sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Hábito de Colecionar Selos – Um Resgate Histórico Necessário

No momento estou feliz com o eterno retorno aos escritos de Brito Broca; não somente por sua linguagem simples e clara, mas pela erudição que irradia ao leitor como se estivesse redescobrindo o mundo. No intervalo que faço, deixando à margem outras leituras, o legado cinqüentenário de Brito Broca torna-se por um tempo o meu livro de cabeceira. Estou relendo “Papéis de Alceste” e entre tantas surpresas a cada regresso ao mundo do autor e as afinidades as quais também me identifico deparei-me com o texto “Coleções de Selos” (1991:101-102). O que inspirou a tecer alguns comentários a respeito por dois bons motivos. O primeiro, porque o blog, desde o inicio, divulga algumas imagens de selos como forma de difundir a existência desses como fonte documental para a história e, ao mesmo tempo, para despertar curiosidade por sua qualidade enquanto expressão de arte (são lindas as estampas) originária de diversos artistas brasileiros. E o segundo, porque o raciocínio desenvolvido pelo autor durante o texto continua atual ao comentar o abandono do habito de colecionar selos como fonte inspiradora para aprofundar conhecimentos, seja ele subjetivo ou não. Por aquele tempo, e isso há mais de cinquenta anos, lamentava o escritor que já caía em esquecimento o ato de admirar e colecionar selos e outras tantas modalidades de produtos comerciais que, a nosso ver, unia, outrora, amplamente o sentido do consumo com a ideia de cultura, educação e paixão mediante a produção capitalista de grande alcance e responsabilidade social, com resultados que memorialisticamente o autor exemplifica, como por exemplo, a quantidade de vezes que recorreu aos compêndios de geografia e história para melhor entender a imagem que viu estampada nos selos. E tal processo de abandono continua inalterado no presente e quem sabe em perspectiva mais acentuada, a ponto de ser considerado mais ainda, um produto de elites, inacessível, é claro, por seu preço abusivo. O que faz pensar na necessidade de torná-lo popular, com preço reduzido e direcionado para o público escolar, ou seja, desenvolver projetos de grande alcance onde o selo pudesse ser regularmente utilizado e, ao mesmo tempo, como de fato um recurso didático nas escolas. Lembro perfeitamente que passei, assim como autor, pela fase áurea do colecionismo, e naquela época aprendi a desenvolver o senso estético que o mesmo alude em suas linhas e ter descoberto a minha paixão e vocação profissional através das inúmeras temáticas de cada selo. Hoje, com as novas tecnologias e o acirramento dos temas e lançamentos sigilográficos, deve ser desenvolvido mecanismos para uma cultura criativa que possa estimular a prática do aprendizado pela filatelia. É uma questão de começar uma ação educativa duradora para mais de uma geração, com inclusão social ampla a partir da família e da casa onde se vive. Por outro lado, como fonte histórica, no rastro de leituras analíticas visuais como a fotografia antiga, o selo pode nos levar a pensar o tempo em que foram lançados e o por que; embora saibamos que no Brasil uma das premissas ainda seja o caráter comemorativo do tema e a sua cronologia. Um exemplo neste sentido, tanto para escolas como para museus, é a clássica exposição de selos, mas com a diferença de proporcionar, por etapas, uma leitura atenta e mais participativa através da observação direta e releitura dos dados por parte dos alunos ou visitantes em geral. Na primeira etapa pede-se ao observador que escolha um selo específico e dele faça uma leitura própria, o que permitirá observações diversificadas que servirá para a segunda etapa do processo que será a releitura do tema, em palavras ou desenhos, onde descreverá, também, como pensou sua outra visão e ideia acerca do assunto, travando assim, um diálogo entre o selo e o observador. Em outra variante pedagógica, pré-elaborada conceitualmente por diversos profissionais, coloca-se em prática a estruturação de equipes, que desperta a consciência de participação coletiva e colaborativa. Todos, em comum acordo, escolhem e analisam um determinado selo, sendo que alguns ficam responsáveis pela redação das impressões do grupo, outros pelo desenho e outros pela leitura dos resultados, reconhecendo, para tanto, a aptidão de cada um. Nesse caso, haveria a disponibilidade de informações adicionais como consulta ao professor e aos livros de referência, se houver uma biblioteca disponível ou livros pré-selecionados. É claro que para cada público deve ser desenvolvido um método e ações diferentes. Aí valerá o esforço criativo do professor e dos profissionais envolvidos. Vale dizer que se pode processar uma pesquisa anterior dos temas filatélicos, desde que seja criado um aparato técnico de apoio discutido por profissionais, utilizando-se das bibliotecas (o que estimulará o hábito de leitura) da escola e de outras instituições. E, a partir daí criar projetos incentivados de maior envergadura, com a participação de alunos e de membros da comunidade, onde a escola ficaria responsável pela transformação dos resultados em instrumentos reais, como os selos personalizados oferecidos pelos Correios. Valoriza o selo, valoriza os temas brasileiros e reitera ações sociais combinadas e diversificadas. E muito mais.


Referências

BROCA, José Brito (coordenação de Alexandre Eulálio). Papéis de Alceste. Campinas:Editora da Unicamp, 1991. (Coleção Repertórios).

Um comentário:

  1. Mestre, estou precisando falar com o senhor...vamos fazer a nona semana dos museus em lorena....e gostaria de ver se já temos uma resposta positiva do palestrantes para o simpósio.

    Abraços....
    O BLOG está SHOW....

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