quinta-feira, 3 de março de 2011

Polêmica na Casa de Rui Barbosa

O Brasil está como sempre com seu revestimento de permanência e disfarce de ruptura. O que faz pensar no caráter pragmático dos acontecimentos “originais” sem nenhum resultado profundo.
Sob o manto de ideologias questionáveis e anacrônicas, o país vem escamoteando e relegando problemas sérios nas áreas da educação e da cultura, preocupando-se com projetos aparentes, destituídos de substância e continuidade, fruto de uma estilizada reedição do populismo da primeira metade do século XX, onde a tutela do Estado concretiza ações pelas quais as soluções não atingem a democracia na sua principal acepção: o governo de um povo que forma a sua consciência na possibilidade de oportunidades igualitárias ao nível de acesso a todos os instrumentais do conhecimento humano; não apenas pelo repertório político arcaico, onde as discussões são inócuas e inteligíveis.
Nesse sentido, coadunamos com as vozes discordantes a respeito da polêmica envolvendo o futuro dos trabalhos e dos projetos culturais da Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro e que culminou, felizmente com a queda daquele que não chegou assumir.
A posição do ex-futuro diretor daquela casa, o sociólogo Emir Sader, é o espelho das afirmações acima expostas e mostra de maneira contundente o quanto a política pela política, sem comprometimento e conhecimento, pode arrasar continuidades quando demonstrada no âmago das instituições colocadas sob o crivo de homens despreparados que procuram tão somente servir de instrumento para demagogias governamentais de interesses múltiplos, fundamentalmente eleitorais a serviço de grupos políticos que visam o poder.
Transformar uma instituição com caráter definido e postura de ação substancial, pautada em longo prazo, é colocar em descrédito o trabalho de um número infinito de profissionais das múltiplas áreas do conhecimento lá alocados. É desconsiderar a seriedade dos trabalhos, sobretudo os qualificantes deles gerados. O que demonstra uma total falta de conhecimento do trabalho da instituição, ou algo de dissimulação para fazer dela um trampolim para apadrinhados relegados ao segundo plano, como prêmio de consolação.
Além de tudo, demonstra a total incompetência para reconhecer o valor da pesquisa cientifica nas sociedades modernas, principalmente nos diversos ramos das ciências humanas, cujo estopo é a formação social e cultural do individuo.
Abrir a casa para discussões e debates pertinentes sobre temas fundamentais para a viabilização de um país melhor é obvio e importante, mas desde que instituídos como elementos participes de um conjunto amplo de variáveis, onde conceitos ideológicos e partidários se mostrem de maneira plural e não apenas como conceito de perpetuação do poder. Não há porque personalizar a instituição, pois antes de tudo possui uma identidade e uma herança histórica que tem contribuindo para entender o espectro social, político e econômico da nação, como poucas instituições têm realizado.
A política de arranjo, descrição e divulgação dos acervos museológico e arquivistico, que conheço em parte, tem contribuído para o desenvolvimento de trabalhos que contam com a com a participação popular.
E, mesmo que a vida intelectual tenha se especializado, como disse o sociólogo, existe nela um sentido de objetivos e olhares multidisciplinares, permeados nos diversos profissionais que ali estudam e pesquisam e, portanto, não incompatível com a inserção de outros paradigmas de trabalho.
Grandes temas nacionais entram como peça complementar do quadro de atividades, mas nunca como um substitutivo. Ademais, o encetamento de temas gerais corre o risco de cair no vazio e mais uma vez encobrir velhas feridas, tratando-as com um público que infelizmente não possui instrumentalização suficiente para enxergar a estrutura e a envergadura de certos temas. Somos ainda um país de formação educacional falha e inconsistente.
A Casa de Rui já é um espaço público por excelência, o que, aliás, inexiste no popularismo lulista, do tipo comunista sem causa. Um espaço de memórias diversificadas e multidisciplinar.
Esperamos que, com a queda, ou possível demissão de Emir Sader, não venha repetir a escolha de pessoas sem conhecimento. Agora é esperar as políticas do Ministério da Cultura (leia-se de Ana de Hollanda), sem as desculpas de incompatibilidades com possíveis políticas.
Está registrado o nosso protesto e a solidariedade aos que, por anos a fio, construíram e constroem o edifício iniciado por Rui Barbosa.

Um comentário:

  1. oi.. adorei seu blogger, visite o da minha tia http://wwwhistorianasveias.blogspot.com
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