Na virada do XIX para o XX, uma preocupação gerava boatos na
imprensa: a condição do maior representante da República não ter a sua
primeira-dama. E dentre as várias pilhérias humorísticas resultantes do tema em
torno de Rodrigues Alves estava a sua viuvez. Desde o inicio da década de 1890 o
Conselheiro do Império foi considerado um sem par. Notadamente nos dias que
antecederam ao Grande Baile da Posse, em 1902.
Como é de conhecimento geral, o Conselheiro Rodrigues Alves
perdeu sua esposa relativamente cedo, quando contava com apenas 43 anos de
idade, com alguns filhos em menoridade. E jamais casou novamente, preferindo
manter-se fiel a esposa e aos filhos. Quem sabe uma homenagem eterna para
aquela que parece ter sido o seu esteio doméstico e público.
No âmbito doméstico, Ana Guilhermina deu-lhe vários filhos e exerceu praticamente um papel quase que exclusivamente a sombra do marido, enquanto ascendia social e politicamente nas esferas local e regional. Exercendo cargos políticos como vereador, deputado provincial, deputado geral e presidente da Província de São Paulo. Principalmente durante os mandatos em São e no Rio de Janeiro. A esposa ficou em Guaratinguetá cuidando do lar e dos filhos. Excetuando, talvez, por não haver notícias a respeito, quando exerceu a presidência da Província. Como era usual, um costume social de época, deve ter sido a responsável pelo serviço interno do palácio do governo.
E no âmbito político, o casamento trouxe ao titular a
herança eleitoral do Visconde de Guaratinguetá, que enorme ascendência exerceu
em toda a região do Vale do Paraíba, notadamente nos municípios de Lorena,
Areias, São José do Barreiro, Silveiras e Bananal. Isto por ser chefe político
que comandava toda a Guarda Nacional, uma instituição criada em 1831 e que serviu
de privilegiado trampolim político, social e econômico para os grandes
cafeicultores em todo o decorrer do 2º Reinado.
Graças a uma ampla rede de sociabilidade e solidariedade, Rodrigues
Alves pode eleger-se para vários cargos e legislaturas por intermédio de um bem
formado eleitorado. Assim como um patrimônio financeiro considerável, notadamente
entre 1875 e 1877, quando montou, juntamente com a sogra, a empresa Viúva
Borges e Genros, cujo fim era o plantio e a comercialização do café das
diversas fazendas da família.
Ana Guilhermina faleceu em 28 de dezembro de 1891, quando o
marido ocupava pela primeira o Ministério da Fazenda. Não estando presente em
Guaratinguetá no período. E daí por diante cuidou da criação e educação dos
filhos. Sendo a menor com poucos meses de vida e o maior na idade de quatorze
anos (1). Durante a presidência (1902-1906) quem cuidou das fainas domésticas
do Catete foi a sua filha mais velha, alcunhada Catita, a qual devotou intenso amor
e cuidados para com o pai (2).
E quando eleito para o maior cargo, a situação de viuvez foi
evidenciada em alguns órgãos da imprensa carioca, que o chamava de viuvinho ou
de presidente sem par, como mostra a imagem acima nos dias que antecederam ao
baile da posse. Da autoria do caricaturista C. do Amaral (3).
Notas
(1) Seus filhos sempre estiveram ao seu lado. Os homens da
família foram no geral políticos e exerceram cargos públicos relevantes durante
a vida. FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Rodrigues Alves: Apogeu e Declínio do
Presidencialismo. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora/São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 1973.
(2) No Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, que guarda
uma parte das correspondências pessoais de Rodrigues Alves, encontram-se
inúmeras cartas do pai para a filha e vice-versa. E que foram gentilmente
resgatadas por Afonso Arinos de Melo Franco (casado com uma neta do Conselheiro
Presidente) após o falecimento de Catita. Que recomendou que com ela fossem
sepultadas (Depoimento de Afonso Arinos na sua obra sobre o Rodrigues Alves).
(3) Crispim do Amaral – Pernambucano nascido em 1875 e
falecido em 1922, que chegou ao Rio de Janeiro no mesmo ano da posse de
Rodrigues Alves na presidência da República. Colaborou na “Revista da Semana” e
no “Jornal do Brasil”.
Imagem: Revista “O Malho”. Acervo Digital da Biblioteca
Nacional.
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