A Igreja de Nossa Senhora
Aparecida representa um símbolo perpétuo da essência histórica do Brasil desde
os primórdios da colonização portuguesa. Representa as diversas fases do desenvolvimento
econômico, social e político do país. E acima de tudo denota a forte influência
do catolicismo no modo de pensar e agir da população, com as tonalidades do
sacro e do profano convivendo juntos numa dinâmica contínua de transformações.
Ela é o microcosmo profundo da história brasileira. Onde a vida se fez de maneira imperceptível
aos olhos dos historiadores e das pessoas comuns. Com conflitos, acomodações,
amores, paixões, discórdias e, acima tudo, partilha de inúmeros e diferentes
interesses.
Na primeira fase, de origem e
construção, ela já nasce representando certa inversão de motivos pelos quais
surgiu. Diferindo das demais e
tradicionais capelas espalhadas por todo o país, eretas a partir de um motivo
político específico: da criação jurídica e administrativa de vilas e cidades,
no qual o templo religioso desempenhava papel fundamental na congregação de
pessoas através do exercício e desenvolvimento do espírito cristão.
Sua construção derivou de um
plano místico e sagrado pré-existente, dado pela fé nas crenças e nos
ensinamentos da Igreja Romana estabelecida no Brasil. E disseminada por agentes
coloniais portugueses com intuito de evangelizar e catequizar a população
branca pobre, indígena e negra, dentro dos preceitos preconizados pelo Concílio
de Trento. Alimentado pela forte devoção nos santos e na Santíssima Trindade.
E, sobretudo pelo encontro de uma imagem (1717) atribuída como sendo da Virgem
Maria, Mãe de Deus, Nossa Senhora. Semelhante a tantos outros ícones existentes
na tradição artística nacional (terracota), em suas diversas designações (Nossa
Senhora do Bom Sucesso, Nossa Senhora da Conceição e outras).
Dá-se a partir do encontro da
imagem no fundo do rio e depois o seu resgate inusitado, e daí o milagre que se
constituiu: a pesca abundante de peixes, num ambiente colonial caracterizado
por extrema pobreza. E posteriormente pela devoção cada vez maior diante de
outros milagres acontecidos. Obrigando as autoridades civis e eclesiásticas a
constituir orago e altar próprios, sem embora constituir em núcleo populacional
independente da vila de Guaratinguetá, no qual o território estava incluído as
terras doadas para a edificação no final da metade do século XVIII.
E sua importância, nesse período,
se concretiza pelo aspecto religioso do sacrifício e da glorificação dos fiéis
peregrinos por sua localização no alto do morro, visível e alcançável. Em cujo
cume o homem comum e sofrido estava em plena comunhão com a “Corte do Céu” e
com seus santos e anjos. Alcançando graças, pagando promessas e renovando sua
crença na ajuda por uma vida melhor.
Bem como na semelhança que traz
com tantas outras histórias capelas. No
florescimento de um núcleo urbano rarefeito, em cujo entorno surgiram
construções irradiadoras de povoamento e constituição de outros bairros.
Desempenhando um papel de estruturação das relações social, econômico e
político, refletidas nos séculos seguintes com a simbiose entre o sacro e o
profano para dela se retirar proveito pela via da fé pura e simplista.
No decorrer dos outros séculos, a
situação mantêm-se em parte, mas tornar-se uma realidade bem mais do que
religiosa.
Houve o interesse da partilha
econômica que o fenômeno religioso e a peregrinação dos fiéis trouxeram para o
entorno e para as áreas situadas nas rotas de acesso ao templo.
Com a doação do patrimônio para a
constituição das “terras da Santa”, principalmente por Margarida Nunes Rangel
(morro dos Coqueiros e ruas Monte Carmelo e Oliveira Braga) e Lourenço de Sá
(nas cercanias da atual Rua Barão do Rio Branco) grande parte foi arrendada por
pequenos sitiantes e agricultores, mediante pagamentos dos foros (aluguel),
procedimento que durou por mais de cem anos.
Nesses locais foram construídas
casas de residência, pensões, casas de comércio, principalmente no grande praça
fronteira, o que movimentou certo comércio incipiente no local para atender o
número cada vez maior de fiéis, principalmente na Estrada Geral para São Paulo,
que foi rota de tropas, de viajantes e migrantes para outras partes do país. E
isso gerou choque de interesses entre a igreja, os aforados e proprietários de
terras limítrofes nas intenções de exploração. Sendo inúmeros os casos de briga
e inimizades.
Afora os interesses políticos
intervindo na administração dos bens da capela, entre o público e o privado,
graças, notadamente ao regime do Padroado instaurado no país ainda no período
colonial, quando não havia a separação entre a Igreja e o Estado no que toca a
administração.
E muito tempo depois outros
conflitos entre os seculares, os civis, e a Congregação Redentorista, que via
na administração algo de suspeito e não muito bem conduzido.
Mas isto é outra matéria a
respeito das influências da capela e igreja no morro das Pitas e no seu entorno
em toda a história.
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