segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Uma Máquina para o Café

A mecanização industrializada da agricultura cafeeira no Vale do Paraíba rural paulista não foi tônica ampla e irrestrita durante a predominância da mão de obra escrava, mesmo depois da proibição do tráfico negreiro. Foi utilizada em pequena escala. 
A maioria dos grandes cafeicultores resistiram em adquirir algumas novidades importadas. Por uma série de razões; entre elas, o investimento dos lucros em outros negócios tidos como rentáveis, a terra exaurida, os altos preços da mecanização para os pequenos plantadores e a insistência em acreditar na continuidade do modelo escravista. O endividamento pelo mordaz crédito financeiro, principalmente de alguns agricultores com bancos e casas comissárias da praça do Rio de Janeiro ou com grandes prestamistas da região (1). As dificuldades e a complexidade do transporte (a ferrovia não passou pelas grandes vilas produtoras de café: Bananal, São José do Barreiro e Areias). E ainda a opção de buscar terras promissoras no Oeste Paulista, como fizeram alguns fazendeiros das regiões de Areias e São José do Barreiro. Mediante capitais ainda disponíveis, visão ampla de negócios, disponibilidade imigratória aos poucos utilizada e solos férteis em abundância a preços acessíveis a partir da década de 1880 (inicio do grande surto cafeeiro que viria). 
Para aqueles que permaneceram, contudo conseguiram manter a propriedade em funcionamento e mantiveram-se fiéis ao sistema manual de colheita e beneficiamento do produto: pilar, descascar, separar, polir, ensacar e pesar. E uma outra mínima parte trouxe para suas fazendas as inovações tecnológicas surgidas no final dos anos 1850, ainda imersos na ilusão de uma grande produção de melhor qualidade para o mercado, como as máquinas Lidgerwood, com fábrica instalada na cidade de Campinas (1859). Ou outras, como a anunciada no Jornal do Comércio do Rio de Janeiro em 1869, de origem americana (desenho ilustrativo acima), comercializada por uma casa de comércio da mesma cidade; adquirida por apenas três fazendeiros da região naquela data:  Comendador Manuel Antônio Ayrosa (Aparecida), o Comendador Laurindo José de Carvalho Penna (Areias), e o Padre Antônio Luiz dos Reis França (Guaratinguetá). 

Notas 

(1) Em Guaratinguetá, encontramos, entre as décadas de 1860 e 1890, diversos processos executivos hipotecários dessa natureza cujos executados não cumpriam os prazos de pagamentos e nem os juros correspondentes. As dividas com instituições comerciais, em sua maioria, estavam ligados ao Banco Rural e Hipotecário e ao Banco do Brasil. E de prestamistas a homens com negócios diversificadamente ecnomico-financeiros na própria cidade ou cidades vizinhas. Nesse período o exercício e a influência do comissário (atravessador) não era de todo fluente, sendo que os próprios fazendeiros recorriam por si ao velho esquema de endividamento direto e pessoal utilizado no comércio desde o período colonial: as eternas e constantes dívidas ativas e passivas que eram contabilizadas, mas nem sempre pagas, nos inventários dos séculos XVI a XIX. Tais dividas geralmente eram direcionadas para investimento na produção de novos cafeeiros, muitas das vezes já comprometidos com os credores. 

Referências

BIBLIOTECA NACIONAL. Jornal do Comércio.

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