São interessantes as lembranças que possuímos das histórias contadas por nossos país e avós. Muito mais ainda, são importantes, por proporcionarem curiosidade e possibilidade de pesquisa histórica nos documentos, como forma de conhecer o fato em si e as suas correlações com a época.
Sendo assim, para os vários casos que a memória registrou em flashes, podemos descobrir documentos que poderão servir de instrumento de averiguação e análise, contrapondo memória e história. Entre eles, séries documentais pouco utilizadas: processos crimes, processos do júri e processos cíveis. Principalmente os inquéritos policiais que registraram as várias faces de um mesmo acontecimento pela ótica de suas diversas testemunhas.
Seguindo tal raciocínio, é que relato, como simples ilustração, a memória sobre o acidente numa antiga linha de bondes e que foi contado por muitos e registrado nos documentos do judiciário.
Acidentes envolvendo veículos e pessoas não é um fato dos dias atuais, pois, com o advento dos meios de transportes movidos a motor ou energia, principalmente no inicio do século XX, sempre estiveram presentes no cotidiano das grandes e médias cidades do país, fossem eles de particulares ou de transporte público.
Em Guaratinguetá e Aparecida não foi diferente, principalmente por casos envolvendo os bondes que circulavam entre as duas cidades. Sendo um deles, objeto de lembrança específica de meus pais e que ocorreu em 1952 no município de Aparecida, quando, na oportunidade, um dos veículos saltou dos trilhos e chocou-se com uma casa, vitimando uma pessoa.
O acidente gerou inquérito policial na vizinha cidade de Guaratinguetá. E no processo, finalmente verifiquei corretamente como aconteceu o fato.
A linha de bondes ligando as duas cidades, naquele período, pouco antes do encerramento das suas atividades (1956), tinha sua garagem estabelecida em Guaratinguetá, na esquina das ruas Doutor Martiniano e Comendador João Galvão, saindo dali para o município vizinho, onde, segundo descreveu o saudoso poeta aparecidense Sebastião Papandréa, seguia "... pela Avenida Zezé Valadão, ganhando depois a Rua Barão do Rio Branco... subindo depois pela Rua Oliveira Braga (antiga Rua Nova), passando pela Travessa Dezessete de Dezembro (rua do antigo Cine Aparecida), para chegar ao ponto final, próximo à Farmácia Nossa Senhora Aparecida...". E retornava novamente pela Rua Oliveira Braga, refazendo o mesmo trajeto de volta para Guaratinguetá, onde na Rua Rio Branco "... exisitia uma espécie de micro-rotatória, onde os bondes cruzavam em bitolas diferentes".
Foi justamente, no cruzamento referido, ao final da descida da Rua Oliveira Braga, esquina com a Rua Barão do Rio Branco, que aconteceu, no dia 13 de janeiro de 1952, por volta das 22:30, um acidente com o Bonde nº 7, da marca “The J.O.Brill, Cos.”.
Segundo o apurado pelo inquérito policial, a causa foi a fratura e total ruptura do varão longitudinal esquerdo do bonde, que impediu a atuação da alavanca de freios, ocasionado assim a perda do sistema de segurança. O que fez com que o bonde, dirigido pelo motorneiro Cornélio de Abreu e por Francisco Moreira dos Santos (Cabo Chicão), descesse em desembalada pela Rua Oliveira Braga, indo chocar-se violentamente com uma banca de jornal, que ficou totalmente destruída, com o prédio nº 3 da Rua Barão do Rio Branco, de propriedade do espólio de Maria Cândida Borges, ocasionando sérios estragos na mesma e no Bar São Benedito localizado ao lado da referida casa, pertencente a Dona Kaio Fukuda, que entrou, logo após, com pedido de ressarcimento pelos estragos sofridos. O veículo sofreu danos na parte frontal, principalmente no painel de controle, na alavanca dos freios mecânicos, no tejadilho, na divisão da cabina, nos três primeiros bancos e nos balaustres esquerdos. Segundo o depoimento das testemunhas, havia, naquele horário, que era último, excesso de lotação, sendo uma das vítimas foi Vicente Ourique de Aguiar e outros.
Sendo assim, para os vários casos que a memória registrou em flashes, podemos descobrir documentos que poderão servir de instrumento de averiguação e análise, contrapondo memória e história. Entre eles, séries documentais pouco utilizadas: processos crimes, processos do júri e processos cíveis. Principalmente os inquéritos policiais que registraram as várias faces de um mesmo acontecimento pela ótica de suas diversas testemunhas.
Seguindo tal raciocínio, é que relato, como simples ilustração, a memória sobre o acidente numa antiga linha de bondes e que foi contado por muitos e registrado nos documentos do judiciário.
Acidentes envolvendo veículos e pessoas não é um fato dos dias atuais, pois, com o advento dos meios de transportes movidos a motor ou energia, principalmente no inicio do século XX, sempre estiveram presentes no cotidiano das grandes e médias cidades do país, fossem eles de particulares ou de transporte público.
Em Guaratinguetá e Aparecida não foi diferente, principalmente por casos envolvendo os bondes que circulavam entre as duas cidades. Sendo um deles, objeto de lembrança específica de meus pais e que ocorreu em 1952 no município de Aparecida, quando, na oportunidade, um dos veículos saltou dos trilhos e chocou-se com uma casa, vitimando uma pessoa.
O acidente gerou inquérito policial na vizinha cidade de Guaratinguetá. E no processo, finalmente verifiquei corretamente como aconteceu o fato.
A linha de bondes ligando as duas cidades, naquele período, pouco antes do encerramento das suas atividades (1956), tinha sua garagem estabelecida em Guaratinguetá, na esquina das ruas Doutor Martiniano e Comendador João Galvão, saindo dali para o município vizinho, onde, segundo descreveu o saudoso poeta aparecidense Sebastião Papandréa, seguia "... pela Avenida Zezé Valadão, ganhando depois a Rua Barão do Rio Branco... subindo depois pela Rua Oliveira Braga (antiga Rua Nova), passando pela Travessa Dezessete de Dezembro (rua do antigo Cine Aparecida), para chegar ao ponto final, próximo à Farmácia Nossa Senhora Aparecida...". E retornava novamente pela Rua Oliveira Braga, refazendo o mesmo trajeto de volta para Guaratinguetá, onde na Rua Rio Branco "... exisitia uma espécie de micro-rotatória, onde os bondes cruzavam em bitolas diferentes".
Foi justamente, no cruzamento referido, ao final da descida da Rua Oliveira Braga, esquina com a Rua Barão do Rio Branco, que aconteceu, no dia 13 de janeiro de 1952, por volta das 22:30, um acidente com o Bonde nº 7, da marca “The J.O.Brill, Cos.”.
Segundo o apurado pelo inquérito policial, a causa foi a fratura e total ruptura do varão longitudinal esquerdo do bonde, que impediu a atuação da alavanca de freios, ocasionado assim a perda do sistema de segurança. O que fez com que o bonde, dirigido pelo motorneiro Cornélio de Abreu e por Francisco Moreira dos Santos (Cabo Chicão), descesse em desembalada pela Rua Oliveira Braga, indo chocar-se violentamente com uma banca de jornal, que ficou totalmente destruída, com o prédio nº 3 da Rua Barão do Rio Branco, de propriedade do espólio de Maria Cândida Borges, ocasionando sérios estragos na mesma e no Bar São Benedito localizado ao lado da referida casa, pertencente a Dona Kaio Fukuda, que entrou, logo após, com pedido de ressarcimento pelos estragos sofridos. O veículo sofreu danos na parte frontal, principalmente no painel de controle, na alavanca dos freios mecânicos, no tejadilho, na divisão da cabina, nos três primeiros bancos e nos balaustres esquerdos. Segundo o depoimento das testemunhas, havia, naquele horário, que era último, excesso de lotação, sendo uma das vítimas foi Vicente Ourique de Aguiar e outros.
Imagem: Casa atingida pelo bonde. Processo Inquerito Policial - 1952 - Primeiro Ofício. Museu Frei Galvão/Arquivo Memória de Guaratinguetá.
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