domingo, 29 de abril de 2012

Fundação do Núcleo IEV - Taubaté

Não haveria notícia tão auspiciosa e esperada que a formação do Núcleo Taubaté do Instituto de Estudos Valeparaibanos, isso porque conhecemos os méritos profissionais dos seus membros. São dedicados e com uma sólida formação acadêmica, expressa nas iniciativas a priori constantes.
Acredito ter sido um passo fundamental para os novos tempos do IEV, onde desafios e demandas serão a tônica para o enquadramento da instituição no paradigma de outras congêneres no país.
Toda instituição se renova em seus quadros filiais e principalmente em sua missão e objetivo perante ao público, como forma de responder aos interesses coletivos.
E, neste sentido, o núcleo de Taubaté terá papel decisivo e importante, atuando extensivamente na luta e realização de metas globalizantes para a região; seja na preservação, como na divulgação, mas principalmente na realização de projetos de políticas públicas amplas, entre eles os links basilares - universidade-escola-comunidade - com a inserção de linguagens acessíveis ao grande público. E que resultará na maior compreensão da realidade social, econômica e política do Vale do Paraíba, e bem assim, na melhor preservação do patrimônio histórico material e imaterial da região.
Não tenho dúvidas do sucesso a ser auferido pelo núcleo e sinto não estar presente em sua fundação. Mas estarei à disposição para contribuir com colegas de tão grande expressividade intelectual e capacidade de trabalho.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Sangue de Portugal


A região do Vale do Paraíba situa-se nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, por onde passa o Rio Paraíba do Sul. É uma das regiões de mais antigo povoamento no Brasil, tendo sido ocupada a partir da primeira metade do século XVII. Em toda a sua história houve, quase initerruptamente, a chegada e o estabelecimento de homens e mulheres oriundos das inúmeras vilas e cidades de Portugal. O que significa dizer que somos parte de sua história e, por assim dizer, herdeiros de uma cultura rica e fascinante. Quase sempre, ao buscarmos a nossa história e genealogia, encontramos uma vila ou cidade de Portugal, na qual nasceu um dos nossos remotos antepassados.
Neste sentido, é um orgulho receber a visita de nossos patrícios nesse simples blogger. E, portanto, os brasões aqui estampados relacionam-se aos homens do nosso passado brasileiro com origem nessas cidades, bem como homens e mulheres das mesmas localidades que acessaram o blogger. Muito obrigado aos nobres amigos das terras portuguesas.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Padre Reconhece Paternidade no Óbito

Fonte: Arquivo da Cúria Metropolitana de Aparecida - Livro de Óbitos da Matriz de Guaratinguetá

 TRANSCRIÇÃO

D. Anna Roza do Sacramento, solteira, branca, idade de 31 anos.

Aos trinta dias de dezembro de mil oitocentos e quarenta e dois nesta vila, com todos os sacramentos de idade de trinta e um anos de malina, faleceu da vida presente Dona Anna Roza do Sacramento, branca, natural desta vila, solteira, minha filha natural e de Dona Mariana Francisca Romeira: foi seu corpo envolto em hábito dos Padres de São Francisco, conduzida em caixão, sepultada ao pé do altar mor em campa dos irmãos do Santíssimo donde era irmã, acompanhada pelo Reverendo Francisco Marcondes de Siqueira e por todos os reverendos sacerdotes que se achavam nesta vila, da Capela de Nossa Senhora Apparecida, que todos lhe disseram missa de corpo presente, e se lhe cantou na rua cinco mementos com música, e também foi acompanhada pela Irmandade do Santíssimo Sacramento e de São Benedito, sua alma foi recomendada, do que para constar fiz este assento, que assinei. O Vigário Manuel da Costa Pinto.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Centenário do Gênio Mazzaropi

Não existe um ator que melhor expressou a nossa cultura regional do que Amácio Mazzaropi, o eterno Jeca inspirado em Monteiro Lobato.
Sua genialidade não está somente na brilhante carreira como ator e diretor de cinema, mas, sobretudo por sua erudição e talento em transformar ideias em elementos palpáveis do cotidiano. Como ninguém, ele trouxe o pensamento de épocas distintas para a linguagem do público e por isso sobrevive como um representante de uma classe em extinção: de homens astutos, sem preconceito e com uma identidade que transcendeu em vida sua origem italiana. Um verdadeiro cosmopolita, que aceitou e interagiu magnificamente com o povo brasileiro, com filósofos e com o homem simples do meio rural. O ator que pelos atos bradou “Viva o povo brasileiro”.
Prova disso, o famoso “Candinho”, uma síntese entre o homem de herança colonial, com sua sabedoria pela experiência de vida, e Voltaire, pela personagem homônima “Cândido”; a pureza no acreditar nas pessoas e de que na vida tudo acaba da melhor forma possível.
Mazzaropi equiparou-se com o grande mestre Monteiro Lobato, e foi além, ao elevar conceitos implícitos ao nosso viver, dando-lhe importância acima dos preconceitos. Um mestre que nos fez e faz raciocinar.
Nossa homenagem ao Centenário do seu nascimento, com sua imagem eterna, confirmando que sua sagacidade é para além dos séculos.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Apoio e Solidariedade - Revista de História

Externo e pontuo solidamente minha solidariedade e apoio ao editor Luciano Figueiredo e ao Conselho Editorial da Revista de História da Biblioteca Nacional diante da situação escabrosa que atualmente contaminou umas das mais brilhantes revistas da área histórica brasileira. E abomino as condições impostas por políticos que infelizmente infestam as grandes instituições culturais do país, seja pela ignorância em gerir equipamentos culturais, ou pela falta de formação, informação, espírito de equipe e visão. A sociedade exige de todos nós, profissionais da área, um posicionamento imediato, no sentido de apoiar aqueles que sempre lutaram pelo patrimônio brasileiro.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Uma obra de Paulo Pereira dos Reis

A série intitulada “Brasiliana”, publicada durante décadas pela Companhia Editora Nacional, foi baluarte na divulgação de estudos brasileiros, existindo entre as obras da coleção algumas raridades que jamais tiveram uma segunda edição. E o site Brasiliana Eletrônica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem se esforçado para disponibilizar para os internautas toda a coleção, contando atualmente com 119 obras disponíveis online (www.brasiliana.com.br ), nas áreas de formação histórica e social do Brasil, etnologia, folclore e brasilianistas, etc.
E dentre os mais de trezentos volumes publicados encontra-se a obra ensaística do historiador valeparaibano, Professor Paulo Pereira dos Reis, natural de Lorena e membro da Academia Paulista de História; que deixou um vasto repertório de publicações e inéditos sobre o Vale do Paraíba colonial.
Por essa obra, pouquíssima conhecida do público acadêmico e leigo, vê-se a importância e a seriedade do profissional que dedicou sua vida ao resgate da história, num tempo específico, pautada na verdade objetiva e na documentação inédita existente em vários arquivos do país. E que teve o reconhecimento além fronteiras por esse escrito intitulado: “O Colonialismo Português e a Conjuração Mineira”, volume 319, 1964.
O livro vem prefaciado por T.O. Marcondes de Sousa e apresentado por J.F. de Almeida Prado, (bibliófilo, historiador, jornalista e escritor paulista) com apêndice interessante sobre Tiradentes perante os historiadores, externando algumas opiniões colhidas pelo autor em inúmeras biografias, e uma carta de J.B. Mello Souza (Malba Tahan), com referências ao trabalho e os seus significados para os estudos históricos no que concerne a colonização portuguesa e as reações a ela adversas no século XVIII.
O autor parte do Mercantilismo europeu, explicando sua lógica e os interesses econômicos da burguesia no Renascimento e a busca de novos caminhos de enriquecimento em terras do Novo Mundo, passando pelas dificuldades de colonização do Brasil e o incipiente mercado de exploração do pau-brasil e o retorno governamental para as atividades agrárias. E dedica um capítulo especial do papel e sobreposição da Inglaterra sobre Portugal; bem como o período minerador no Brasil, no que concerne a espoliação exercida pela Coroa através dos regimes fiscais consolidados no século XVIII, culminando com a Inconfidência Mineira.
E por último, em especial, um capítulo interessante sobre a industrialização e a difusão da cultura no Brasil Colonial, colocando pontos específicos sobre as restrições impostas por Portugal na segunda metade do século XVIII ao comércio da colônia com outros centros importadores e que consideramos como importante item de pesquisa para o Vale do Paraíba, já que estudos nesse sentido são quase inexistentes, sobretudo nas suas consequências sobre a região.
Portanto, uma obra que merece uma reedição comentada e atualizada por especialistas da área de Brasil Colonial.  E que prova a urgente necessidade fazer um colóquio sobre sua contribuição para os estudos regionais e para a compreensão de suas ideias acerca da formação social do país pela ótica de estudos de casos e ensaios.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Ruth Guimarães – Roteiro de Vida

Nunca é demais se lembrar da querida escritora Ruth Guimarães, um símbolo da literatura brasileira pela originalidade e pela força de expressão. Um ícone cultural vivo que representa e resgatar os usos e costumes da região valeparaibana. E assim, é interessante ressaltar rapidamente um pouco de suas ideias, no sentido de chamar atenção sobre sua produção literária e sua contribuição para a história.
Numa publicação de março de 2008, da Revista Negras Palavras, edição nº 2, produzida pelo Museu Afro Brasil, a escritora explicita sua maneira peculiar de entender a literatura e como produz suas obras através de sua visão e experiência das coisas. Um jeito de Brasil interiorano, com refinado tom de especialização e inúmeras marcas de um passado que transcende ao pouco o nosso conhecimento sobre a região.
Chamam atenção no depoimento, dentro do projeto “Roteiros de Vida”, dois pontos importantes e intrinsecamente ligados com a história.

O primeiro deles sobre a língua portuguesa e o segundo sobre o seu posicionamento frente ao conjunto de sua obra. A autora é enfática ao alertar sobre a necessidade de aprender bem a língua pátria, recomendado aos novos escritores algumas atitudes fundamentais para o exercício da literatura. Diz Ruth: “se alguém vai escrever um livro, que leia os bons autores, que assista aos bons filmes, que converse com gente que sabe falar [...] emocionalmente a pessoa tem que estar apta”. Ou seja, é fundamental para aquele que se aventura nos mundos das letras conhecerem as diversas produções culturais da humanidade, como forma de conhecer as mais diversificadas linguagens. O português expresso e escrito corretamente é condição expressa para transmitir ideias compreensíveis para o público, através de uma linguagem fluída, independente do estilo.
Sobre a produção literária e sua relação com o público leitor e a educação no Brasil a escritora dá sua opinião, reverberando verdades incontestáveis: “nós brasileiros estudamos literatura de uma forma desorganizada; a gente ler o que quer .... os professores dão um texto aqui, outro ali, nada sistematizado, com um sentido e programação. Quando chegamos ao fim [...] temos uma formação mista; assim como somos um povo mestiço [...] a nossa literatura também é toda feita de pedaços de textos, de arrumações aqui e ali. Não há nada que nos torne inteiriços, inteiros.” E arremata “ como eu sou brasileira, nesse sentido de brasileiro todo um pouco para lá, um pouco para cá [...]” (p. 41)
E finaliza destacando a necessidade de uma literatura negra, chamando a atenção para a necessidade de que é preciso conhecer a raiz negra de onde viemos e que a história negra está por fazer, e que está pesquisando e tentando fazer um fabulário brasileiro, não somente entre negros, mas entre o povo (p. 42).
Sobre sua obra prima “Água Funda”, diz ser a obra o resultado dos acontecimentos na vida de cada um. E sublinha: “o que deu magia ao meu livro foi a minha atitude diante da vida. Isto é a minha magia” (p. 42). E a “ideia que eu tive [de] escrever de um jeito que os outros não estavam escrevendo”. O resultado segundo ela, um livro de “linguagem mais simples, mas sem perder a estrutura do portugues” (p. 43).
Somente pelas poucas ideias aqui destacadas se vê a profundidade de seu conhecimento; o seu discernimento e a sua conduta diante da vida e da literatura. Não é preciso dizer mais nada.

Referência: MUSEU AFRO BRASIL. Dois dedos de prosa. In: Negras Palavras, ed. 2, mar. 2008, p. 40-44.
Imagem: jornalolince.com.br (acessado em 03 de abril de 2012)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Profissões Mecânicas e Estratégia de Inserção Social no Brasil Colônia

Algumas profissões do passado tiveram sua importância, além do propósito estritamente financeiro, se considerar o contexto social mais amplo pela via das redes de sociabilidade existentes na sociedade colonial Brasileira.
A afirmação, a principio, origina-se da observação empírica durante inúmeras pesquisas em textos documentais do final do século XVIII e da primeira metade do XIX, a exemplo paradigma indiciário; o que suscita alguns comentários.
Na convivência diária de homens e mulheres da colônia existia um complexo sistema de redes de relacionamento e que transcendia a mera troca de favores e dependência social, política e econômica e que definia estratégias de sobrevivência dentro daquela sociedade marcada principalmente pela preocupação de manter, em escala macro, as diferenças entre os estratos sociais. E dessa forma os signos que permeavam as relações sociais ainda estão longe de serem compreendidos com maior profundidade.
O que se vê, pelos rastros e definições de parentesco, profissão e depoimentos nos processos cíveis, é que existia uma reciprocidade maior, que em alguns casos indica a inexistência da rigidez que a historiografia apurou haver entre os níveis sociais de relacionamento, e que solidificou a ideia de uma pirâmide social estanque, posto em evidência existir somente o binômio senhor e escravo sem levar em consideração uma maioria populacional que interagia de diversas formas na complexa sociedade colonial.
As fontes documentais indicam, pelo menos em grau de percepção, terem existido inúmeras estratégias, muitas delas pontuais, dependendo da natureza de cada conflito levado a juízo, o que insidia principalmente em tomadas de posturas entre grupos parentais, diferentemente da lógica de defesa de grupos familiares com consangüinidade mais evidente.
Nesse sentido, não haveria apenas uma mera proteção ou relacionamento passional e profissional estritos, notoriamente no que se refere às camadas pobres e sua simbiose com grupos que exerciam cargos da governança militar e administrativa.
O jogo de interesses entre as partes caracterizava-se pela via de mão dupla, dependendo de cada caso em menor ou maior grau na troca de privilégios. Porque, embora pudesse haver ascendência do grupo minoritário privilegiado sobre a maioria, não significava que não houvesse mínimas estratégias do minoritário ter à sua disposição elementos para manipular e garantir a necessária sobrevivência á guisa dos grupos mais abastados no poder, principalmente nas situações de conflitos entre homens do mesmo grupo, onde entrava em cena homens de pouca importância econômica, com a intenção de defender interesses daqueles que lhes serviriam de garantia no futuro, mesmo que significasse incorrer em erros ou dar falso testemunho sob juramento dos evangelhos.
E nesse aparente perfil indiciário, a estratégia da informação parece ter um significado e sentido mais amplo no bojo da convivência mutua entre os níveis de relacionamento, tornando-se, por assim dizer, em elemento privilegiado de controle social para sobrevivência e as profissões chamadas “mecânicas” seriam emblemáticas nesse contexto.
As designadas profissões mecânicas eram as exercidas pela camada pobre da comunidade, como o carpinteiro, o serralheiro, o ferreiro, o taberneiro, o seleiro, o arreador, entre outros. E suas atribuições públicas, ou seja, o trabalho que oferecia a outros, lhes davam a oportunidade do contato com as mais diferentes pessoas e, portanto, obter informações detalhadas, diversificadas e privilegiadas dos acontecimentos, mesmo que público e notório fosse. O local de trabalho dessas personagens obscuras seria ponto privilegiado de encontro social e político durante o século XVIII e XIX, a exemplo das farmácias e das missas nos finais de semana no inicio do século XX em várias cidades pelo interior do país.
O elemento confiança nesse sentido seria negociado em forma de troca de favores. O profissional mecânico teria sua recompensa e, por sua vez, os outros elementos poderiam contar com informações necessárias para vigiar, controlar e criar situações convenientes para cada situação. Mesmo que para o grupo de profissionais mecânicos não houvesse economicamente única e exclusiva dependência em relação aos grupos minoritários, pois o tipo de trabalho por eles exercido era estritamente indispensável a todos, embora os parcos ganhos ou mesmo a sua vinculação ao proprietário de rancho de tropas e tendas de ferraria, dos quais recebiam pelo trabalho.
A importância desses profissionais, além da utilidade pública, estaria no predomínio e no privilégio da informação, à qual era obtida na convivência do cotidiano através dos diálogos e contatos com grande parte da população, que lhe proporcionava conhecimento da vida de todos os moradores, com acesso à vida privada, as intrigas pessoais e familiares, os amores, a vida e a morte.
Em grande parte das contendas transformadas em processos judiciais vêem-se depoimentos de testemunhas, em parte oriundas desse círculo de profissionais de baixa renda. E a conclusão que preliminarmente se chega é que nesses termos o conhecimento adquirido no cotidiano por esses profissionais se traduzia, também, em forma de reconhecimento social, como detentor de “segredos de confessionário”. Informações essas que poderiam configurar em troca e negociação, até mesmo por motivos de suborno pelo controle social e poder, mas que não assegurava ao grupo minoritário ascensão social e privilégios sejam por intermédio de cargos militares e públicos ou por casamentos com as famílias importantes.
Naturalmente, que para se conhecer melhor como se davam tais relações é necessário um estudo sério de casos, avaliando cada contenda, o que as várias testemunhas disseram sobre fatos ocorridos, se houve coação, falsas declarações, entre outras variáveis.
Um indicio para pesquisa, utilizando os processos cíveis como fonte privilegiada e inédita.