; um território democrático. No campo santo convivem o Conselheiro do Império, por duas vezes eleito presidente da República, o Comendador, o Visconde, o literato de extrema grandeza, médicos e advogados. E, também, o imigrante que chegou para fazer a vida, o comerciante, o visionário que construiu seu túmulo anos antes da morte e a doceira. Como conviveriam na vida terrena?
Não há disputa por espaços, nem poderes, convivem numa democracia silenciosa e deixam a nós o dever de catalogar, estudar e preservar muitos dos que estão em abandono e ruína, prestes a ruir.
Pode a muitos não parecer um itinerário comum, mas precisamos olhar o cemitério como um palco de arte e um patrimônio arquitetônico e cultural a ser preservado, pois muitos de nós temos lá seus antepassados, suas raízes. Esquecer disso ou deixar que isso se perca; é algo ofensivo.
Talvez cause estranhamento esse artigo, esse olhar sobre o cemitério, mas é só pensarmos num relógio, quanto mais os ponteiros caminham em um sentido, nós já caminhamos no sentido inverso. “REVERTERE AD LOCVM TVVM”.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A Arte Tumular Conta a Nossa História

Está sendo desenvolvido por Joaquim Roberto Fagundes, pesquisador do Museu H.P. Conselheiro Rodrigues Alves, e por Tonho França, escritor e poeta premiado, o “Projeto de Educação e Patrimônio Histórico de Guaratinguetá”, com o objetivo de levar para as escolas públicas e particulares da rede de ensino do município uma nova e diversificada maneira de aprender a história da cidade e, ao mesmo tempo, despertar o interesse em preservar o patrimônio histórico da cidade.
Em fase embrionária, a escolha do patrimônio piloto recaiu sobre o mais antigo campo santo da cidade, o cemitério Senhor dos Passos e sua diferenciada e democrática arte tumular, que receberá o nome de “Arte Tumular no Cemitério dos Passos – Uma Vida que se Foi – Uma História que Ficou”.
A partir de um resgate fotográfico e de textos que serão produzidos sobre o tema, de exposições itinerantes e visitas “in loco”, o projeto pretende partir de algumas ideias sobre as possibilidades de utilização daquele patrimônio como instrumento de aprendizagem, principalmente a respeito de homens e mulheres, anônimos, ou não, que no cotidiano de suas vidas deixaram rastros que nos dizem muito sobre a história da cidade. E, a partir desse ponto, despertar nas novas gerações a importância de se preservar o seu rico acervo e, ao mesmo tempo, estudar os nossos antepassados pela via da observação e da leitura estética e lingüística das obras tumulares. Com o objetivo de aguçar o raciocínio pela via lúdica e observacional, procurando, assim, dar interpretações pessoais ou coletivas sobre os símbolos produzidos pela mentalidade e pelo imaginário de uma época. Enfim, uma forma de produzir e aprender a história, utilizando e preservando o patrimônio histórico da cidade.
Foto: Joaquim Roberto Fagundes

terça-feira, 1 de junho de 2010

Série “Notícias do Brasil nas Caricaturas de Rodrigues Alves”


Daqui uns dias, para você.


No link ao lado.

Para valorizar a utilização de fontes iconográficas na pesquisa histórica, principalmente a caricatura, que teve uma importância fundamental na primeira década do século XX como instrumento de crítica e sátira na imprensa brasileira, é que elaboramos a ideia de uma série mostrando a história do Brasil e de sua capital durante a presidência do Conselheiro Rodrigues Alves. Entendemos ser uma maneira agradável de analisar o período e, bem como, um excelente exercício de interpretação da imagem para o seu na história. Um instrumento que, sem dúvida, mostra facetas da história do país, da imprensa e dos artífices dos desenhos. É bom lembrar que a imagem pode e deve gerar interpretações diferentes, mas refere-se a fatos concretos que devem servir, também, para visualizar as nuances impressas nos menores detalhes. São símbolos e sinais emblemáticos que escondem indícios de verdades que, por vezes, nos escapam durante a análise.
E no que se refere às caricaturas de Rodrigues Alves a riqueza de informações é imensa, sobretudo nos anos agitados da urbanização do Rio de Janeiro e da Revolta da Vacina. Dois episódios levados a cabo por Rodrigues Alves, que repercutiram positiva ou negativamente em vários setores da sociedade, mostrando cenários e pensamentos diferentes ou similares e os embates recíprocos entre eles. Fatos que, na verdade, atingiram, sobretudo, a população que, embora ciente da opressão do governo, aparecia também bestializado e ignorando os motivos de todas as mudanças que estavam acontecendo. E, que os discursos da imprensa e de grupos políticos, contrários ao projeto de governo de Rodrigues Alves, se aproveitaram para incendiar ainda mais os ânimos.
Portanto, a série quer incentivar a leitura daqueles fatos do governo Rodrigues Alves, como também incitar o imaginário do leitor em busca de releituras sobre a história, tendo como base a observação das imagens, das indagações que elas podem gerar e, assim, possibilitar e despertar o interesse pela busca por respostas em pesquisas bibliográficas e documentais.
Para auxiliar, estarão ao lado das imagens pequenos textos introdutórios para entender alguns aspectos pertinentes ao assunto da imagem.