quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Honoré de Balzac e o Vale do Paraíba

Em 18 de agosto de 1850 morria o escritor francês e imortal da literatura universal Honoré de Balzac. E para quem conhece parte de sua obra, não poderia deixar de lembrar a data e escrever algumas linhas sobre um gênio que ousou dedicar a sua vida para a literatura. Homem que sofreu atribulações no decorrer da vida e mesmo assim construiu uma obra gigantesca, incomparável e única.
Inúmeros foram os escritores e intelectuais que reconheceram ter aprendido muito mais sobre a história da França em seus livros do que em qualquer outra obra.
Balzac construiu por romances uma história da sociedade francesa do final do século XVIII e XIX, através de incontáveis personagens e temas, que ele próprio intitulou de “A Comédia Humana”. Um retrato social do país percorrendo principalmente pessoas socialmente bem colocadas, mas também anônimos e coadjuvantes, expressando ideias, ideais e psicologia. Parece não haver comparativos nesse campo e isso faz lembrar o quanto a literatura é importante para a história, por trazer no seu bojo a vida em seu cotidiano. Guardada as devidas proporções e não entrando em méritos de discussão de comparações pontuais sobre a questão narrativa ou as maneiras diferenciadas de se construir textos históricos e literários, o conjunto da obra de Balzac faz pensar sobre o elemento humano enquanto agente da história, podendo dele extrair incontáveis sugestões de pesquisa histórica para a região do Vale do Paraíba, seja em fontes oficiais ou na literatura, como, por exemplo, no último caso, Monteiro Lobato, Waldomiro Silveira, Cassiano Ricardo e, mesmo na música, como Dilermando Reis, Bonfiglio de Oliveira e tantos outros.
Todos trazem marcas da história, reflexos de pensamento de época, maneiras de agir e sentir, relacionamentos amorosos, conflitos cotidianos de vizinhos e outros acontecimentos, que muito significam para a construção histórica.
O caso do Vale do Paraíba, nesses aspectos, se constitui em riqueza ímpar, por sua antiguidade, cronologicamente do XVI ao XX, de personagens múltiplos, óbvios e esquecidos. Pautando em Balzac, por sua multiplicidade de homens e mulheres, vivendo à margem da história, surgem as perguntas, onde estarão os índios, com suas tabas e costumes?; o que seria o bandeirante valeparaibano?; qual seria o ideal de vida do sitiante, da prostituta, do seleiro, do carpinteiro? Como se dava na realidade o relacionamento entre eles? E o que dizer das mulheres solteiras com filhas, sendo de famílias conhecidas como tradicionais? Que atitudes pautava o senso comum diante de fatos escandalosos no seio das famílias? Existiriam rejeições, aceitações e acomodações? Hoje meu inimigo, amanhã, meu amigo, laços de parentesco ora dissociados, ora acoplados as conveniências de cada conflito. E a grande massa de agricultores, qual seria sua visão de mundo, mesmo sendo eles pertencentes ao quadro dos iletrados? E os operários, os fazendeiros falidos com famílias? Onde estará a grande massa da história no Vale do Paraíba?
Estão nos escritos particulares perdidos no baú das famílias, nos processos de crime, briga de terras, execuções de hipotecas, reclamações trabalhistas, na cultura oral não resgatada, enfim, em documentos que não pegamos. Neles, as vozes dos anônimos falam e deixa perceber o quanto do cotidiano do Vale ainda não se conhece.
Nos 160 anos da morte de Balzac, sua obra literária ensina ao historiador o olhar diferente, ousado, para buscar no conjunto as pequenas partes que compõe o significado das relações esquecidas. E nos diz que a história do Vale precisa de um novo pensamento e uma nova escrita.

2 comentários:

  1. Boa tarde, estamos fazendo uma matéria sobre o Vale Histórico e gostaríamos de mais informações. Você poderia entrar em contato conosco? (11) 4646-3447 Tatianne ou imprensa@ecopistas.com.br

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  2. Nossa, Joaquim.
    Parabéns!
    Adorei seu texto e convite com a obra de Balzac para redimensionarmos nosso olhar e enquadres. Nada mais justo do que gerar uma matéria e divulgação. Sucesso.
    Pode me ajudar a colocar o link de seu blog e outros no blog das crianças? Só consigo usar a ferramenta de lista de links. Como você posta o atalho como fez com o nosso?
    Obrigada pelo apoio mais uma vez.
    Abraço no coração,
    Roberta

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